“Este trabalho é simplesmente a continuação do primeiro volume do livro “Técnica para Violão“ (clássico, flamenco e popular). Em trinta anos de vivência com esse instrumento maravilhoso, percebo como minha formação clássica me proporcionou uma base sólida para poder desbravar novos caminhos no violão flamenco e popular brasileiro. Essas três escolas violonísticas – clássica, flamenca e brasileira – são com certeza, pilares fundamentais no universo do repertório para violão. Recentemente também a escola flamenca e a brasileira estão cada vez mais criando e disponibilizando uma didática que a escola clássica já explora há alguns séculos. Entender e estudar as várias faces do violão não somente enriquece musicalmente e tecnicamente, mas é sinal de grande amor por esse amigo inseparável e também de humildade em sempre se dispor a começar do zero.
Depois de muitos anos de estudo acadêmico no violão clássico, ao me aproximar do violão flamenco e brasileiro, lembro da absoluta ignorância em que me encontrava, tanto no conhecimento teórico quanto no técnico-prático. Tive que recomeçar do zero.
Mergulhar nessa mistura e ‘contaminação positiva’ abre horizontes. Todos podemos encontrar e criar nossa identidade. Todos podemos ter originalidade e um trabalho diferencial. São muitos ritmos, técnicas, estilos e linguagem que podemos conectar.
Este livro nasceu a partir da necessidade de se produzir uma coletânea de exercícios, estudos e peças, que representam o percurso técnico, compositivo e também ‘musical’, que desenvolvi nesses anos mais recentes. Incentivado por várias solicitações de amigos – alunos e apreciadores do meu trabalho, que procuravam partituras de minhas composições, estudos ou simplesmente exercícios- resolvi elaborar este material. Alerto, no entanto, que este trabalho não tem a pretensão de ser compreendido como um método, mas simplesmente como uma coletânea.
Desse modo, este projeto resultou em um livro técnico, mesmo sem minha intenção de criar um método de técnica. Trata-se de uma seleção do material, que mais gosto de tocar, para manter a minha técnica treinada.
Especificamente neste 2° volume mantive o padrão do volume 1 : 10 exercícios, 10 estudos e 10 composições. É o percurso de um estudante: treinar bem a mecânica e a técnica para deixar falar melhor a musicalidade.
Os exercícios dão uma particular atenção à mecânica dos movimentos sem uma finalidade musical. São exercícios que tornam-se uma eficaz academia para o fortalecimento dos dedos de ambas as mãos.
Já os estudos (ou microestudos) abrangem uma visão panorâmica com referência às técnicas do pulgar, alzapúa, arpejo, picado e tremolo, campanellas, combinação de dedos da mão direita e das técnicas em geral.
Na fase de criação, procurei, quase sempre, compor exercícios e estudos o mais ‘musicais’ possíveis, exceto alguns que obviamente não tem nenhum objetivo estético, mas sim didático.
Vale ressaltar um conteúdo especial deste livro que é a técnica de mão direita que utiliza 3 dedos: existe pouco material sobre isso ou quase nada. Uma técnica para desenvolver as escalas economizando e distribuindo os movimento em três dedos e portanto adicionando o dedo anelar à tradicional técnica do i-m (ou m-i). É uma técnica um pouco ‘perigosa’ pois oferece pouca satisfação no começo além do risco de se aproximar da maneira errada a exercícios repetitivos que não dão resultado. Por isso articulei exercícios e estudos com troca de cordas, ascendentes e descendentes, e as sequências a-m-i, m-i-a, i-a-m distribuídas em células rítmico- melodicas.
Sobre as peças, escolhi entre algumas de minhas composições, as quais verifiquei exigir um nível técnico mais avançado. Às vezes, especialmente entre as peças de sabor mais brasileiro e flamenco, como por exemplo o ‘La tarde no Campo’, a partitura não corresponde exatamente ao swing da condução executiva, a qual é influenciada por algo que o músico sente e vive, naquele exato momento em que está tocando. Mas isso se trata de um fator extremamente positivo, e não negativo, como talvez alguns poderiam pensar. Algumas raras notas para a versão de seis cordas das peças são diferentes da versão para oito cordas, simplesmente por uma questão de adaptação, nada que interfira na substância da melodia ou harmonia. Quero ressaltar que neste trabalho especifico, estou particularmente satisfeito com a adaptação para seis cordas de algumas peças que nasceram no violão de oito cordas.
O livro também apresenta partitura, tablatura e digitação, para ambas as mãos, com particular cuidado com os trechos mais emblemáticos e característicos do desenvolvimento técnico e nas partes mais simples para que o estudante tenha uma referência mínima.
Esse livro, acompanhado de um DVD, se destina, em primeiro lugar, a mim, pois sou aluno praticante deste material, uma vez que reconheço o quanto é sempre necessário estudar um conteúdo tão avançado para aprimorar a técnica.
Esta coletânea é também dirigida a todos os estudantes, amigos e colegas violonistas, os quais querem desenvolver e aperfeiçoar sua própria habilidade técnica ou que apenas gostariam de tocar algumas das minhas composições. Compartilho com você, caro leitor, o sonho que um dia o violão de 8 cordas possa tornar-se tão difuso e popular, quanto o de seis ou de sete cordas no Brasil. Espero que este livro represente um incentivo para perceber como duas cordas a mais, nos bordões, constituem um grande incremento no violão tanto na técnica, na composição quanto na qualidade estético-musical.
Enfim, aconselho ao leitor de estudar este material com a utilização rigorosa e gradual do metrônomo, deixando sempre a mão direita totalmente relaxada e, ao mesmo tempo, alternando a tocar forte e depois com mais leveza com os justos tempos de descanso.
Afinação Padrão: 1a MI, 2a SI, 3a SOL, 4a RE, 5a LA, 6a MI, 7a SI, 8a SOL; quando diferente sempre é anotado no começo da partitura.”
(Diego Salvetti)
Nascido em Bergamo (Italia) em 1982, Diego Salvetti desenvolveu ouvido musical desde a tenra idade, escutando os muitos gêneros tocados pelos dois irmãos músicos e pelo pai. Da música clássica ao jazz e o flamenco. Começou a estudar teoria musical sob orientação do pai e, depois de um breve tempo, iniciou os estudos do violão clássico com o maestro e compositor italiano Giovanni Podera.
Com apenas 11 anos, venceu o 1° Premio Nacional do 13° Concurso de Violão em Genova “Pasquale Taraffo” na categoria juvenil. Sucessivamente iniciou os estudos com o Maestro Giorgio Oltremari no Conservatorio de Bergamo “G. Donizetti” e depois de 10 anos de estudo conseguiu brilhantemente o mestrado em violão erudito com as máximas notas. No ano de 2000 ganhou a renomada bolsa de estudos do 14° Concurso da Associação Bergamasca “Amici di Lino Barbisotti”.
Na Italia, Diego participou de numerosos concursos nacionais de violão erudito obtendo ótimos consensos e resultados como um dos finalistas. Estudou violão flamenco com um dos melhores flamenquistas do panorama mundial, Livio Gianola. Ambos são os únicos violonistas de flamenco tocando com violão de 8 cordas. Hoje, Diego Salvetti desenvolve trabalhos como violonista, compositor e professor também ministrando workshop e masterclass em todo o Brasil, além de ser professor do Conservatório de Tatuí, no Interior de São Paulo.
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