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Laurindo Almeida

Nascimento: 02/09/1917

Falecimento: 26/07/1995

Natural de: Miracatu (SP)

Violonista, compositor e arranjador, figura entre os grandes músicos da chamada “Era de Ouro” da música popular brasileira. Teve vasta atuação em rádios no Brasil. Nos EUA, construiu sólida carreira em três frentes de trabalho: no violão popular, no violão de concerto, e como multi-instrumentista de cordas em performances para trilhas sonoras em filmes Hollywoodianos. 
Laurindo Almeida

Discografia

Bibliografia

Por Alexandre Francischini

Violonista, compositor e arranjador, figura entre os grandes músicos da chamada “Era de Ouro” da música popular brasileira. Teve vasta atuação nas rádios brasileiras (1934-1947) e, a posteriori, radicado nos EUA (1947-1995), construiu sólida carreira em três grandes frentes de trabalho: no violão popular, no violão de concerto, e como multi-instrumentista (cordas) em performances para trilhas sonoras em filmes Hollywoodianos. Atuações diversas que lhe renderam, entre dezesseis indicações, cinco Grammys Awards e um Oscar do cinema Norte-Americano.

No Brasil (1934-1947)

A história de Laurindo José de Araújo Almeida Nóbrega Neto (1917-1995) começa em uma vila chamada Prainha, hoje cidade de Miracatu, localizada no Vale do Ribeira a 140 quilômetros da capital de São Paulo. Com vistas a um maior desenvolvimento e expansão comercial, deu-se início à construção de uma estrada de ferro que ligava toda a região sul do litoral paulista. Em 1914, na ocasião de sua inauguração, Benjamim de Almeida e Placidina de Araújo Almeida, pais de Laurindo, foram para Miracatu, designados para tomar conta da estação ferroviária da cidade.

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Oriundos de famílias tradicionais da região de Cananeia, também localizada no Vale do Ribeira, Benjamim e Placidina tiveram muitos filhos. Entretanto, foi Laurindo o único a nascer na vila, três anos após a inauguração da estação ferroviária, em 2 de setembro de 1917. Segundo relato de Paulo Laragnoit (museólogo e escritor da “História de Prainha”), embora Benjamim tivesse um bom emprego como chefe da estação ferroviária, seu salário não permitia grandes regalias e a cidade não possuía escolas, com isso, seus filhos não poderiam ter bons estudos; fatos tiveram grande peso em sua decisão de abandonar a ferrovia, em 1920, e mudar-se para a cidade de Santos para trabalhar na construção do novo porto.

Na época em que a família Almeida se mudou para a cidade de Santos, o plantio do café estendia-se por todo o Planalto Paulista, atingindo até algumas áreas da Baixada Santista. Nesse processo de expansão do porto, Benjamim de Almeida trabalharia de 1920 a 1929, quando foi internado no Hospital de Isolamento de Santos, com tifo, uma doença infecciosa que o levou à morte em poucas semanas. Com a morte prematura de Benjamim, a família Almeida passou por um período de grandes dificuldades. Em decorrência dessa situação, a família se mudou para a capital paulista, no Largo Coração de Jesus, próximo à Estação da Luz.

O período de aproximadamente nove anos em que viveu em Santos foi importante no desenvolvimento musical de Laurindo Almeida. Foi nele que o violonista entrou em contato com o repertório de música erudita, executado por sua mãe ao piano, ao mesmo tempo em que acompanhava seu pai, também violonista, em serestas pela cidade – fatos que poderiam explicar, ao menos em parte, sua versatilidade musical, tanto no repertório erudito quanto no popular. Consta que Laurindo, orientado por sua irmã, Maria Elisa, iniciou seus estudos musicais adaptando para o violão as primeiras lições de piano ministradas por sua mãe, Placidina de Almeida.

Quando a família Almeida chegou à cidade de São Paulo, no começo da década de 1930, o país passava por uma grande turbulência política. Getúlio Vargas (1883-1954) acabara de chegar à presidência da República por meio de um golpe, interrompendo a tradicional alternância entre os governos que representavam os grandes latifundiários paulistas e mineiros – conhecida como política do café com leite. Decorrente disso, em 1932, foi deflagrada a Revolução Constitucionalista de São Paulo, que durante três meses de intenso combate mobilizou 135 mil homens em território paulista contra as tropas de Getúlio Vargas.

