Frequentemente citado como o “professor dos professores”, Guest tem uma trajetória artística de igual relevo, possuindo em seu currículo colaborações para cinema, teatro e para grandes nomes da MPB, seja na produção de álbuns quanto em espetáculos ao vivo. A faceta autoral do músico, no entanto, ainda é pouco conhecida frente aos seus trabalhos como educador e arranjador. Foi com o objetivo de expandir o alcance de sua obra autoral que o violonista e pesquisador Luciano Lima resolveu produzir Ian Guest – Música para Violão, songbook em formato digital (PDF), lançado com exclusividade pela Loja do Violão Brasileiro.
O livro reúne peças violonísticas entre originais, tanto nos formatos solo como em duo, assim como transcrições e arranjos extraídos da obra do professor. O lançamento é feito em parceria com a editora do Acervo Violão Brasileiro. De fato, mesmo Ian Guest tendo um songbook dedicado às suas composições, dentro do projeto do saudoso(1950-2003) e lançado em 2019 pela editora Vitale, além de ter publicadas peças e estudos para piano, faltava uma iniciativa como esta.
O estalo inicial para produzir este trabalho surgiu quando Luciano dava sequência às pesquisas sobre a obra violonística de Radamés Gnattali (1906-1988). “Encontrei importantes documentos e partituras no acervo do violonista Waltel Branco (1929-2018), uma figura central na história da música brasileira e que fazia parte do círculo de Gnattali. O violonista Francisco Okabe, que havia realizado seu mestrado sobre Waltel, gentilmente me enviou alguns materiais que havia digitalizado e, dentre as partituras, constavam duas peças para violão solo de Ian Guest, Águas paradas, dedicada ao próprio Waltel, e Passacaglia, dedicada a João Pedro Borges”, revela Lima.
Foram cerca de 10 anos desde o último contato com Ian Guest para que Luciano o procurasse manifestando interesse em pesquisar sua obra violonística. “Ele ficou muito entusiasmado e mostrou interesse não só em editar esses manuscritos, mas também em passar outras composições para o ‘violonês’, termo inventado por ele que achei perfeito”, diz Lima, que assumiu a tarefa de verter para o instrumento peças originalmente feitas para piano assim como melodias cifradas, as quais dividem espaço no songbook com as obras originais para violão.
Nessa última categoria, destaca-se a já citada Passacaglia, obra solo datada de 1973, mesma época em que foi escrita Corrente, peça para duo também dedicada a João Pedro Borges juntamente com Marcos Alan (1956-1973), talento do violão clássico nacional falecido precocemente. “Guest demonstra o conhecimento da escrita violonística, o que não causa estranheza para quem conhece seus dotes extraordinários de compositor e arranjador”, afirma Borges, atualmente professor da Escola de Música do Estado do Maranhão e amigo de Guest há quase cinco décadas.
O grosso do songbook é formado por transcrições de obras feitas para piano e arranjos de melodias cifradas, trabalho feito por Lima sob a supervisão do compositor. “As adaptações para o violão foram feitas entre março e julho de 2021. Desde o início mantivemos contato quase que diariamente, editando e revisando minuciosamente as partituras, somando mais de 330 e-mails trocados”, revela o violonista.
No caso das transcrições solo, destacam-se músicas das Oito peças breves para piano, de 1972, incluindo Águas paradas, que apesar de ter versão solo escrita pelo próprio compositor, foi revisada por Lima a partir da versão pianística, sendo transposta um trítono acima. Quatro das Oito peças formam a Suíte para 12 cordas para duo de violões, obra camerística que teve uma versão realizada por Guest e apresentada pela Camerata Carioca sob o título Suíte para 31 cordas. “A revisão das peças originais para violão incluiu pequenos ajustes em determinadas passagens, como mudanças de oitava ou redistribuição de notas em acordes, buscando valorizar a ressonância do instrumento e contribuir para um resultado mais idiomático”, conta Lima.
