Violonista Octávio Deluchi fala de sua aprovação para doutorado em três universidades nos Estados Unidos
(Octávio Deluchi)
Entrevista a Fábio Carrilho
Natural de São João Del-Rei, Minas Gerais, o violonista Octávio Deluchi, 24 anos, foi aprovado recentemente não apenas em um programa de pós-graduação nos Estados Unidos, mas em três. Johns Hopkins, na cidade de Baltimore; Manhattan School of Music, em Nova Iorque; e Stony Brook University, em Long Island, foram as instituições que reconheceram os méritos artístico-acadêmicos de Deluchi, que concluiu seu Mestrado em Performance na Universidade de Radford no ano passado.
O músico optou pela Stony Brook, onde conseguiu bolsa integral para as despesas com o ensino e terá como orientador outro brasileiro, o violonista João Luiz Resende Lopes. A briga agora é por conseguir custear as despesas com transporte, moradia e permanência no país, ainda mais em época de real altamente desvalorizado. Se na época do Mestrado Deluchi atuava como professor assistente em Radford, para o Doutorado o violonista ainda não tem emprego garantido em Long Island. Por isso está realizando campanha de financiamento coletivo para que consiga iniciar o curso enquanto procura trabalho por lá.
(Octávio Deluchi)
Um dos mais ativos e brilhantes solistas de sua geração, Octávio é vencedor em mais de 15 prêmios nacionais e internacionais, a exemplo do IBLA Grand Prize de 2020, organizado pela Fundação IBLA, sediada em Nova Iorque, e realizado na Itália. E também o do Festival Internacional de Música da Filadélfia, nos Estados Unidos. Em 2019, ganhou em 1° lugar no Concurso de Violão de Charllotesville, Virginia - EUA. No mesmo ano foi também o primeiro colocado no Concurso Nacional de Violão Musicalis (2016), em São Paulo e mais 2° lugar no III Concurso de Violão Fabio Lima (2019). no Paraná.
APOIE A CAMPANHA PARA O DOUTORADO DE OCTÁVIO DELUCHI
Antes de desembarcar nos Estados Unidos nesta quinta-feira (12/08), Deluchi nos deu essa entrevista. Ele fala de sua campanha para arrecadar fundos para seu Doutorado, comenta sobre como funcionam os programas de pós-graduação de Violão nos Estados Unidos e da estratégia adotada para conseguir ser admitido. Também destaca seus outros projetos atuais, como membro do coletivo AssoVio Vertentes e dos lançamentos que fará no segundo semestre pelo Acervo Digital do Violão Brasileiro envolvendo a obra Prelúdio e Dança nº 4, de Luis Carlos Barbieri, em vídeo e em partitura.
Acervo Violão Brasileiro - Como é o processo de seleção para pós-graduação nos Estados Unidos?
O processo é um pouco diferente do que no Brasil. Cada instituição tem uma certa independência em relação às outras. Mesmo caso pertencentes ao mesmo sistema estadual, federal ou privado de ensino. Tanto para o mestrado quanto para o doutorado, fiz a inscrição remotamente. No caso do mestrado, por estar no Brasil, e no Doutorado pelo fato de as instituições estarem trabalhando de forma remota por conta da pandemia.
Para o doutorado, enviei currículo, cartas de recomendação, mais de 60 minutos de gravações feitas para a ocasião, trabalhos de pesquisas acadêmicas e entrevista. O repertório exigido era diverso para cada instituição. Então montei um que abrangesse todas as minhas necessidades, em consonância com os locais inscritos. Para estudantes internacionais, é também pedido comprovante de fluência no inglês, caso queira concorrer a bolsas. Não foi necessário no meu caso para o doutorado, uma vez que já tenho um título (de mestrado) em uma instituição estadunidense, juntamente com a experiência de professor assistente. A partir daí, você concorre junto com outros inscritos, e as bolsas são a nível de departamento. Ou seja, apesar de terem um certo número de vagas para cada instrumento, as bolsas e incentivos financeiros são concorrência de todos no departamento de música.
Quais são os tipos de programa de pós-graduação de violão nos Estados Unidos? Na sua opinião, no que os programas americanos se diferenciam em relação a outros países?
A grande diferença é que hoje nos EUA existe uma oferta no que conhecemos como Mestrado ou Doutorado em Performance, no qual o foco se torna a experiência em palco, em contraposição à pesquisa científica. Isso é bastante relevante no âmbito musical. Existem programas no Brasil com essa característica, mas eles ainda são poucos e recentes. No caso do doutorado, temos o PhD, que seria o acadêmico-científico, como conhecemos no Brasil, e o DMA, que significa "Doctor of Musical Arts". Temos também que pesquisar e escrever academicamente, mas o foco é direcionado à performance, com 6 recitais obrigatórios, contemplando o violão solo, música de câmara, concertos, e recitais-palestra, tudo isso ainda dentro do doutoramento. O tempo médio é de 8 semestres, mas com prazo mínimo de 6 semestres e máximo de 10.
