Por Gilson Antunes
Luiz Cláudio Ribas Ferreira é um dos principais violonistas clássicos brasileiros, com forte atuação principalmente na região Sul do país, em especial em sua cidade natal, Curitiba, onde leciona e se apresenta como concertista há vários anos. Filho de Ernesto Ferreira e Jahyra Ribas Ferreira, Luiz Cláudio iniciou-se no violão aos 11 anos de idade, recebendo instruções do pai e do primo Luiz Carlos Copper. Nessa mesma idade já integrava um regional de choro, chamado Regional do Gasogênio, que era o apelido de Arlindo Santos, violonista de 7 cordas do grupo.
Aos 13 anos interessou-se pelo violão clássico após ouvir a interpretação de seu primeiro professor, Alvino Jr. Logo começou seus estudos com Valdomiro Prosdóssimo – um importante professor - em Curitiba, no Conservatório Villa-Lobos. Posteriormente, estudou regularmente com nomes célebres da didática nacional, como Henrique Pinto, em São Paulo, e masterclasses com Leo Soares, Jodacil Damaceno e Robert Brightmore, além de outros professores em cursos de música. A graduação em música ocorreu na Faculdade de Artes do Paraná.
Concursos
Venceu o primeiro concurso, o Abel Carlevaro, em São Paulo, aos 14 anos, concorrendo com importantes nomes do violão daquela época, em 1979, e que atualmente lecionam em universidades no Brasil e no exterior. Em seguida, foi vencedor do Concurso Isaías Sávio, em 1981, e do prêmio de melhor intérprete de música brasileira do Concurso Jovens Concertistas em 1989. Já em 1991, foi o único violonista a estar na final daquela edição do principal concurso brasileiro de música clássica da época, o Prêmio Eldorado, em São Paulo.
Sem se ater mais a concursos, logo iniciou a carreira de concertista, com forte apoio de Henrique Pinto, que o levou para tocar na capital paulista e também em Araçatuba (SP) e outras localidades, sendo também jurado de concursos. Posteriormente se apresentou como solista com orquestras, além de várias formações camerísticas.
Primeiro disco
Em 1989 gravou o primeiro LP, tocando John Dowland e Isaac Albeniz, mostrando duas vertentes interpretativas distintas, sendo este o único registro fonográfico do violonista em que ele abriu espaço para esse aspecto – todos os outros discos mostraram um projeto específico, mais fechado.
Quando tudo parecia correr bem em sua carreira, em 2001 Luiz Cláudio descobriu durante um recital que estava com um problema de coordenação motora, que demonstrou ser distonia focal, uma doença cada vez mais estudada e que comprometeu violonistas como David Leisner, Badi Assad e Paulo Bellinati, entre vários outros.
Após anos de tratamento, incluindo orientadores como o pernambucano Djalma Marques - um especialista no assunto – Luiz Cláudio finalmente voltou à ativa, para felicidade da comunidade musical. Sua recuperação, segundo o próprio artista, se deu através da independência muscular na técnica instrumental.
América do Sul e Itália
O primeiro registro fonográfico em formato digital ocorreu em 2003 (lançado em 2005), com um projeto bastante ousado: o primeiro volume do América do Sul e o Violão, no qual o violonista apresenta obras de Villa-Lobos, Agustin Barrios, Máximo Diego Pujol e Jaime Zenamon. A intenção de Luiz Cláudio foi contar a história do violão latino-americano por meio desses compositores e de fases específicas de criação artística de cada um deles.
Em 2006 gravou o CD A Itália da Renascença ao Romantismo no Violão, lançado em 2007 , demonstrando visões bastante pessoais dos compositores Francesco da Milano, Giovani Zamboni Romano, Mauro Giuliani e Giulio Regondi. O CD recebeu crítica bastante favorável na principal revista de violão da época, a Violão Pro.
Nesse disco de repertório italiano, Luiz Cláudio realizou a primeira gravação mundial em violão da Suite 1 (Giovani Zamboni). Ele trouxe para esta gravação uma ornamentação completa de todas as danças, baseada na chamada instrumentação historicamente informada, pertencente ao grupo de musicologia HIP (Historically Informed Performance). Este é um dos celeiros dos estudos de Luiz Cláudio em música antiga.
Em 2013 Luiz Cláudio fez o lançamento do segundo volume de seu projeto América do Sul e o Violão, finalizando a proposta original. As interpretações são ainda mais contundentes que nos outros discos, mostrando o quanto este violonista não tem receio de se expor, defendendo suas ideias de maneira sólida e sempre embasada.
Fernando Sor
Mais recentemente Luiz Cláudio vem se dedicando a outro projeto de peso, com obras de Fernando Sor. O primeiro lançamento, em LP, lhe rendeu o Soroptmist International Award. Está previsto para 2017 o lançamento em CD e DVD deste mesmo projeto. Ainda para 2017 Luiz Cláudio deverá lançar o CD Aristocracia Brasileira, com obras de Villa-Lobos, Dilermando Reis, Paulo Bellinati e Marco Pereira.
Luiz Cláudio também se dedica ocasionalmente à composição, tendo escrito a Suite Araucárias e Napolitanas Orientais, entre outras músicas. Escreveu também artigos para a revista Violão Intercâmbio e artigos acadêmicos.
Musicologia
Desde 1989, Luiz é professor de violão da Unespar-PR e formou alguns dos principais violonistas da nova geração brasileira, como Fabricio Mattos, Alisson Alípio e Francisco Luz. Todos eles vêm mantendo carreira internacional, demonstrando o quanto o Paraná vem contribuindo com a emergente situação do violão de concerto brasileiro.
Também, na mesma universidade, é responsável por uma das cadeiras de História da Música, atendendo a músicos diversos, a exemplo de profissionais de ópera, virtuoses de instrumentos antigos, pianistas e integrantes de orquestra sinfônica. Seu trabalho em história tem um diferencial por estar vinculado especialmente à exemplos práticos e não apenas pautado em teoria e livros. Nas aulas há prática de variados instrumentos, incluindo repertório específico e suas multidisciplinaridades, sempre vinculada à musicologia.
Luiz Cláudio tem pós graduação em música de câmera, cuja defesa dele incluiu um DVD específico de violão com diversas formações, no qual atuou regendo orquestra de violões, com arranjos próprio e de membros da orquestra, além de tocar com solistas de sopro, canto e corda.
Com rara visão interpretativa de clássicos do repertório violonístico e por afirmações muitas vezes polêmicas de assuntos que vão da carreira acadêmica à carreira violonística, além de sua vitoriosa trajetória artística, Luiz Cláudio Ribas Ferreira se mantém no patamar dos violonistas clássicos brasileiros de qualquer época, e não demonstra cansaço nem desgaste que o façam esmorecer, mesmo com a sombra da distonia focal, que parece lhe dar um desafio, o qual ele aceita e luta constantemente para transpor, e certamente transpõe.
Referência:
Egg, André. Perfil: Luiz Claudio Ferreira. Violão Intercâmbio, n.15, ano IV, jan/fev 1996, São Paulo.
Resenha do CD A Itália da Renascença ao Romantismo no Violão . Violão Pro, vol.12, p.30. São Paulo.
1989: Dowland e Albeniz
2005: América do Sul e o Violão
2007: A Itália da Renascença ao Romantismo no Violão
2013: América do Sul e o Violão vol.II
2015: Luiz Cláudio Ribas Ferreira plays Fernando Sor (LP)