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Celso Machado

Nascimento: 27/01/1953

Natural de: Ribeirão Preto (SP)

Celso Machado é um verdadeiro showman em world music. Em suas músicas e apresentações, ele toca instrumentos tradicionais de sopros, cordas e percussão de diferentes origens, inclusive corporais. Além de multi-instrumentista, Celso é também reconhecido compositor, com peças para violão, trilhas sonoras para filme e canções.
Celso Machado

Discografia

Por Cristina Azuma

Celso Machado é um verdadeiro showman em world music. Em suas músicas e apresentações, ele toca instrumentos tradicionais de sopros, cordas e percussão de diferentes origens, inclusive corporais. Além de multi-instrumentista, Celso é também reconhecido compositor, com peças para violão, trilhas sonoras para filme e canções.

Celso Machado nasceu em 27 de janeiro de 1953, em Ribeirão Preto, no interior paulista. O pai, Geraldo Machado, conhecido como Tinim, tocava violão tenor na orquestra de danças Tupi, que se apresentava em auditórios ao vivo para a emissora de radio PRA-7, de Ribeirão Preto. Sua mãe era Jesuína Alves Machado.

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Infância

Crescido num ambiente de muita música e futebol, Celso tinha cinco irmãos: Benedito, Eurípedes, Geraldo, José Sérgio (mais conhecido como Filó), e Carlinhos. Todos eles tocavam percussão, inclusive a mãe. Euripedes, Filó e Geraldo jogavam futebol junto a colegas originários de Ribeirão que depois se tornaram famoso craques, como Sócrates, Leão, Eurico e Tadeu Ricci.

Celso Machado perdeu o pai quando tinha apenas dois anos de idade, e sua mãe faleceu em 1965, quando ele tinha 12. Nessa época, o músico da família era Benedito, o irmão mais velho, que tocava guitarra. Filó, a princípio, jogava muito futebol, tendo inclusive participado em 1964 em um filme sobre a vida de Pelé, no qual fazia o papel de Pelé jovem. Depois Filó começou a tocar violão, no grupo New Boys de iêiêiê.

Celso começou a tocar cavaquinho sozinho e, em 1964, apresentou-se na rádio PRA-7 tocando O Barquinho (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli) no cavaquinho, com técnica e afinação próprias. Em 1965, Benedito mudou-se para São José do Rio Preto levando Filó. Em 1966, juntaram-se a eles Celso e Carlinhos, futuros violonista e guitarrista. Em seguida, foi Geraldo, futuro percussionista profissional. Uma curiosidade é que o neto de Benedito é o jogador de futebol Fernandinho Rosa, que participou de duas Copas do Mundo e, até 2022 integrava a Seleção Brasileira.

Em 1967, eles se mudaram para o município de Tupã, e Celso aprendeu a fazer acordes no violão, seguindo os conselhos que Benedito dava a Filó, e tocando apenas nos momentos em que o único violão da casa ficava desocupado (nas horas das refeições). Celso recorda qual foi o violonista que ele viu pela primeira vez na TV. Era Toninho Ramos, tocando a peça Berimbau, de Baden Powell e Vinícius de Moraes.

Conservatório

Celso Machado mudou-se para a cidade de Guararapes (também no interior de São Pauli) no final de 1968, sempre seguindo a carreira de Benedito como músico que tocava guitarra no Conjunto Musical do Francisco Sala, filho do maestro Pedrinho de Guararapes. Foi Francisco Sala e o maestro Granfino que lhe deram as primeiras aulas de teoria.

No conservatório do Pedrinho de Guararapes, Celso aprendeu harmonia. Nessa época, começou a dar aulas de violão ao juiz de direito Nelson Altemani, que lhe deu seu primeiro instrumento, um Giannini. Celso acabou dando esse violão a um aluno dele que morava em um orfanato. Ficou com um velho violão de Filó e que, depois de um acidente com seu instrumento, ganhou um Di Giorgio de um grande amante do violão, o advogado Wilson Marques da Costa. Foi em Guararapes que Celso foi chamado um dia para acompanhar o flautista Carlos Poyares. Foi aí que ele se deu conta de que não conhecia o repertório de choro e passou a escutar discos desse gênero musical.

Já o primeiro disco de violão clássico Celso escutou por meio do padre da cidade, José Mauricio, quando em 1969 lhe mostrou Carlos Barbosa Lima tocando a peça Asturias, de Albeniz. O padre então o levou para ter aulas com Watson Brito, aluno de Simalha Filho, em Araçatuba, onde também teve aulas com Luís Brandini. Esses músicos tocavam composições de Armando Neves. Watson, por sua vez, apresentou Celso a outro professor em Bauru, chamado Geraldo Ribeiro, que estudara com Isaías Savio e falava muito da técnica de Abel Carlevaro.

Celso Machado seguiu sua formação ouvindo muitos discos: Dilermando Reis, Baden Powell, Agustin Barrios, José Oliveira (da Casa Del Vecchio), José Rastelli, José Vicente, Solon Ayala, Echeverria, violonistas paraguaios (como Felipes Sosa e Sila Godoy) música de harpa paraguaia, música argentina, peruana, entre outros.