(Octávio Deluchi)
Qual será o seu projeto de doutorado na Stony Brook University?
Ainda não temos um projeto definido. Isso será melhor delineado ao longo do primeiro ano. Antes de ingressar no programa de doutorado, foquei meu trabalho na expansão e fomento do repertório brasileiro e acredito que tal área será contemplada no projeto final.
Como foi o seu projeto de mestrado na Radford?
Na condição de um Mestrado em Performance, promovi três recitais com programas diferentes, ao longo de quatro semestres, que contemplaram repertório solo, arranjos, música de câmara e concertos. No caso, não focamos em um compositor específico, mas sim nas demandas dos concertos. Além, é claro, das participações e atividades em outros programas, como a estreia de obras de compositores ou participação na orquestra de cordas. Nos dois últimos meses de Mestrado, foram cerca de seis concertos presenciais, nas mais variadas formações. Também publiquei um conjunto de arranjos e composições chamado Four Brazilian Pieces, que está disponível pela Guitar Chamber Music Press, editora estadunidense.
O fato de ter o João Luiz Resende Lopes como orientador foi algo que influenciou na sua decisão por Stony Brook?
Sem sombra de dúvidas. Foi um dos fatores que mais pesaram na hora da escolha. João é um grande músico, enquanto instrumentista, compositor e professor. Essa admiração se deu especialmente quando tive a oportunidade de conhecê-lo, no ano passado, em um projeto da Brazilian Classical Guitar Community (BCGC). Esses três pilares, ao meu ver, são complementares, e são áreas em que atuo, em diferentes proporções.
Como tem sido a sua campanha de apoio ao seu curso de Doutorado?
Lancei uma campanha de financiamento coletivo pela plataforma Abaca$hi. Foi criada principalmente após a manifestação positiva e de interesse de muitos colegas e conhecidos. Tenho no meu site uma página permanente também feita para doações, pelo PayPal ou Pix.
Os recursos captados serão utilizados exclusivamente para a manutenção dos primeiros meses de estadia no local, até me estabilizar. Felizmente, tenho uma bolsa integral por parte da instituição, o que faz com que os custos de estudo sejam cobertos. Mas ainda assim são necessários recursos para custear mudança, moradia, transporte, seguro de saúde, e taxas, por exemplo.
Para além do doutorado, como andam suas atividades de concertista e de produtor junto à AssoVio Vertentes (Associação de Violão das Vertentes)?
Por motivos geográficos, eu havia me afastado da AssoVio Vertentes em 2019, com minha ida aos Estados Unidos. Com o ambiente online remoto, felizmente pude voltar a contribuir com o grupo, que hoje conta com um time de seis pessoas, quatro delas em São João Del Rei, e duas que atuam de maneira remota, na qual me incluo. Para 2021, decidimos não fazer o tradicional Circuito de Violão, realizado desde 2017. Acreditamos que a principal proposta de nosso grupo é a atuação regional no Campo das Vertentes, e não necessariamente promoção de eventos cujo público alvo seja nacional. Claro, se contemplarmos as duas coisas melhor ainda, mas o foco é na região. Por isso, o Circuito de Violão volta em 2022. E neste ano de 2021 teremos o Festival Escrita Fina - Composição em Pauta, no qual realizaremos a estreia de dezenas de obras para violão solo, de compositores já consagrados e de selecionados no edital que foi encerrado na última semana. Foram quase 40 inscrições, o que sinaliza que temos uma profusão de compositores para violão ao redor do país. As obras serão estreadas por membros da AssoVio Vertentes e convidados. Alguns dos compositores que já recebemos obras são Diego Salvetti, Rogério Constante, Juliano Camara, Daniel Wolff, e muito mais. Em breve a programação completa será divulgada.
(Capa Partitura Luis Carlos Barbieri)
Como serão as partituras e vídeos a serem lançados nos próximos meses pelo Acervo Digital do Violão Brasileiro envolvendo a obra "Prelúdio e Dança nº 4", de Luis Carlos Barbieri?
Estou bastante animado com esse projeto. Conheci o compositor em junho de 2019, em um concerto no Rio de Janeiro, promovido por ele. Na ocasião, Barbieri havia comentado sobre uma obra recém composta, um mês antes, em homenagem a Sergio Roberto de Oliveira. Fiz a primeira audição desta obra no mês seguinte no Festival de Música de Prados. Nos EUA, a peça foi estreada em abril de 2020. Em 2021, ao colocar a obra no meu concerto final de mestrado, me recordei que a partitura dela ainda não havia sido editada. Havia só o manuscrito. Conversei com o compositor, que aceitou prontamente o projeto, e dei prosseguimento. Será lançada exclusivamente pelo Acervo, com prefácio de minha autoria, em português e inglês, revisão do compositor, e capa e versão final de Ricardo Dias. Espero poder contribuir futuramente em muitos outros projetos com o Acervo.
(serviço)
Campanha de Financiamento Doutorado EUA Octávio Deluchi
https://abacashi.com/p/doutorado-nos-eua
https://www.octaviodeluchi.com/donate