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Nonato Leal

Nascimento: 23/07/1927

Natural de: Vigia (PA)

O intérprete e compositor tem papel fundamental no desenvolvimento do violão no Amapá. Foi professor do Conservatório Estadual de Música, formando gerações de violonistas. Nasceu no Pará, mas se considera amapaense.
Nonato Leal

Por Wenderson Barbosa do Carmo*

Intérprete e compositor, Nonato Leal foi o primeiro professor de violão do Conservatório Estadual de Música do Amapá, onde trabalhou de 1970 a 1988. Autor de 22 obras para violão solo, Nonato exerceu papel fundamental no desenvolvimento do instrumento no estado, onde foi pioneiro no ensino do violão no estado. Nasceu no Pará, mas vive em Macapá (AP) desde os 25 anos e se considera amapaense.

É muito conhecido e respeitado pelos violonistas da região, que em sua homenagem criaram a Orquestra de Violões Nonato Leal. As peças do mestre são marcadas pela ambiência do choro e da seresta, característicos da obra de violonistas que o influenciaram, como Dilermando Reis, Garoto, Laurindo de Almeida, Américo Jacomino (Canhoto), Sebastião Mont’Alverne e Sebastião Tapajós.

Como acompanhante, tocou com diversos artistas nacionais quando iam ao Amapá, como Ângela Maria, Agnaldo Rayol, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, João do Vale, Waldick Soriano, Carmem Costa, entre outros. Os artistas não traziam músicos para o estado, então Nonato organizava e dirigia um conjunto para as apresentações, arregimentando músicos locais, chegando a tocar violão e guitarra elétrica. 

(Nonato Leal, Maria EdilaMar, Amilar Brenha e Aimorézinho / Acervo particular)

Infância

Raimundo Nonato Barros Leal nasceu em 23 de julho de 1927, na cidade de Vigia, no Pará. É filho de Manoel da Vera Cruz e Cremildes Barros Leal e tem cinco irmãos: Bruno, Rizoleta, Oleno, Lenita e Eloy Vera. A família é de músicos amadores, que costumava organizar rodas de seresta, mas somente Nonato seguiu a carreira artística.

Aos oito anos de idade, aprendeu a tocar violino com o pai. Dois anos mais tarde, começou a fazer pequenas apresentações em público. O interesse pelas cordas dedilhadas veio logo em seguida, aprendendo como autodidata diversos instrumentos como bandolim, cavaquinho, viola sertaneja, banjo e violão.

Ida para Belém

Nonato Leal continuou aperfeiçoando seu modo de tocar ao longo da adolescência em Vigia e, aos 18 anos, buscou novos rumos, mudando-se para Belém. Como não era possível viver apenas da música naquela época, ele também trabalhava na Aeronáutica. Conheceu muitos artistas, com quem ampliou seu conhecimento e excursionou por várias cidades do Pará. Nonato integrou o elenco da PRC5 Rádio Clube Pará e da Rádio Marajoara e do conjunto vocal Soberano do Ritmo, com o qual foi ao Rio de Janeiro. Nesta cidade, participando do programa Papel Carbono, ele foi premiado pela interpretação da música Se ela perguntar, de Dilermando Reis (1916-1977).

(Nonato Leal / Acervo particular)

Nonato Leal acompanhou diversos artistas no Pará, entre eles, a cantora Geruza Souza e o violonista Aluízio Bevilácqua, que atuavam na noite paraense interpretando música brasileira. Com Bevilácqua, ele recebeu os primeiros ensinamentos de violão clássico e conheceu alguns estudos de Villa Lobos. Nonato admirava sua maneira de tocar e essa convivência transformou sua visão em relação ao instrumento. Bevilácqua o orientou a largar todos os instrumentos que já tocava para se dedicar somente ao violão.

Mudança para o Amapá

Em 2 de março de 1952, aos 25 anos, Nonato foi para Macapá (AP) a convite do irmão Oleno Leal. O que era para ser uma visita, acabou por levá-lo a se estabelecer na cidade. Ele logo conseguiu emprego de eletricista bobinador, conciliando a atividade com a carreira musical. Casou-se com Paracy Leite, com quem teve seis filhos: Venilton, Vanildon, Venilson, Vera, Vânia e Vanilze. Apenas Venilton seguiu a carreira de músico.

(Nonato e a família)

Nonato exerceu grande papel como educador no Amapá, deixando grande legado no meio violonístico. Ao ser convidado a assumir a primeira cadeira de professor de violão no antigo Conservatório de Música do então Território Federal do Amapá, pela diretora Elza Khóler, ele recusou o convite porque na época não tinha conhecimento teórico. Elza sugeriu que ele tivesse aulas de teoria musical com o mestre Oscar Santos, pioneiro professor de música do estado. Desse encontro surgiu uma grande amizade entre os dois.

Em 1970 Nonato se tornou professor de violão do Conservatório, onde atuou até 1988. Diversos artistas formados por ele, como Marcus Titus e Israel Rodrigues, atuam hoje como professores do Centro de Educação Profissional de Música Walkiria Lima. Mesmo após se aposentar, Nonato continuou a ensinar e a incentivar os mais jovens, convidando-os para abrir suas apresentações ou colaborando em diversas inciativas das novas gerações de violonistas amapaenses.

Influências                                         

Como professor, Nonato Leal teve papel fundamental para o crescimento da música instrumental no Amapá. Mas também o fez como intérprete e compositor, cujas peças são marcadas pela ambiência do choro e da seresta, característicos da obra de violonistas que o influenciaram, como Dilermando Reis, Américo Jacomino “Canhoto Garoto, Laurindo de Almeida,”, Sebastião Mont’Alverne e Sebastião Tapajós.

