Por Gilson Antunes
Everton Gloeden tem sua marca na história do violão brasileiro devido a quatro vertentes de trabalho: a carreira como solista, as atividades como camerista ao lado de outros grandes músicos, a idealização e apresentação de um pioneiro programa de rádio sobre o violão no século 20, e a criação do selo discográfico EGTA, ao lado do também violonista Tadeu do Amaral.
Filho de Herton Gloeden e de Maria Francisca Paschoal Gloeden, Everton iniciou os estudos de violão em São Paulo com Roberto Dalla Vecchia e Sidney Zaghetto. Em seguida, estudou com o professor mais requisitado pela nova geração de violonistas do final da década de 1960, Henrique Pinto.
Entrou então em contato com alguns dos melhores professores e alunos latino-americanos, como Abel Carlevaro, Miguel Angel Girollet, Guido Santórsola e Álvaro Pierri. Posteriormente, estudou matérias teóricas com Sérgio Cominatto e Michel Philippot e teve aulas da Técnica de Alexander com Isabel Sampaio.
Foi premiado no Concurso Internacional de Porto Alegre, em 1978. Oferecido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), o prêmio ajudou a divulgar o nome de Everton no meio violonístico nacional. Conquistou outro prêmio no Concurso Internacional de Hof, na Alemanha, em 1988. Quatro anos depois, foi bolsista da Fundação Vitae, quando estudou na Inglaterra por um ano, tendo aulas com Chris Kilvington.
Na década de 1980, formou duo com a soprano Martha Herr, que durou vários anos e ajudou a divulgar um importante repertório para esta formação, com obras de autores como Ernst Widmer (Grafico de La Pentenera, sobre poesias de Garcia Lorca, obra que ganhou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes, em 1980). Participou também de apresentações da obra para violão e coral Romanceiro Gitano, de Mario Castelnuovo-Tedesco (com texto de Federico Garcia Lorca), e fez um duo de violões com o irmão Edelton Gloeden nos anos 1980.
Primeiro disco
Em 1980, gravou pela OEA o primeiro disco, The Classical Guitar in Latin America, com obras de Camargo Guarnieri, Villa-Lobos, Marlos Nobre, Manuel Ponce, Abel Carlevaro, Antonio Lauro e Leo Brouwer.
Em 1985 gravou o histórico LP duplo com a obra integral para alaúde de J.S.Bach, por ocasião do tricentenário de nascimento do compositor.
Em 1991, Everton Gloeden produziu uma pioneira série de 13 programas para a rádio Cultura FM de São Paulo, chamado Seis Cordas: Panorama do Violão no Século 20. O programa era semanal e ajudou a divulgar o violão moderno para um grande número de pessoas.
Em 1994, apresentou-se com o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha. Em maio de 1995, gravou em Blumenau o CD Recital, com obras de Antonio José, Manuel Ponce, José Alberto Kaplan e Nuccio D´Angelo.
O registro inaugurou o antológico selo EGTA (cujo nome vem das iniciais dos dois fundadores, Everton Gloeden e Tadeu do Amaral), que também lançou ao todo sete CDs de vários violonistas importantes naquela década, na série Grandes Violonistas. O catálogo da EGTA inclui os primeiros discos de Fábio Zanon, Paulo Porto Alegre, Duo Barbieri-Schneiter, Edelton Gloeden e Ricardo Lopes Garcia e o segundo trabalho fonográfico de Tadeu do Amaral. Os títulos da série eram vendidos por meio de assinaturas, algo inédito em discografias de violão.
Também na década de 1990, Everton atuou como professor e coordenador em inúmeros seminários e festivais, a exemplo do primeiro festival de violão internacional realizado após vários anos no Brasil, em julho de 1995, e do II Seminário de Violão do XXVI Festival de Inverno de Campos do Jordão, sendo recitalista, professor e preparador da orquestra de violões do evento.
Também promoveu masterclasses no II e no V Seminário de Violão Souza Lima, em São Paulo (1994 e 1997, respectivamente), o I Festival de Violão de Guaratinguetá Dilermando Reis (em 1996) e o Seminário Internacional de Violão de Caracas, na Venezuela, em 1997, além de vários outros eventos dedicados ao instrumento.
Brazilian Guitar Quartet
Em 1998 Everton formou, ao lado de Paul Galbraith, Edelton Gloeden e Tadeu do Amaral, o Quarteto Rubio, que após assinar contrato com a Delos International dos Estados Unidos, foi rebatizado como Brazilian Guitar Quartet. A ideia do quarteto partiu de Everton e de Tadeu, durante o Festival de Música Antiga de Curitiba, num momento em que Paul Galbraith queria justamente explorar um repertório para quarteto de cordas no violão.
A estreia do quarteto ocorreu em 9 de maio de 1998, em Cascavel, no Paraná, no X Festival de Música. No dia seguinte, realizaram nova apresentação, dessa vez em Curitiba.
Uma das características iniciais do grupo era a utilização de um violão de oito cordas e um violão afinado uma terça abaixo, aumentando assim a extensão e a tessitura do instrumento. O repertório incluía obras de Torroba (Rafagas), Villa-Lobos (Bachianas Brasileiras n.1) e Brahms (Sexteto op. 18).
No ano seguinte, o Brazilian Guitar Quartet gravou o primeiro CD, Essence of Brazil, com obras de Carlos Gomes, Villa-Lobos, Francisco Mignone e Camargo Guarnieri. Seguiram-se outros importantes registros, tendo o quarteto passado por várias formações diferentes (Paul Galbraith e Edelton Gloeden deixaram o grupo por volta de 2003), estabelecendo-se com Everton, Tadeu do Amaral, Luis Mantovani e Gustavo Costa.
O Brazilian Guitar Quartet já se apresentou centenas de vezes nas Américas, Europa, Ásia e Oceania. Obteve a consagração definitiva em 2011, com o Grammy de melhor lançamento discográfico de música clássica do ano, pelo CD Brazilian Guitar Quartet Plays Villa-Lobos. Foram provavelmente os primeiros violonistas brasileiros a ganhar este prêmio.
Atualmente, Everton mantém suas atividades principais como professor da Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP), como integrante do Brazilian Guitar Quartet e faz eventuais apresentações como solista, além de participações como professor em festivais de música espalhados pelo Brasil.
Link: www.brazilianguitarquartet.com
Discografia
Solo:
-The Classical Guitar in Latin America (1980, OEA)
-J.S.Bach: Obra Completa para Alaúde Solo (1985, independente)
-Recital com obras de Palácios, Ponce, Kaplan e D´Angelo (1995, EGTA)
Com o Brazilian Guitar Quartet:
-Essence of Brazil (Delos, 1999)
-Bach: The Four Suites for Orchestra BWV 1066-1069 (Delos, 2000)
-Encantamento (Delos, 2001)
-Albeniz Iberia (Delos, 2006)
-Brazilian Guitar Quartet Plays Villa-Lobos (2011)
-Spanish Dances, 2014