Voltar

Aimoré (José Alves da Silva)

Nascimento: 24/06/1908

Falecimento: 05/06/1979

Natural de: Redenção da Serra (SP)

Ficou conhecido por ter feito dupla com Garoto e com Laurindo Almeida e por uma composição, Choro Triste, gravada por Antônio Rago e por Mário Zan. AImoré também foi um dos primeiros a gravar choros de Armando Neves e a transcrê-los em partitura. Foi professor de violão por vários anos. Apesar da diversificada e rica trajetória, Aimoré segue pouco lembrado.
Aimoré (José Alves da Silva)

Discografia

Por Flávia Prando

José Alves da Silva, o Aimoré[1], nasceu em Redenção da Serra, cidade do Vale do Paraíba, interior paulista. Lá iniciou seus estudos musicais (1923) com o maestro Sebastião Patrício, conhecido como Tango, pistonista de bandas do interior, com quem aprendeu a ler o pentagrama e a tocar um pouco de piano. O maestro utilizou o método do italiano Matteo Carcassi para orientá-lo nos rudimentos da técnica do violão.

Em 1928, integrou o conjunto os Chorões Sertanejos, composto por Armandinho (violão); Del Banho (Bandolim), Raul Torres (cantor) e o Moleque (cavaquinho), então apelido do multi-instrumentista Garoto. Na década de 1930, Aimoré formou com Garoto uma dupla de sucesso, Aimoré e Garoto, apresentando-se em diversos estados brasileiros e diferentes emissoras de rádio. Na Rádio Kosmos de São Paulo, fez parte, com Garoto, do conjunto de Hudson Gaia, o Petit. Foi a partir desta época que passou a adotar o pseudônimo de Aimoré, uma vez que havia diversos Zezinhos na radiofonia paulistana.

(O trio formado por José Alves da Silva [Aimoré], Aníbal Augusto Sardinha [Garoto] e Hudson Gaia [Petit]) - Fonte: Jorge Mello

No início dos anos 1930, Garoto adoeceu e Aimoré formou ocasionalmente duo com Laurindo de Almeida, para apresentar uma temporada na Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Com o antigo parceiro reestabelecido, o duo retomou seus trabalhos em São Paulo. A dupla somente se desfez quando Garoto se casou e finalmente fixou residência no Rio de Janeiro (1938). Há um manuscrito na Coleção Ronoel Simões, do choro Alma Brasileira, de Radamés Gnatalli, em adaptação da violonista Yvonne Rebello, copiada por Laurindo e ofertada a José Alves da Silva com uma dedicatória ao final da cópia, apontando a relação de amizade entre os dois violonistas:

Fonte: Coleção Ronoel Simões.

Em 1934, Aimoré executou o Choros nº1, de Heitor Villa-Lobos, na cerimônia de inauguração do Centro Social dos Sargentos da Força Pública[2], que foi irradiada pela Rádio Educadora Paulista, ocasião em que executou também Una Lagrima, de Sagreras. Alguns dias depois, em um programa organizado pelo pianista e compositor paulistano Marcelo Tupinambá, denominado “Hora de arte no salão de Chá da Casa Alemã”, realizado em benefício da Associação dos Pequeninos Pobres, Aimoré executou novamente o Choros nº1[3]. Depois da execução do violonista espanhol Sainz de La Maza (1929), foi a primeira vez que esta peça de Villa-Lobos apareceu nos periódicos consultados. É possível que Aimoré tenha sido o primeiro violonista brasileiro a executar esta peça em São Paulo.

Aimoré foi chefe do regional da rádio Cruzeiro do Sul, que contava com José Sampaio (violão), Santana (cantor), João Carrasqueira (flauta) e Mário Portela (violão tenor). Pouco depois, em 1941, organizou, a convite de Nicolau Tuma - diretor da Rádio Difusora - o regional da emissora, com Miranda (cavaco), Antoninho (clarinete), Ernesto (violão) e Petit (também ao violão), que o havia recrutado no início da carreira.