(Jomasan e Nonato Leal na inauguração do novo auditório da Rádio Difusora / Acervo particular)

Nonato conheceu pessoalmente Dilermando Reis em Macapá. A admiração pelo violonista veio através de programas de rádio e discos que escutava. Na ocasião, Dilermando executou algumas peças de seu repertório e Nonato ficou maravilhado com a capacidade e a facilidade do artista dominar o instrumento.

Outros dois músicos que tiveram papel importante em sua carreira foram Sebastião Mont’Alverne e Sebastião Tapajós. Por intermédio de Mont’Alverne, com quem trabalhava no conservatório, ele conheceu o violonista Sebastião Tapajós durante recitais em  Macapá, e iniciaram uma amizade cultivada até hoje pela troca de ideias violonísticas e em rodas de seresta.

Parcerias

A primeira parceria composicional de Nonato se deu aos 19 anos de idade, com o irmão Oleno Leal, com a marchinha Tauparanassu, que fazia referência ao índio guerreiro da tribo Tupinambá, primeiros habitantes da tribo Uruitá, que viviam no lugar onde hoje fica a cidade de Vigia. Uma parceria importante foi com o poeta e jornalista Alcy Araújo, com a canção Anti-muro, que tem mensagem de protesto contra a ditadura militar, e venceu o 1º Festival Amapaense da Canção em 1969, interpretada na ocasião por Célia Mont’Alverne.

(Ernani Marinho, Nonato Leal, Humberto Moreira, Sebastião Mont’Alverne e Beto, em Brasília, 1974)

Nonato também compôs diversos sambas enredo para as escolas de samba Maracatu da Favela, Piratas da Batucada e Boêmios do Laguinho, que na época eram as mais importantes do Amapá. Também compôs canções em colaboração com os poetas Cordeiro Gomes, Isnard Lima e Jeconias Araújo. 

Obra para violão solo

Autor de 22 obras para violão, Nonato procura retratar em suas composições instrumentais temas do norte do Brasil, bem como paisagens sonoras criadas em sua imaginação. Podemos perceber desde cenas cotidianas de Macapá, a proximidade do rio Amazonas, mas também sonoridades ibéricas e do oriente. Aos poucos, toda esta obra vem sendo transcrita, já que ele não escreve suas músicas em partitura.

O compositor Nonato Leal caminha com a riqueza e as influências da música brasileira. Sua obra se espelha nas músicas dos grandes compositores que contribuíram para o violão solo e sua carreira se consolida em uma época repleta de grandes músicos do choro, samba e seresta. Mesmo não possuindo no início de carreira uma formação musical formal, Nonato Leal consegue transitar por diversos ritmos brasileiros com facilidade e compõe músicas interessantes para o violão solo devido a sua atividade artística variada, como se pode observar nas obras Lamento Beduíno, Maresias Amazônicas e Samba Diferente, onde se utiliza de vários estilos.

Importância para a região norte

Com quase um século de vida, Nonato Leal tem sido bastante reverenciado no Amapá por sua contribuição para a cultura da região norte do Brasil. Algumas de suas obras foram registradas nos CDs Lamento Beduíno e Coração Popular. Em 2014, foi fundada a primeira Orquestra de Violões do Amapá em sua homenagem (Orquestra de Violões Nonato Leal), que tinha à frente como coordenador e regente, o violonista, compositor e professor Aron Miranda.

Em 2019 foi lançado um songbook com algumas de suas partituras para violão solo: Andorinhas da Cândido Mendes; Balanço da Bossa; Canção para Rafaela; Chorinho para Luana; Melancólico; Paula Tainá e Tardes de Sevilha, obras transcritas pelos músicos Alan Gomes, Miguel Maués Neto e Nelson Santos.

Ainda em 2019 foi concluído o documentário Passar uma Chuva, dirigido por Aron Miranda e produzido pela Jubarte Audiovisual. Este documentário, com duração de 18 minutos, ainda não foi oficialmente lançado no circuito comercial. Em dezembro de 2020 deverá ser lançada a biografia de Nonato Leal, escrita pelo historiador Vinícius Leal.

Musicografia

  1. Andorinhas da Candido Mendes
  2. Balanço da bossa
  3. Boulevard
  4. Brincando na praça com o Théo
  5. Canção para Rafaela
  6. Carmencita
  7. Chorinho para o Botafogo
  8. Chorinho para Luana
  9. Desejos
  10. Estudo em Mi menor
  11. Lamento Beduíno
  12. Maresias Amazônicas
  13. Melancólico
  14. Paracy Leal
  15. Paula Tainá
  16. O egípcio e a francesa
  17. Rosas para Aline e Michele
  18. Ruas de Espanha
  19. Samba Diferente
  20. Tardes de Sevilha
  21. Valsa para Maitê
  22. Valsa para Maria Clara e Maria Luiza 

Discografia

Lamento Beduino (1996)

Coração Popular (2000)

Referências:

CARMO, Wenderson Barbosa do. “Nonato Leal: Transcrição e Construção da Performance de Cinco Obras para Violão Solo.” Trabalho de Conclusão de Curso, UEAP, 2019.

LEAL, Nonato. Songbook. Organizado por Alan Gomes. Fundação Municipal de Cultura de Macapá, 2019.

 

*Wenderson Barbosa do Carmo é violonista e estudante de licenciatura em música na Universidade do Estado do Amapá.  Sua pesquisa sobre Nonato Leal foi realizada sob a orientação do professor Dr. Fabio Bartoloni.

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