Já as peças adaptadas a partir de melodias cifradas ofereceram a Luciano maior liberdade criativa dentro do conceito de arranjo propriamente dito. “Algumas das peças concebidas como melodias cifradas também possuem uma versão publicada como 16 Estudos para piano. Por apresentarem mais elementos e uma textura voltada para uma realização solo, esta foi a fonte utilizada”, revela.
“Ian é muito criterioso, atento a cada detalhe, e suas sugestões sempre tiveram muita propriedade, valorizando ainda mais o resultado ao violão”, analisa. Podemos dizer que o material apresentado no songbook, nesses termos, foi aprovado pelo compositor. “Entretanto, dificilmente poderíamos chamar estas versões como as ‘definitivas’ para violão. Ao invés disso, faz mais sentido encará-las como uma das muitas possibilidades que a música de Ian Guest permite”, conclui Lima.
Sobre Ian Guest
Húngaro radicado no Brasil desde 1957, Ian Guest é bacharel em composição pela UFRJ e Berklee College of Music, nos Estados Unidos. Compositor, diretor, arranjador em discos, teatro, cinema e publicidade. Precursor, no Brasil, da didática aplicada à música popular. Introdutor do Método Kodály de musicalização no Brasil, iniciativa pela qual foi indicado para a Medalha de Ouro ao Mérito do Governo da Hungria. Indicado para o título de Doutor Honoris Causa na UFSJ e de Notório Saber na UNIRIO.
Autor de livros/CDs publicados pela editora Lumiar: Arranjo, método prático (em 3 volu- mes); Harmonia, método prático (em 3 volumes); 16 Estudos, escritos e gravados, para piano; e pela Irmãos Vitale: Songbook Ian Guest. Consultor das editoras Lumiar (Almir Chediak) e Terra dos Pássaros (Toninho Horta).
Em 2021, foi lançado seu primeiro CD autoral, HEMATHACAMA – Aventura de Lápis e Borracha – música popular camerística. Protagonista do filme documentário de longa-me- tragem O Imperfeccionista (2019), dirigido e produzido por Marcello Nicolato pela Macaca Filmes.
Estudaram com Ian Guest: Raphael Rabello, Hélio Delmiro, Leila Pinheiro, Zélia Duncan, Almir Chediak, Maurício Einhorn, Vittor Santos, Joel Nascimento, Luiz Otávio Braga, Itamar Assiere, Nelson Faria, Luiz Carlos Vinhas, Maurício Carrilho, Henrique Cazes, Jota Morais, Adamo Prince, Maurício Tapajós, Mário Adnet e vários outros.
Sobre Luciano Lima
O violonista Luciano Lima tem atuado tanto solo como em formações camerísticas, com apresentações no Canadá, Estados Unidos, Itália e Brasil. Luciano é doutor (D. Mus.) pela Université de Montréal (Canadá), mestre pela McGill University (Canadá) e bacharel em violão pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Desenvolve também atividades como arranjador e compositor, dedicando-se principalmente à produção para violão, tendo suas obras publicadas pela editora canadense Les Productions d’OZ.
Como pesquisador, defendeu sua tese de doutorado sobre os quatro concertos para violão solo de Radamés Gnattali, publicando artigos e proferindo palestras em eventos aca- dêmicos sobre a obra deste compositor. Dando continuidade à mesma linha de pesquisa, lançou em 2017 o livro Radamés Gnattali e o Violão de Concerto – uma revisão da obra para violão solo com base nos manuscritos (UNESPAR). Luciano publicou também o Guia Prático para Violão Solo com transcrições para violão do Guia Prático de Villa-Lobos (Academia Brasileira de Música) e transcrições de 15 peças de Cláudio Santoro para violão (Savart).
Atuou como professor na Universidade Federal de Pelotas, no Conservatório de MPB de Curitiba e também em festivais como a Oficina de Música de Curitiba, o Festival de Música de Londrina e o Simpósio Acadêmico de Violão da EMBAP. Atualmente é professor da UNESPAR no Campus de Curitiba II e no Programa de Pós-Graduação em Música da UNESPAR.
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