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Violonista Tabajara Belo recebe premiação nos EUA com pesquisa sobre improvisação multi-textural​​​

Postado em Cursos, workshops e palestras em 16/03/2022

Violonista Tabajara Belo recebe premiação nos EUA com pesquisa sobre improvisação multi-textural​​​ - Foto: Tabajara Belo

(Tabajara Belo)

Por Fábio Carrilho

Quando pensamos em improvisação ao violão, é quase imediata a sua associação a idiomas musicais consagrados, como jazz, choro e flamenco. Nesta espécie de mainstream da improvisação, recursos musicais presentes tanto no repertório violonístico de concerto quanto em práticas improvisatórias menos consagradas - como a improvisação livre - acabam ficando de fora, apesar de sua aplicação potencialmente interessante em qualquer linguagem musical. Foi buscando expandir os recursos de improvisação no instrumento que o violonista Tabajara Belo desenvolveu sua tese Dez Estudos para Improvisação Multi-textural para Violão Solo. que agora pode ser baixada aqui na Bibiloteca do Acervo.

A pesquisa foi defendida e garantiu a Tabajara a premiação de destaque acadêmico em outubro passado na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. O tema da tese será abordado em breve pelo músico em curso online produzido pelo Acervo Digital do Violão BrasileiroApós cerca de quatro anos residindo na cidade de Gainesville, Tabajara retornou ao Brasil em dezembro passado e aos trabalhos presenciais como professor da Universidade Federal de Ouro Preto, além de outros projetos que está desenvolvendo.

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Violonista Tabajara Belo recebe premiação nos EUA com pesquisa sobre improvisação multi-textural​​​ - Capa CD 2006

Um deles é a produção do documentário Texturas do Pinho: Dez Estudos e outros temas, dirigido pelo músico em parceria com Gabriel Caram, assim como o lançamento de um álbum com essas composições. "Este documentário e o álbum têm como mote minha pesquisa, trazendo a performance dos Dez Estudos e diversos depoimentos de artistas. Parte será gravada em Ouro Preto e outra em Belo Horizonte, no bairro de Santa Tereza, que é o bairro do 'Clube da Esquina' e onde cresci, portanto também é um pouco autobigráfico", antecipa.

Será o terceiro disco de tabajara. O primeiro foi lançado em 2006 e ou outro em em dueto com o flautista Bruno Pimenta. No repertório de ambos, predominam temas do cancioneiro brasileiro em excelentes arranjos para violão e violão e flauta. 

Violonista Tabajara Belo recebe premiação nos EUA com pesquisa sobre improvisação multi-textural​​​ - Foto: Tabajara Belo

(Tabajara Belo)

O conceito de "improvisação multi textural", tal qual apresentado pelo violonista, é derivado de outro conceito, o de "textura musical", que está relacionado à maneira como os sons estão organizados na trama musical. Tipos clássicos de texturas que trabalham com alturas, as chamadas "notas musicais", incluem as monodias (uma única linha melódica), as homofonias (linhas melódicas harmonizadas em bloco), as polifonias (linhas melódicas independentes) e as melodias acompanhada (linhas melódicas acompanhadas por acordes). Por outro lado, sonoridades não-convencionais, como as que estão presentes na música contemporânea ou na música eletrônica, podem formar categorias texturais próprias a partir das massas sonoras produzidas.   

"No caso da improvisação no violão, vemos basicamente a utilização da monofonia, as linhas melódicas simples, alternadas com homofonias, que seriam os acordes de bloco, chamados no jazz de chord melody, que é algo similar a um coral barroco. É algo muito polarizado", explica Tabajara Belo. Em sua pesquisa, o músico, que cita o violonista americano Ralph Towner como referência de improvisador multi textural, buscou ir além, explorando outras texturas na improvisação, como o contraponto e as melodias acompanhadas, além de efeitos próprios do instrumento. "O contraponto é pouco explorado na improvisação, assim como as melodias acompanhadas fora do contexto do chord melody. É uma conotação plural, por isso agrego efeitos como harmônicos, campanellas, técnicas estendidas e efeitos percussivos que acabam se configurando como texturas", argumenta.

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Violonista Tabajara Belo recebe premiação nos EUA com pesquisa sobre improvisação multi-textural​​​ - Capa CD: Tabajara Belo e Bruno Pimenta

O eixo central de sua tese são os Dez Estudos autorais, os quais começaram a ser compostos bem antes de seu ingresso no Doutorado na Universidade da Flórida. Por sinal, a peça Estudos para Improvisação Multi-textural (segundo movimento) ficou em segundo lugar no concurso de composição Novas 3, cuja partitura foi lançada pelo Acervo e pode ser baixada gratuitamente no banco de Partituras. O Acervo também lançou esta música em vídeo com o próprio Tabajara.

"Comecei a escrevê-los em 2011 e os primeiros têm uma característica mais espontânea. Até o sexto movimento, cada estudo é dedicado a uma escala, então há essa restrição de alturas. A partir do sétimo movimento, foi um pouco mais cerebral", conta o violonista. Os estudos, apesar de fazerem parte de um trabalho voltado à improvisação, são composições propriamente ditas, e não transcrições de improvisações gravadas. "Ficava brincando e testando efeitos. Não era o caso de gravar, mas de ir selecionando os elementos texturais que considerava relevantes. Pensei em situações que poderiam surgir, abordagens dodecafônicas, seriais", revela.

A aplicação dos recursos multi-texturais, tal qual destacada no título de sua tese, é voltada para a improvisação no contexto solo, ou seja, sem acompanhamento. "Para outras formações, é necessário observar alguns critérios, como os registros dos instrumentos que se adicionam. Em meu duo de violão e contrabaixo, embora tenha mais uma voz, posso utilizar todas as texturas de quando trabalho solo", explica. "Quando se adiciona bateria ou percussão, às vezes, deve-se fazer um enxugamento ou algo mais planejado para que o adensamento das texturas funcione", sugere.

Para aqueles que se interessam pelo tema, por volta do mês de junho está previsto o curso online sobre improvisação multi textural produzido em parceria com o Acervo Digital do Violão Brasileiro. "No curso, trabalharemos ideias multi texturais presentes nos meus estudos envolvendo tanto o improviso modal quanto situações tonais típicas como cadências e progressões de acordes. A ideia é multiplicar e amplificar as texturas na improvisação", adianta. Interessados no curso podem fazer pré-reserva ou tirar dúvidas pelo whatsapp (11) 97615-8514 ou contatos@violaobrasileiro.com.br

Em relação a sua experiência de quatro anos na Universidade da Flórida, o músico, que já está de volta ao Brasil para aulas na Universidade Federal de Ouro Preto, faz um balanço bastante positivo. "Recebi certificado de destaque acadêmico concedido pelo Centro Internacional, núcleo responsável pelos alunos estrangeiros da instituição. Esse prêmio avalia não só o desempenho nas disciplinas, mas inclui minha participação como pesquisador, bolsista e professor assistente, além de minha atuação artística", diz.

Quanto à receptividade de sua pesquisa pela comunidade de violonistas, o interesse, segundo ele, também foi alto. "Nos Estados Unidos existe essa grande capilaridade entre os gêneros populares e eruditos. Muita gente de jazz gosta de música contemporânea, e vice-versa. Encontrei um ambiente muito arejado do ponto de vista das ideias e das possibilidades", comenta.

 

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