Na emissora, também executava composições de Agustín Barrios e Francisco Tárrega. No ano seguinte, organizou o conjunto regional da Rádio Piratininga, onde também tocava solos ao violão. Atuou ainda na Rádio América, dirigindo o regional desta emissora. Participou do regional da Rádio Record com Armando Neves (1947).

CLIQUE E OUÇA FAIXAS DESTE LP

Na indústria fonográfica, Aimoré deixou algumas gravações, transitando entre repertório erudito e popular. Em 1953, acompanhou Vanja Orico ao violão na trilha sonora do premiado filme O Cangaceiro, de Lima Barreto. Em 1958, trabalhou com Camargo Guarnieri na trilha sonora do filme Rebelião em Vila Rica, de Geraldo dos Santos Pereira e Renato dos Santos Pereira. A partir de 1950, começou a trabalhar como arquivista do Theatro Municipal, onde permaneceu por 11 anos. Durante todo esse período, continuou como professor do instrumento, até o final da vida, sendo Francisco Araújo (1954) seu discípulo mais expressivo.

Apesar de toda essa diversificada e rica trajetória, Aimoré segue pouco conhecido, mesmo entre os violonistas. Ficou conhecido por ter feito dupla com Garoto e por uma composição, Choro Triste, gravada pelo violonista paulistano Antônio Rago (1916-2008) e pelo célebre músico Mário Zan (1920-2006)[4]. Aimoré sabia ler e escrever partituras e editou algumas músicas de Armando Neves[5]. Ao que tudo indica, o arquivo de partituras de Aimoré foi incorporado à Coleção Ronoel Simões. Nela há diversos manuscritos não assinados e três manuscritos autógrafos que foram encontrados em um caderno de música que pertenceu a Aimoré. Estas partituras foram escritas a lápis.

Trata-se de uma obra significativa e esquecida. As músicas de José Alves da Silva merecem ser disponibilizadas e reabilitadas. São choros e valsas que representam muito bem o período rico em múltiplas influências pelo qual estes músicos estavam passando. Suas músicas são um exemplo da linguagem instrumental que artistas como ele, João dos Santos, Garoto — e tantos outros, que gravitaram em torno da modernidade trazida pela fonografia e radiofonia — desenvolveram, sendo uma das bases para o surgimento da bossa-nova.

É difícil apontar uma razão para o ostracismo de Aimoré. Até porque a maioria dos violonistas brasileiros tiveram suas obras obliteradas e renegadas ao apagamento, não necessariamente por falta de qualidade musical[6]. Pode-se apontar o fato de ele não ter persistido na tentativa de carreira no Rio de Janeiro, como fizera seu companheiro de dupla Garoto. Instrumentistas como Armando Neves[7] e Aimoré optaram por permanecer na capital paulista, provavelmente porque contavam com certa estabilidade, do que tentar a carreira na capital federal, como fizeram muitos músicos paulistas e das mais diversas localidades brasileiras.

De qualquer forma, não havia espaço comercial para solistas de violão. A produção para violão solo destes artistas aconteceu em paralelo às atuações deles como acompanhantes e integrantes dos regionais. A maioria destas obras não foi registrada em partituras ou gravações. Inclusive hábeis instrumentistas e compositores que atuavam no Rio de Janeiro, tais como Rogério Guimarães, Henrique Brito e Glauco Viana, continuam praticamente desconhecidos e poucas de suas obras são executadas nos dias de hoje.

COMPOSIÇÕES

 Celestial

Manuscrito

 

Deslumbramento (valsa)

Manuscrito

 

Valsa 8

Manuscrito

 

Batuque

Manuscrito

Fenício

Choro nº 1

Manuscrito

 

O que faria a Vera

Manuscrito

 

O teu semblante

Manuscrito

 

Ouvindo Histórias

Manuscrito

3 copias; Fenício; Isaías Gomes

Queixumes

Manuscrito

 

Recordações

Manuscrito

 

Samba

Manuscrito

 

Sassaricando

Manuscrito

 

Sonho Infantil

Manuscrito

Duas cópias

Choro Triste

Editado Bandeirantes

 