Esse acontecimento histórico também se revelou importante na vida de Laurindo Almeida. Em meio aos milhares de recrutados, Laurindo, na época com apenas 15 anos, foi convocado para defender as tropas paulistas nessa revolução, e foi por meio dela que conheceu o seu primeiro parceiro musical: o violonista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915-1955). Foi assim: no período em que permaneceu hospitalizado, em decorrência da “inflamação na virilha”, Laurindo Almeida conheceu Garoto que, na ocasião, prestava serviço voluntário nos hospitais, tocando para os soldados feridos nas frentes de batalha.

Dessa amizade resultou uma parceria que perdurou por todo o tempo em que Laurindo permaneceu no Brasil, tanto em São Paulo quanto, mais tarde, no Rio de Janeiro, onde formaram a Dupla do Ritmo Sincopado e o Conjunto das Cordas Quentes. Laurindo e Garoto tiveram uma atuação bastante ativa no meio musical da época, sobretudo no auge da Era do Rádio, quando trabalharam ora juntos e ora separados, em vários regionais, como os da Rádio Record em São Paulo e da Rádio Mayrink Veiga no Rio de Janeiro.

É fato que as emissoras de rádio tiveram um papel fundamental na difusão da música popular brasileira na primeira metade do século XX. Toda uma geração de compositores, arranjadores e instrumentistas pode garantir, ao menos em parte, o seu sustento por meio de empregos nas orquestras e regionais das rádios nas décadas de 1930, 40 e 50. Com Laurindo Almeida não foi diferente. O seu primeiro emprego com contrato assinado foi pela Rádio São Paulo, inaugurada em 1934. Pelo contrato, Laurindo ganhava 200$000 (duzentos mil réis) por mês.

O convite a Laurindo surgiu a partir de sua primeira apresentação na cidade, quando tinha apenas 17 anos. A história é a seguinte: “havia uma exposição e Laurindo se apresentou de graça. Um dos organizadores o convidou para participar de um programa na Rádio São Paulo, fazendo dupla com Pinheirinho ao cavaquinho” (Cortes, 1996). Posteriormente veio a Record, onde se apresentava com o grupo Ronda Paulista, e com o próprio regional da Rádio, que na época tinha como líder o também violonista Armando Neves (1902-1974).

Outro acontecimento bastante importante para a carreira musical de Laurindo Almeida foi ter conhecido, nessa época, na Rádio Record, o locutor César Ladeira (1910-1969). Após o término da Revolução Constitucionalista, Ladeira migrou para o Rio de Janeiro. Lá, ele e Inácio da Costa Souza, mais conhecido como Souza Filho, tornaram-se os diretores artísticos e locutores da Rádio Mayrink Veiga. Foram eles os grandes responsáveis pela contratação de Laurindo pela emissora carioca em 1936.

Com a inauguração da Rádio Mayrink Veiga em 1934 e da Rádio Nacional em 1936, muitos músicos paulistas migraram para lá em busca de melhores oportunidades de trabalho. A Mayrink Veiga – na época o principal veículo de comunicação do Brasil – tinha em seu quadro de funcionários artistas como as irmãs Aurora e Carmem Miranda, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Mario Reis e muitos outros.

Quando Laurindo Almeida chegou ao Rio de Janeiro, em 1936 – “violão debaixo do braço e alguns tostões no bolso, teve que dormir na praça até conseguir uma vaga na casa de Batista Júnior, pai das irmãs Batista – Linda e Dircinha” (Cortes, 1996) –, foi trabalhar em seu regional, que na ocasião tinha como integrantes Pixinguinha (saxofone), Luiz Americano (clarineta e sax), João Luperce Miranda (bandolim), Artur do Nascimento “Tute” (violão de sete cordas) e João Machado Guedes “João da Baiana” (percussão).

