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João Avelino de Camargo

Nascimento: 27/05/1880

Falecimento: 26/02/1936

Natural de: São Paulo (SP)

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João Avelino de Camargo

O violonista paulistano João Avelino de Camargo e seu filho Américo Piratininga de Camargo (1903-1928) foram alunos de Agustín Barrios na cidade. Consta que o violonista paraguaio se hospedava na casa de Avelino quando estava em São Paulo. Em 1929, ao chegar para sua segunda turnê em São Paulo, teria sido surpreendido pela notícia da precoce morte de Américo, vitimado pela tuberculose, e composto o Choro da Saudade. Estas informações encontram-se na Coleção Ronoel Simões, anexadas a uma cópia manuscrita do citado choro, datada de 1935, que teria sido escrita por João Avelino de Camargo. Ronoel Simões adquiriu, de um sobrinho de João Avelino de Camargo, diversas partituras manuscritas que pertenceram ao violonista, entre elas a citada cópia do Choro da Saudade. Abaixo, a transcrição de um excerto do documento localizado na Coleção Ronoel Simões:

Barrios - Choro da Saudade. Composto em novembro de 1929, na casa de João Avelino de Camargo, na Rua Barão de Iguape, 58, no Bairro da Liberdade, em S. Paulo, Brasil. O Américo Piratininga de Camargo, filho de João Avelino de Camargo, nasceu em São Paulo, em 01/06/1902 e morreu em São José dos Campos, estado de São Paulo, em 20/10/1928, de tuberculose. João Avelino de Camargo nasceu em 27/05/1880 e faleceu, de câncer na próstata, em 26/02/1936, com 56 anos de idade. João Avelino de Camargo e Américo Piratininga de Camargo foram alunos de Barrios e quando Barrios estava em São Paulo, hospedava-se na casa de João Avelino de Camargo[1].

As primeiras notícias nos periódicos sobre a atuação de Avelino surgiram em 1921, embora seja bem provável que ele tenha iniciado sua atuação anteriormente. Seguindo o mesmo padrão de repertório de seus contemporâneos, ele mesclava obras clássicas transcritas para o instrumento, músicas características e obras de sua autoria. Apresentou-se no Conservatório Dramático e Musical[2] e na Associação do Rosário Perpétuo do Brás[3]. O repertório foi: a gavota Iole, de sua autoria, Berceuse, de Schumann, e Una Lagrima, de Gaspar Sagreras. Em 1924, apresentou-se na União Católica Santo Agostinho, tocando, além da Iole e Una Lagrima, de Sagreras, a mazurca Recordação Saudosa, de Theotonio Gonçalves Côrrea (pai).

UNIÃO CATÓLICA SANTO AGOSTINHO. Com muito brilho, realizou-se sábado último na sede da União Católica Sto. Agostinho, o festival oferecido às famílias dos associados. A segunda parte do programa se iniciou com três solos de violão pelo professor João Avelino, que interpretou “Recordações saudosas”, “Yole”, de sua composição e “Lágrimas”, de Sagreras, arrancando demorados aplausos da assistência[4].

Em sarau na mesma União Católica, tocou Recuerdos de Alhambra, de Tárrega, e mais três números extras; e, em uma terceira apresentação, novamente A Lágrima e Choro Paulista e Recordação Saudosa[5].

Além de professor, Avelino teve destaque na radiofonia com o grupo Três Sustenidos (1929), em companhia de Theotonio Côrrea (1881-1941), filho de Theotonio Gonçalves Côrrea, e José Martins Duarte de Mello, o Melinho de Piracicaba (1873-1960). Algumas de suas obras sobreviveram, seja pelas gravações do trio, ou através de partituras manuscritas e editadas. A gavota Iole e os choros Sabãozinho e Negrinha de filó foram gravados pelo trio e executados na radiofonia local. Iole e Edith foram editadas pela casa Del Vecchio (c.1930), sendo que Edith teve revisão de Atílio Bernardini. Já Sabãozinho e Negrinha de Filó receberam transcrições de Edmar Fenício. As quatro obras foram reeditas em partitura pela Editora Legato (2021).

