Violonista Silvia Ocougne participa de live com Mário Manga, Vladimir Bomfim e Cristina Azuma
(Silvia Ocougne)
Por Cristina Azuma
Quando fez as malas pra morar na Alemanha em 1987, a violonista e compositora paulistana Silvia Ocougne levou seu arsenal de violões, violas caipiras, craviola. "Mas devido à falta de umidade no país, todos eles entortaram e quebraram. E ao invés de jogá-los fora, decidi utilizar esses instrumentos no campo da música experimental, modificando sonoridades por meio de certos tipos de cordas e objetos, passando a explorar bastante essa área musical", recorda ela. O episódio será um dos temas da live que Silvia realiza neste sábado (12/06), às 15h, no Youtube e no Facebook do Acervo Violão Brasileiro.
Musicista eclética e grande representante em performance de improvisação livre e instant composition, Silvia Ocougne vai mostrar alguns de seus instrumentos, exibir trechos de vídeos ao longo da conversa que terá com a violonista Cristina Azuma. Quem também estará na live é o multi-instrumentista e produtor Mário Manga (integrante de bandas como Premê e Música Ligeira e de artistas como Ná Ozzetti) e Vladimir Bomfim, violonista que tem desenvolvido pesquisas sobre a obra de Walter Smetak.
Mediado por Alessandro Soares, a live faz parte do projeto Violão Brasil Europa, que tenho realizando para o Acervo, com a proposta de difundir o trabalho de instrumentistas brasileiros singulares que fizeram carreira na Europa, sendo mais conhecidos lá fora do que no Brasil.
Silvia Ocougne - crédito foto: Renata Chueire)
Os discos que gravou em duo com os parceiros violonistas Carlo Domeniconi e Chico Mello, também estão na pauta. Assim como os grupos como os quais ela tocou na Alemanha, como The XIIIth Tribe (entre 1991 e 1998), Armchair Traveller (de 1999 a 2012). E também a plataforma Imaginäre Musik, que ela criou em 2017 para músicos que trabalham com música experimental e que constroem ou preparam seus instrumentos.
Desde quando ainda vivia no Brasil, Silvia já compunha para diversos instrumentos com ou sem preparação, fazia instalações com artistas plásticos, música experimental para filmes, trabalhando sempre a busca de todo tipo de som com o violão.
Início da carreira
Nascida na capital paulista, Silvia passou a ter aulas com os professores Manoel São Marcos, Carlos Castilho Paulo Herculano no começo dos anos 1970. Entre 1974 e 1983 participou como alaudista dos grupos Folifonia, Paraphernalia e Estampie de Música da Idade Média e Renascença.
(Silvia Ocougne no Conjunto Folifonia, Metro Sao Bento Sao Paulo 1975)
Entre 1975 e 1981 fez bacharelado na ECA-USP em composição, pois o violão não era aceito como instrumento. Seus professores foram Willy Corrêa de Oliveira e Gilberto Mendes. Seus colegas de turma eram os integrantes do grupo Premeditando o Breque, Hermelino, Ana Cristina do Folifonia e a Atsuko, e vários dessa turma tocavam violão. Entre 1980 e 1983 participou do grupo de Música Novíssima com os colegas da ECA, e entre 1981 e 1983 foi violonista e guitarrista do grupo de música experimental Hermelino e Santos Futebol Club. De 1982 a 1984 teve aula de harmonia e contraponto com Hans Joachim Koellreuter.
Em 1984 ganhou uma bolsa para cursar o mestrado em improvisação (third stream) no New England Conservatory of Music (NEC), em Boston, que terminou em 1986 com honras acadêmicas e distinção em performance ao violão. Essa corrente musical nasceu com Gunther Schuller, que foi presidente do NEC e, ao princípio, deveria ser uma fusão da música clássica com o jazz, terminando por ser um estudo de todas formas de improvisação (étnica, livre, contemporânea, instrumental) aberto a novos sistemas musicais e novos horizontes. Silvia também estudou com Ran Blake (pianista), de quem foi assistente, e ainda com Mick Goodrick (violão improvisação) e mais David Leisner (violão clássico).
De 1988 a 2000, Silvia fez um duo de música contemporânea para dois violões com Carlo Domeniconi, com quem gravou dois CDs um de duos, outro de dois violões e orquestra, e mais um CD em 2007 com outra peça de música de câmara. A partir de 2015 voltaram a tocar juntos em concertos de improvisação livre com material gravado que ainda não saiu em CD.
Teve um duo de Música Experimental Brasileira (1987-2002) com o compositor, violonista e cantor curitibano Chico Mello com quem fez vários concertos e gravou dois Cds. Ao mesmo tempo tocava música brasileira em turnês com o grupo Blue Samba (de 1888 a 1992), com o grupo Indigo (1987 a 1991) e em duo de violão e bateria com Armando Chu (1989 a 2000).
Seguiu um curso de música experimental com Dieter Schnebel, na UDK, a universidade de arte de Berlim (88-89). A partir de 1989 deu aulas em diversas oficinas de violão, percepção musical e improvisação na Alemanha (III Berliner Gitarrenforum, Berliner Gitarrenverein), no Brasil em SP (Sesc), BH (Palacio das Artes), Buenos Aires e Suiça. De 1990 a 1998 foi guitarrista da Orchestra for Excited Strings, de Arnold Dreyblatt – guitarra elétrica não temperada.
De 1996 a 2003 teve aulas de alaúde árabe e música clássica árabe com Farhan Sabbagh, para sair do sistema tonal e ampliar a percepção musical.
Em 2004 participou como compositora no projeto piloto QuerKlang, de composição de música experimental em escolas públicas, um projeto da UDK em colaboração como Festival März Musik Berlim, projeto no qual participou novamente em 2007 e em 2018/19.
Em 2005, como co-curadora do festival März Musik em Berlim, trouxe de Salvador os instrumentos de Walter Smetak (cellista suiço, que morou na Bahia e que inventava instrumentos, entre eles violões eólicos, inspirador do Uakti, professor de Caetano Veloso, Capinam e Gilberto Gil) e em 2018 participou de um outro projeto Smetak pelo qual tocou em duo com Chico Mello.
De 2003 a 2011, foi docente em vários cursos no departamento de música contemporânea da UDK, Berlim (curso de improvisação e instant composition e sobre a relação entre MPB e música contemporânea no Brasil) num simpósio de música contemporânea na America Latina, UDK, HAU3 Berlim (processo criativo, 2009). Em 2007, fez workshop de música brasileira na Faculdade de Música de Dresden, em 2011 ensinou composição na Academia Europeia Montepulciano, Palazzo Ricci na Italia.
Como violonista, Silvia Ocougne fez varias primeiras audições alemãs e mundiais de peças de La Monte Young, David First, John Zorn, Henriette Nick, Carlo Domeniconi, Chico Mello, Igor Lintz Maues, Nikos Drelas, Daniel Ott, Laurence Schmidt, Corium Arahonian, Graciela Paraiskaidas, Fast Forward, Arnold Dreyblatt, Livio Tragtenberg, Vitold Zalonek, Leo Masliah, Louis Vierk, Stephanie Schweiger, entre outros.