Com o violonista Garoto, que tinha feito na mesma época esse mesmo trajeto de migração para o Rio de Janeiro, Laurindo formou a Dupla do Ritmo Sincopado e o Conjunto das Cordas Quentes – já mencionados anteriormente – que juntamente com o regional da Rádio acompanharam muitos artistas nesse período, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Dorival Caymmi, Nelson Gonçalves e Carlos Galhardo. Durante os 11 anos em que trabalhou na Rádio Mayrink Veiga (1936-1947), Laurindo Almeida compôs, arranjou e acompanhou artistas em mais de trinta discos, gravados pela Odeon, RCA Victor e Continental Records.

Nos EUA (1947-1995)

Com o fim do Estado Novo, o Brasil passou por um processo de redemocratização. Em 1945, o marechal Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), que havia sido Ministro da Guerra e um dos principais colaboradores do então presidente Getúlio Vargas, agora empenhado em consolidar o processo de “democratização” do país, saiu candidato à presidência da República pelo Partido Social Democrático (PSD). Eleito, Dutra assinou, no dia 30 de abril de 1946, exatos três meses após a sua posse da presidência na República, o decreto-lei n° 9.215, que extinguiu os jogos de azar em todo o território nacional, provocando assim o fechamento dos cassinos em todo o país.

Para a classe artística esse decreto representou uma tragédia irreparável. Afinal, do dia para noite, músicos, atores e atrizes, bailarinos e bailarinas e os funcionários responsáveis pelo funcionamento dos cassinos perderam seus empregos. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2 de dezembro de 1984, Laurindo afirmou:

O Dutra disse para os músicos que, se todos votassem nele, os cassinos jamais seriam fechados. Ganhou e a primeira coisa que fez foi cortar o nosso ganha-pão. Hoje eu agradeço. Não fosse isso, ainda estaria, talvez aqui, amargando mil e uma frustrações. (Almeida, 1984).

Em decorrência da perda de renda devido ao fechamento dos cassinos brasileiros, e tendo recebido uma indenização movida contra a RCA Victor, por direitos autorais, o violonista emigra para os Estados Unidos, em 16 de março de 1947, dois anos após o término da Segunda Guerra Mundial (1940-1945).

Conhecida como a “Era de Ouro”, o período do pós-guerra para os EUA foi marcado por uma grande prosperidade financeira, ocasionando uma explosão no consumo de bens e serviços oriundos, em maior parte, do advento das grandes revoluções tecnológicas ocorridas já na primeira metade do século XX.

Com o surgimento de novos meios de comunicação como a televisão, o rádio e o disco de vinil, consequência direta dessas novas tecnologias, a música e o cinema americano – artes que sempre estiveram correlacionadas – tornaram-se as mais bem sucedidas indústrias de entretenimento do mundo, propiciando tanto aos músicos, especialmente aos de jazz, quanto aos atores e atrizes uma ótima fonte de renda.

Laurindo Almeida, que no Brasil chegou a passar fome e a dormir na rua quando migrou para o Rio de Janeiro, nos Estados Unidos, em decorrência tanto da “sorte” quanto de um momento histórico favorável, construiu, ao longo dos anos, uma carreira de muito sucesso na indústria cinematográfica e na indústria do jazz, fazendo parte do primeiro time dos grandes compositores e arranjadores de trilhas sonoras para filmes de Hollywood, tais como Henry Mancini, Dimitri Tionkim, Alex North e o próprio John Williams. Vejamos!

No cinema

A estreia de Laurindo no cinema aconteceu em abril de 1947 – apenas um mês depois de sua chegada aos Estados Unidos –, com um grupo também formado por brasileiros chamado Carioca Boys, que posteriormente se chamaria Copacabana Boys e mais tarde Samba Kings. Embora tenha tido formações diferentes no decorrer de sua existência, a base era sempre a mesma: Nestor Amaral, Russo do Pandeiro e Joe Carioca (músico que inspirou Walt Disney a compor a personagem Zé Carioca).