Duas citações sobre Avelino em livros que se restringem ao território musical do choro carioca — “nasceu presumivelmente em São Paulo, por volta de 1870, e deve ter falecido também na capital paulista, lá por 1940”[6] e “violonista de mérito, discípulo do grande Barrios. É de São Paulo. Vive ainda, pesado de anos”[7] — nos fazem crer que Avelino tenha frequentado as rodas de choro no Rio de Janeiro. Além disto, o violonista e professor Antônio Rebello realizou duas cópias da gavota Iole, uma em 1930 e outra em 1940, indicando que sua obra circulou no ambiente violonístico da capital federal. Avelino era próximo de Isaías Savio, ainda no período em que o uruguaio residia no Rio de Janeiro e de João Pernambuco.

João Avelino era um compositor inspirado, autor de melodias contagiantes. As peças dele representam a síntese do repertório cultivado pelos violonistas neste período: músicas de salão e choros, explorando os idiomatismos do instrumento e deixando transparecer, aqui e ali, o sotaque caipira que insistia em permanecer na música e nos costumes da metrópole em crescimento.

Na biblioteca de Isaías Sávio, pertencente à Coleção Ronoel Simões, as duas obras de Avelino, editadas pela Casa Del Vecchio, a mazurcas Edith e a gavota Iole, aparecem com dedicatória do compositor ao violonista Isaías Sávio: “Ao bom Savio, com minha simpatia esta modesta lembrança. João Avelino, Rio, 26.6.1933”. Assim, sabe-se que, no ano de 1933, o violonista paulistano também esteve na capital federal. Além de evidenciar a relação entre os dois músicos, trata-se de uma demonstração evidente de que Isaías Sávio tinha conhecimento do movimento do violão na cidade de São Paulo já no início da década de 1930.  

Trio Três Sustenidos - Fonte: Revista “O Violão” (1929)

DISCOGRAFIA

Gravações dos Três Sustenidos, com obras de João Avelino de Camargo:

1929   Iole                             João Avelino Gavota  Elétrico       BRUNSWICK

1929   Sabãozinho              João Avelino Choro Elétrico          BRUNSWICK

jan/30 Negrinha de Filó      João Avelino Choro Elétrico          BRUNSWICK

Gravações do Trio Três Sustenidos, com participação de João Avelino:

jan/30 Cadê o Cruzeiro      Theotonio Côrrea    Choro Elétrico BRUNSWICK

fev/30 Bancando o Nazareth        Theotonio Côrrea    Choro Elétrico BRUNSWICK

BIBLIOGRAFIA

ANTUNES, Gilson Uehara. Américo Jacomino Canhoto e o desenvolvimento da arte solística do violão em São Paulo. DISSERTAÇÃO, Universidade de São Paulo, 2002,

PINTO, Alexandre Gonçalves. O choro: reminiscências dos chorões antigos. Typ. Glória, fac-símile, 1936.

VASCONCELLOS, Ary. Panorama da música popular brasileira na “Belle époque”. Rio de Janeiro: Livraria Sant'Anna, 1977.


[1] Trecho do documento anexado à cópia manuscrita do Choro da Saudade, pertencente à Coleção Ronoel Simões.

[2] Correio Paulistano, São Paulo, ano LIX, n.20664, 10 jan. 1921, p. 2.

[3] Correio Paulistano, São Paulo, ano LIX, n. 20942, 23 out. 1921, p. 4.  

[4]  Correio Paulistano, São Paulo, ano LXII, n. 21.803, 19 mar. 1924, p. 4.

[6] VASCONCELLOS, Ary. Panorama da música popular brasileira na “Belle époque”. Rio de Janeiro: Livraria Sant'Anna, 1977, p.262.

[7] PINTO, Alexandre Gonçalves. O choro: reminiscências dos chorões antigos. Typ. Glória, fac-símile, 1936 p.250.

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