O violonista e compositor mineiro José Augusto de Freitas (1909-1990) é um desses personagens importantes da nossa história, mas que morreram esquecidos. Apesar do sucesso que teve entre os anos 1920 e 1940, incluindo a obra “Soluções”, imortalizada por Dilermando Reis, e de ter sido professor de nomes como Jodacil Damaceno, Freitas tem um legado bem negligenciado pela história da música brasileira.
Mas agora uma parte desse apagão cultural está sendo reparada com o lançamento deste histórico álbum de partituras. Além da revisão e dedilhado das partituras, Celso Faria faz uma breve e valiosa análise das obras, enquanto Jorge Mello escreve a biografia resumida do compositor. Há também a rica apresentação assinada por Fabio Zanon.
O projeto é da editora Legato, com apoio cultural do Acervo Violão Brasileiro. Garanta seu exemplar porque o livro esgota rapidinho. Temos a exclusividade de vender os primeiros exemplares deste livro.
Feito em tiragem bem limitada e sem patrocínio algum, o livro tem 48 páginas e reúne 10 partituras que estavam completamente esquecidas e engavetadas, aos cuidados da família de Freitas. Entre elas Prelúdio, Fantasia, Allegro Sinfônico, Cachorro Quente, Saudade, Lamentos d’alma e Dança Árabe.
Apenas três músicas já haviam sido publicadas anteriormente, incluindo a já citada Gavota, Eurídice e Soluços (considerado o único sucesso de Freitas, por ter sido gravada por Dilermando Reis). Há ainda duas partituras como bônus: a valsa Prantos, escrita por Edmar Fenício em homenagem a José Augusto de Freitas, e a Seresta nº 3, composta por Sylvio Serpa Costa (ex-aluno e parceiro musical de Freitas).
“O trabalho de Jorge Mello e Celso Faria sobre José Augusto de Freitas, além de lançar finalmente uma luz sobre o excelente violonista, compositor e professor, nos traz o retrato de uma época, de um cenário artístico com sua potência, suas virtudes e seus vícios. Este trabalho minucioso de pesquisa e interpretação das fontes primárias contribui para dissipar percepções errôneas, tingidas pelo disse-me-disse”, afirma Fabio Zanon.
Zanon também destaca no texto que Freitas operou num ambiente fortemente informado pela diferença de classe, em que um concerto que incluísse exclusivamente obras clássicas era automaticamente canonizado, enquanto aquele que olhasse para a música popular tendia a ser alvo de críticas mais pontiagudas. “Porém é também um ambiente em que a vocação ecumênica do violão, ao transitar entre o repertório herdado de Tarrega e solos da tradição recente do choro e da música de salão, já se manifesta”.
Ainda segundo Fabio Zano, “Freitas emerge como um fascinante personagem de transição entre uma fase dos primeiros concertistas brasileiros, que não tinham sequer uma ideia muito clara do que era o violão de concerto até à chegada de Barrios e Robledo, mas que, nessa singela ignorância, contribuíram para uma linguagem especificamente brasileira de violão, e aquela geração que já se beneficiou de uma educação musical mais formalizada, pós-conservatório, e teve a oportunidade de optar pela carreira acadêmica, graças a Isaías Savio e ao aluno de Freitas, Jodacil Damaeno, ou ocupar um espaço internacional como Turíbio Santos e Barbosa Lima”.
Pois é justamente esse personagem tão esquecido da memória nacional, mas que brilhou no violão entre os anos 1920 e 1940, que Jorge e Celso revela com uma pesquisa tão bem realizada.
Sobre a sua biografia, Jorge Mello mostra o quanto Quincas Laranjeiras considerava Freitas o seu aluno mais promissor. “Em 1928, junto com Rogério Guimarães e Lourival Montenegro, José Augusto acompanhou João Pernambuco e seu violão em várias apresentações na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro”.
Jorge também desfila uma saborosa série de recitais de Freitas. “Em 1930, José Augusto realizou três concertos: em 18 de janeiro, na sede do Tijuca Tênis Clube (Rio de Janeiro–RJ) — o sucesso retumbante desta apresentação lhe abriu as portas para participar da programação social e artística daquela casa que, tempos depois, daria origem à Radio Cajuti; no dia 21 de março, no Clube das Fontes (Lambari–MG) e, em 10 de julho, no Teatro Fênix (Rio de janei- ro–RJ) — no repertório desta apresentação, além de peças de Albeniz, Tárrega, Tolsa, Barrios, Bach e Beethoven, ele incluiu o Choros no 1, de Villa-Lo- bos. Este concerto teve enorme repercussão, inclu- sive internacional, através de matéria publicada na prestigiosa revista Musica, de Barcelona, Espanha”.
E reconstitui o encontro de Andrés Segovia – quando veio ao Brasil pela primeira vez, em 1937 – e José Augusto de Freitas, que lhe presenteou com uma de suas composições, o Allegro Sinfônico. “Este contato certamente o estimulou a retomar seus concertos. Em 8 de setembro de 1937, José Augusto apresentou-se na Escola Nacional de Música com novidades no seu repertório, passando a incluir obras de Othon Salleiro, Henrique Brito e Isaias Sávio e, claro, músicas de sua lavra”.
(Texto Alessandro Soares, curador do Acervo Violão Brasileiro)
As 10 partituras de José Augusto de Freitas:
Prelúdio
Lamentos d’alma
Allegro Sinfônico
Dança Árabe
Fantasia
Cachorro Quente
Eurídice
Saudade
Gavota
Soluços
Parturas bônus:
Prantos (de Edmar Fenício)
Seresta nº 3 (de Sylvio Serpa Costa)
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