Foi com esse grupo que Laurindo fez seu primeiro trabalho para o cinema americano, tocando e atuando no filme A Song is Born, escrito e dirigido pelo ator, diretor e compositor Danny Kaye, no qual participaram também os músicos Benny Goodman, Jimmy e Tommy Dorsey, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e Nat “King” Cole, dentre outros. A atuação de Laurindo Almeida nesse filme foi somente a primeira de uma série de mais de oitocentos trabalhos realizados para os estúdios de Hollywood – Paramount, Universal, Columbia e MGM Studios. Em uma entrevista realizada em Los Angeles para uma emissora de televisão brasileira, em 1990, Laurindo Almeida afirmou:

Por causa da pensão que eles pagam [os estúdios de Hollywood] eu recebi uma lista enorme dizendo que eu tinha trabalhado em oitocentos filmes. Tocando músicas para filmes!” (apud Dourado, 1999).

Dentre elas, três foram premiados com o Oscar do cinema americano: The old man and the sea, filme de 1958, cuja trilha sonora, composta pelo maestro Dimitri Tionkim com a colaboração de Laurindo Almeida, foi premiada com o Oscar; The unforgiven, filme de 1992, dirigido por Clint Eastwood, cuja trilha sonora contém um solo de violão de Laurindo Almeida, que ao final do filme aparece orquestrado por Lennie Niehaus, autor da trilha sonora (nesse caso, o filme ganhou o Oscar); e, The magic pear tree, filme de 1968, cuja trilha sonora, composta e executada por Laurindo Almeida, foi premiada com o Oscar. Trata-se do único Oscar ganho por um brasileiro na história desse prêmio. Ademais, o destaque fica para o emblemático solo de bandolim, tema do premiadíssimo The Good Father, no Brasil, O poderoso chefão, filme de 1972, produzido e dirigido por Francis Ford Coppola, com música de Nino Rota.

No Jazz

Em relação à atuação de Laurindo na música popular, Berendt descreve: 

Um guitarrista que ocupa uma posição toda especial no jazz é o brasileiro Laurindo Almeida, um músico do nível dos grandes concertistas desse instrumento – de um Andrés Segovia ou Vicente Gomez. Almeida introduziu a guitarra tradicional; melhor dizendo, reaplicou a tradição da guitarra não-eletrificada no jazz moderno. (Berendt, 1987, p.228).

Além seu próprio grupo, o L.A. Four – que ao longo da década de 1970 e a primeira metade da década de 1980 lançou mais de dez álbuns, todos pela gravadora Concord Jazz Records –, outras três formações musicais merecem destaque na carreira de Laurindo: a primeira formação foi o trio montado com o guitarrista Larry Coryell, e com a violonista Sharon Isbin. A segunda foi o duo que montou com o também violonista Charlie Byrd, um aficionado pela música brasileira, especialmente pela Bossa Nova.

Por fim, a terceira formação foi o Laurindo Almeida Trio, grupo que montou com o contrabaixista Bob Magnussen e, em diferentes momentos, os bateristas Jim Plank e Chuck Flores. Com eles, Laurindo tocou durante toda a década de 1980 e a primeira metade da década de 1990. Entretanto, voltando um pouco no tempo, fica em destaque a sua participação com integrante em dois grupos de grande expressão no jazz. Quais sejam: a Orquestra de Stan Kenton e o The Modern Jazz Quartet. Ainda segundo Berendt: 

Quando integrante da banda de Stan Kenton na segunda metade dos anos 40, Laurindo Almeida realizou uma série de solos, os quais irradiavam tanto calor como poucas vezes se viu em gravações desta orquestra (1987, p.228).

Por intermédio de Stan Kenton, Laurindo Almeida adquiriu fama e prestígio no cenário musical americano. Tanto que, em 1948, foi premiado pela revista Down beat, com a quarta posição dos melhores guitarristas do ano. No ano seguinte ficou com o segundo lugar e, em 1958, conquistou a posição de melhor guitarrista do ano.

Logo após a dissolução da orquestra de Stan Kenton, Laurindo começou a se apresentar com seu próprio grupo, um embrião do L.A. Four, que durante a sua existência, teve como integrantes o saxofonista Bud Shank, que também havia sido membro da orquestra de Kenton e, em diferentes momentos, os bateristas Chuck Flores e Roy Harte e os contrabaixistas Gary Peacock e Harry Babasin. Com esse quarteto Laurindo se apresentou durante toda a década de 1950, lançando pela World Pacific Records uma série de três álbuns antológicos, intitulados Brazilliance, volumes 1, 2 e 3, que representam um marco na fusão do jazz norte-americano (deste último mais especificamente a abertura de “chorus” de improvisação em meio aos temas) com ritmos brasileiros.