Em 1972, mudou-se para São Paulo e, no ano seguinte, começou a ter aulas com o professor Oscar Magalhães Guerra, que foi aluno de Atilio Bernadini, que, por sua vez aprendeu com Josefina Robledo, violonista argentina que praticamente estudou com Tarrega.

Com o professor Guerra, Celso visitava Armandinho, que lhe dava suas músicas dedicadas e autografadas para tocar. Armandinho não hesitava em dar partituras de suas composições aos violonistas. Porém os instrumentistas clássicos jamais o colocavam nos seus programas, o que o magoava bastante.

No começo dos anos 1970, viveu em São Paulo, tocando na noite paulistana que na época tinha muitas "feras" musicais. Tinha um grupo com seus irmãos, o quarteto Filó: Filó no piano, Carlinhos na guitarra, Celso no contrabaixo e mais o mineiro Tim na bateria. Celso tocava contrabaixo na noite e estudava violão clássico durante o dia.

Dentre os violonistas dessa época, grandes inspiradores como Toninho Ramos, “que quebrava tudo na noite”; Macumbinha e seu swing; e outros como o irmão de Toninho, Paulinho Ramos, violonista e percussionista; Geraldo Cunha, que acompanhava choro no violão de 6 cordas e tocava com o Manezinho da Flauta; Valfrido de Oliveira Brandão que ele conheceu na Academia de Violão.

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Participou em shows, já como violonista, em boates como Igrejinha (na Rua Santo Antonio com a 13 de Maio, que depois virou Café Society), acompanhando a cantora Maysa com orquestra de câmara sob a regência de Julio Medaglia na série “Julio concerta a Igrejinha”. Neste show participaram Vitor Assis Brasil e o quarteto vocal As Moendas, e Celso tocou a La Catedral de Barrios com um arranjo de Damiano Cozzella para a orquestra. Acompanhou também Nana Caymmi, Simone e Orlando Silva (em 1975, lembrando seu próprio pai, que tinha acompanhado o cantor em 1951 em Ribeirão Preto). Suade, dona da Igrejinha, muito o incentivou.

Na época do programa Som Brasil, apresentado por Rolando Boldrin, acompanhou vários artistas, como Ney Matogrosso, Francis Hime e Emilio Santiago.

Após um show no Ginásio do Corinthians, do qual participaram Gonzaguinha e Ivan Lins, entre outros, Celso participou com seu violão tocando depois de Fagner e Dominguinhos, e fez tal sucesso que voltou para tocar em cada um dos três dias do show. Foi quando conheceu o produtor Marcus Vinicius, que o convidou a gravar em 1977 seu primeiro LP solo, Brasil Violão, com a gravadora Marcus Pereira.

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Em 1980, participou no Festival da Feira da Vila Madalena, onde foi o mais aclamado pelo publico, mas acabou ficando em segundo lugar. Jorge Matheus, Celso e Itamar Assumpção foram os três finalistas. Nessa década, Celso tocou no Teatro Lira Paulistana e no programa Fábrica do Som, na TV Cultura, em duo com Cristina Azuma (1982). Foi também nessa época em São Paulo que conheceu Thierry Rougier, violonista francês que foi muito importante na sua história.

Saiu do Brasil pela primeira vez, indo ao Chile acompanhar a cantora Rosemary, no show de Abelardo Figueiredo, “Meu Brasil brasileiro”. Em 1983, no Festival do Brasil em Londres, Celso viajou sozinho pela primeira vez. O que devia ser uma viagem de um mês, acabou virando uma longa estadia de um ano e meio: perdeu a passagem de volta, se encontrou com Thierry Rougier em Paris e desceram juntos ao sul da França indo ao Festival de Castres para encontrar Robert Vidal.

Em Bordeaux, entrou em contato com Michel Caussanel, organizador do Seminário Internacional de Mérignac. Thierry começou a escrever as composições de Celso e passou a editá-las em 1984 nas edições Henry Lemoine. Em 1985, Celso voltou ao Brasil pra buscar sua mudança, voltando à França no mesmo ano, quando sai um disco em duo com Thierry ao mesmo tempo que suas partituras pela Lemoine. Participou como professor nos Seminários de Mérignac de 1985 a 1988.

Na Itália, entre 1984 e 1985, Celso Machado tocou em duo com Franco Guidetti, que morava em Carpi, especializado em arranjos de Jobim. Franco Guidetti e o brasileiro Irio de Paula, que morava em Roma, eram os especialistas de música brasileira na época. Em 1985, Carlinhos, irmão de Celso, foi para a Itália e tocaram no “trio guitarristico brasiliano”. Tocaram em seguida juntos em duo na França; depois, Itália, em turnê por jazz clubs pela Asso Jazz do Piemonte italiano.