Valsa sem nome

Manuscrito

Edmar Fenício nomeou de n 1

Vamos resolver

Manuscrito

 

Choro Triste

Manuscrito autógrafo

Caderno do Aimoré

Guarani fantasia

Manuscrito

 

Guarani fantasia

Manuscrito autógrafo

Caderno do Aimoré

Triste

Bandeirantes

1954

Silenciosa

Bandeirantes

1954

Surpresa

Bandeirantes

1954

Noites Brasileiras

Manuscrito

Duas cópias; Edmar Fenício e autógrafo, há ainda um arranjo para orquestra

DISCOGRAFIA

MINUETO NÚMERO TRINTA E NOVE (MINUETO Nº 39)

(W. A. Mozart)

Guiomar Santos / Aimoré 

Copacabana 5459

1955

nº da matrizM-1158

discoCopacabana 5459

lancamentoAgosto 1955

ROMANCE SEM PALAVRAS - OP.62 Nº25

(Mendelssohn)

Guiomar Santos / Aimoré 

Copacabana 5425

1955

SERENATA

(Franz Schubert)

Aimoré  1955 solo

Disco solo com suas músicas e composições de Armando Neves, Aymoré e Seu Violão (1959). Obras:

01 Recordação (Aymoré)

02 Soluções de virgem (Armandinho)

03 Colibri (Armandinho)

04 Amar em segredo (Armandinho)

05 Galho seco (Armandinho)

06 Mafua (Armandinho)

07 Nova era (Aymoré)

08 Surpresa (Aymoré)

09 Quebrando o galho (Armandinho)

10 Silenciosa (Aymoré)

11 O que faria a Vera (Aymoré)

12 Rosas orvalhadas (Armandinho)

BIBLIOGRAFIA

IAFELICE, Carlos. A vida de Aymoré. Correio do Planalto, 24 nov. 1973.

PEREIRA, Fernanda M. C. O violão na sociedade carioca (1900-1930): técnicas, estéticas e ideologias. 2007. Dissertação (Mestrado em Música) − Programa de Pós-Graduação em Música. Escola de Música, UFRJ, Rio de Janeiro, 2007.

PICHERZKY, Andrea Paula. Armando Neves: choro no violão paulista. 2004. Dissertação (Mestrado em Musicologia) − Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2004.

______________________________________________________________________________________________________

[1] Ver análise realizada pela pesquisadora Fernanda Pereira em sua dissertação de mestrado: PEREIRA, Fernanda M. C. O violão na sociedade carioca (1900-1930): técnicas, estéticas e ideologias. 2007. Dissertação (Mestrado em Música) − Programa de Pós-Graduação em Música. Escola de Música, UFRJ, Rio de Janeiro, 2007.

[2] Ver mais sobre a atuação de Neves na dissertação de mestrado PICHERZKY, Andrea Paula. Armando Neves: choro no violão paulista. 2004. Dissertação (Mestrado em Musicologia) − Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2004.

[3] Mário Giovanni Zandomeneghi, conhecido como Mário Zan, foi um acordeonista italiano radicado no Brasil, famoso por compor o hino comemorativo do IV Centenário da cidade de São Paulo. A música Choro Triste, composição de Aimoré e Sereno, foi registrada em 78 RPM, em 1950.

[4] As músicas Colibri, Galho Seco e Pinheirada, Rosas Orvalhadas, Amar em Segredo (todas pela editora Bandeirantes, na década de 1950).

[5] Correio de São Paulo, São Paulo, ano I, n. 267, 24 abril 1934, p. 2.

[6] O Estado de São Paulo, São Paulo, ano LX, n.19777, 14 abril 1934, p. 5.

[7] Boa parte das informações sobre Aimoré foi retirada de um artigo escrito pelo violonista Carlos Iafelice. O artigo encontra-se na Coleção Ronoel Simões, no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo. IAFELICE, Carlos. A vida de Aymoré. Correio do Planalto, 24 nov. 1973.

Ajude a preservar a memória da nossa cultura e a riqueza da música brasileira. Faça aqui sua doação.