Com o The Modern Jazz Quartet, do pianista John Lewis (1920-2001), na década de 1960, mais especificamente nos anos de 1963 e 1964, Laurindo Almeida fez inúmeras turnês pelos Estados Unidos, Europa e Japão. Consta que foi por meio desse grupo que Laurindo pôde difundir a música brasileira praticamente em todo o mundo. Dessa época, vale ouvir o álbum The Modern Jazz Quartet with Laurindo Almeida: Collaboration, lançado em 1964, pela gravadora Atlantic Records.

Dentre os inúmeros álbuns que Laurindo Almeida lançou durante sua carreira como músico popular, destaca-se o Guitar from Ipanema, lançado pela Capitol Records, em 1964. Por ele, Laurindo foi agraciado um ano depois, em 1965, com o Grammy de Melhor Performance Instrumental de Jazz, tendo concorrido com músicos do calibre de Henry Mancini, Quincy Jones e Miles Davis.

Em 1976, a revista Guitar Player lançou uma edição comemorativa elegendo os guitarristas de maior expressão de todos os tempos. Dentre eles estavam B. B. King, Joe Pass, Barney Kessel, Lee Ritenour, Herb Ellis e Laurindo Almeida. A partir dessa seleção, em 1978, foi lançado pela gravadora MCA Records um disco também intitulado Guitar player. Entre as faixas estão contidas três composições de Laurindo Almeida: Lament in tremolo form, Feelings e Samba for Sarah.

O violão de concerto

Enquanto viveu no Brasil, a produção musical de Laurindo esteve voltada essencialmente para a música popular brasileira. Entre as suas composições estão choros, valsas, marchas, baiões e sambas de vários estilos. Já nos Estados Unidos, além de tornar-se um renomado músico de jazz, como visto, construiu também uma carreira de muito sucesso como concertista de violão erudito. O próprio Laurindo considerava-se um músico erudito. Essa informação pode ser comprovada em uma entrevista a Gilson Rebello, publicada em seu artigo “Do jazz à música popular e erudita, a trajetória de Laurindo Almeida”, do jornal O Estado de S. Paulo, de 23 de novembro de 1980:

Sou um artista clássico, que toca todos os grandes mestres. Mas acabei transformando-me em popular por uma questão de sobrevivência, já que desde aquela época o músico não tinha muita vez (Rebello, 1980).

Além dos compositores brasileiros Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Camargo Guarnieri, Laurindo Almeida gravou obras de Agustín Barrios, Manuel Ponce, Gabriel Fauré, Manuel de Falla, Alessandro Scarlatti, Isaac Albéniz, Enrique Granados, Francisco Tárrega, Andrés Segovia, Joaquín Rodrido, Bach, Debussy, Chopin, Ravel, Tchaikovsky e Beethoven, entre outros.

Dos prêmios que conquistou, a maior parte está relacionada também à música erudita. Quatro dos cinco Grammys Awards que recebeu estão vinculados com essa categoria de música.

São eles: 1) Em 1960, foi agraciado com o Grammy de Melhor Performance Instrumental de Música Clássica, Solista e Duo, com o álbum The spanish guitar of Laurindo Almeida. 2) Ainda em 1960, pela Melhor Performance de Música Clássica, Vocal e Instrumental”, com o álbum Conversations with the guitar. 3) Em 1961, pela Melhor Composição Contemporânea de Música Clássica, com a peça Discantus, para três violões. 4) Também em 1961, pela Melhor Performance Instrumental de Música Clássica, para Solista e Orquestra, com o álbum Reverie for spanish guitars.

Destaque para o Grammy de Melhor Composição Contemporânea de Música Clássica, recebido pela composição da peça Discantus: Laurindo teve a honra de dividi-lo com o “peso pesado” da música clássica Igor Stravinsky (1882-1971), que na ocasião concorreu com a peça Movements for piano and orchestra. Aliás, em 1965, Laurindo Almeida seria convidado por Stravisnky para participar da gravação de uma série de quatro canções russas de sua autoria, intituladas Four russian peasant songs, para voz, flauta, harpa e violão.