Em 1986, Celso foi para o Canadá pela primeira vez em uma tournée de um mês e meio em festivais de jazz & folk. Ai voltou à França em 1987, e em 1988 partiu novamente para uma turnê de seis meses. Fez um pedido para ficar no Canadá como imigrante e acabou se fixando naquele país. Em 1992, virou cidadão canadense.

Voltou ao Brasil em 1995, para gravar o CD Mistérios do Rio Lento em duo com a violonista Cristina Azuma. Todas as faixas do disco são de composições de Celso. Em 1998, foi à França para tocar em Castres, Monestiers, e no festival Les Nuits Atypiques de Langon.

Morou até 2003 em Vancouver, mudando-se então para a Gibsons Sunshine Coast, um paraíso perto de Vancouver – verdadeira inspiração para a música brasileira que o habita, onde vive até hoje.

Por todo esse tempo, Celso tocou e ensinou em vários países da Europa, no México, Canadá, Estados Unidos, viajando também para a ilha da Réunion, Malásia e Japão.

Como compositor para violão, Celso escreveu inúmeras peças baseadas na tradição brasileira  – choro, samba, ponteio – e outras mais intuitivas com um estilo bem pessoal, como Parazula, Abraço a Neto e Léa e  Mistérios do Rio Lento, tendo escrito desde solos e duos de violões ou com outros instrumentos, a conjuntos de violões (quartetos, octetos). Suas composições são editadas pela editora Henry Lemoine e são gravadas e tocadas mundo afora. Uma das gravações mais prestigiosas é a de Manuel Barrueco tocando Mistérios do rio lento com Andy Summers (guitarrista da banda de rock britânico The Police) no CD Nylon & Steel (Angel Records, NY 2001).

Como compositor de filmes, participou da trilha sonora de The Mountain Gorila, um filme I Max com cerca de vinte músicos de alto nível de vários países, gravada em Toronto em 1992. Fez a trilha para As grandes maravilhas da América do Sul, uma série de 3 videos de 50 minutos cada para o Reader's Digest: “Amazônia e Pantanal”, “Litoral ”, “Montanhas e planícies”, tocando mais de 100 instrumentos, em 1999. Sua música para o filme A Place Called Chiapas composta juntamente com Salvador Ferreras e Joseph Danza foi indicada em 1999 para o Leo Award como melhor música de filme. Em 2000, Celso ganhou o Leo Award com seu trabalho no documentário Company of Fear.  Em 2004 fez a musica para o desenho animado de um autor keniano Charles Githinji, The Magic Lion.

Seus CDs Varal (1997), Jongo Lê (1999) e Capivara (2005) foram indicados ao prestigioso Canadian Juno Award e Capivara foi premiado como World Music Album of the Year. Em 2008, seu trabalho foi novamente indicado ao Juno Award como World Solo Artist of the Year.
 

Discografia como violonista:

Brasil violão (Marcus Pereira, 1977, Brasil)

Homenagem a Canhoto (Copacabana, 1978, Brasil): LP com vários violonistas, extraído de video gravado na TV Cultura de São Paulo. Celso interpreta a "Marcha triunfal brasileira"

Waldir Azevedo ao vivo (Continental, 1979, Brasil): homenagem aos 30 anos de Waldir Azevedo naquela gravadora. Gravado no Teatro Municipal de SP ao vivo, em 21/11/1979, com participação de Isaias e Seus chorões, Carlos Poyares, Ademilde Fonseca, Paulinho da Viola (cavaquinho), Copinha, César Faria, Raphael Rabello, Arthur Moreira Lima, Paulo Moura, Celso Machado e o Trio Elétrico de Osmar. Celso participou da faixa "Pedacinhos do céu", junto com Arthur Moreira Lima e Paulo Moura.

Violão, Celso Machado (Marcus Pereira, 1980, Brasil)

Festival da Feira da Vila Madalena (Continental, 1980, Brasil): vários artistas. Celso interpreta “Improviso nordestino”

Imagens do Nordeste (Collection SIGM - Séminaire International de Guitare de Mérignac -, 1985, França), em duo com Thierry Rougier

Mistérios do rio lento (The Voice of Lyrics, 1998, França), em duo com Cristina Azuma

Discografia como compositor de canções, multi-instrumentista – trabalhos produzidos por Celso Machado pelo seu label Surucuá Art Production

Tupis (1989)

Celso Machado (1990)

Tairã (1992)

Bagagem (1994)

Varal (1997) - indicado ao 1998 Juno Award categoria Best Global Music Recording,

Capivara (2005) - premiado no 2006 Canadian Juno Award categoria World Music, Album of the year

Jongo Lê (Daquí, 1999, França): indicado ao 2000 Juno Award categoria Best Global Music Recording

Jogo da Vida (CBC Records, 2007, Canadá): composições Celso Machado. Com Carlinhos Machado (g), David Virelles (p), Rich Brown (b), Cyro Baptista (d), Eliana Cuevas e Guiomar Campbell (canto) – Ganhou o Radio Canada Galaxie Award e World Solo Artist of the Year. Indicado ao Juno Award e Western Canadian Music Award.

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