Como compositor orquestral, sua obra de maior envergadura foi o primeiro e único The first concert for guitar and orchestra, gravado com a Orquestra de Câmara de Los Angeles e lançado, em 1980, pela Concord Jazz Records. Segundo as palavras do próprio Laurindo, a sua composição teria sido inspirada nos concertos de Vivaldi (Zanon, 2006).

Em uma das poucas homenagens que Laurindo recebeu após sua morte – vale ressaltar que nenhuma delas ocorreu no Brasil –, o compositor e violonista cubano Leo Brouwer afirmou: “No auge da carreira de Laurindo Almeida, suas gravações eram tão conhecidas em Cuba quanto as de Segovia. E, nas Américas, tocar violão clássico era tocar como Laurindo Almeida” (idem, ibidem).

Os últimos anos nos EUA

Na primeira metade da década de 1990, em decorrência do câncer diagnosticado e, sobretudo, por conta do tratamento à base de quimioterapia e radioterapia, a produção musical de Laurindo caiu sensivelmente. Em Hollywood, o seu último trabalho foi executar a parte de violão da trilha sonora do filme The unforgiven, em 1992.

Como compositor, sua última obra foi a Suite Aquarelle, composta em homenagem à cidade de Los Angeles, em 1993. Seu último trabalho em disco foi o álbum intitulado Naked Sea, em parceria com Danny Welton, lançado pela gravadora Danwell Records, duas semanas antes de sua morte.

Laurindo Almeida faleceu em 26 de julho de 1995, no Valley Presbyterian Hospital, em consequência da leucemia. Seu corpo foi enterrado no Cemitério e Parque Missão de San Francisco, em Los Angeles.

Sua morte foi noticiada por inúmeros veículos de comunicação: nos Estados Unidos, pelo jornal The New York Times. Na Europa, pelo jornal londrino The guardians, entre outros. Dois meses após o seu falecimento, foi realizado no teatro da California State University, Northridge, em 23 de setembro de 1995, um tributo à sua memória. Dentre os participantes, estavam presentes – além da viúva de Laurindo, Didi Almeida – Bud Shank, Charlie Byrd, John Pisano, Bob Magnussen, Jim Plank, Jimmy Stewart e Chuck Flores, músicos com os quais trabalhou em diferentes momentos de sua carreira.

Esse show pode ser visto no DVD intitulado Laurindo Almeida: tribute to a master, produzido em 2005 pela Mablan Entertainment, por Debby Forman e Carlos Tavares. A partir de 1999, os arquivos pessoais de Laurindo Almeida passaram a fazer parte de um dos maiores acervos musicais do mundo, o do Departamento de Música da Biblioteca do Congresso Nacional dos Estados Unidos, localizado em Washington. “Discos, partituras, fotografias e objetos pessoais de Laurindo podem ser vistos ao lado das obras de grandes compositores e intérpretes como J. S. Bach, J. Brahms e Frank Sinatra” (Dourado, 1999).

BIBLIOGRAFIA

BERENDT, J. E. O jazz do rag ao rock. Tradução de Júlio Medaglia. São Paulo: Perspectiva, 1987.

CORTES, C. O pré-bossa novista voltou. Jornal do Brasil, Caderno B, de 25 de fevereiro de 1996.

DOURADO, L. Laurindo Almeida: “Muito Prazer”. Rio de Janeiro: Telenews, 1999. (Documentário).

FRANCISCHINI, A. Laurindo Almeida: dos trilhos de Miracatu às trilhas em Hollywood. São Paulo: Editora da Unesp, 2010.

_______________ Laurindo Almeida: música brasileira, identidade e globalização. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da Unesp: São Paulo, 2012.

LARAGNOIT, P. de C. A vila de Prainha. 2.ed. São Carlos: Jaburu, 1984.

ZANON, F. A arte do violão. Programa apresentado na Rádio Cultura em 24 de maio de 2006.

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