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Tesouros do violão descobertos na Coleção Ronoel Simões são temas de palestras e recital no Centro Cultural SP

Postado em Coluna Alessandro Soares em 19/10/2022

Tesouros do violão descobertos na Coleção Ronoel Simões são temas de palestras e recital no Centro Cultural SP - Foto Ronoel Simões

(Ronoel Simões)

Por Alessandro Soares

Envolto na sua muralha particular de discos, fitas e partituras de violão – que passou a vida inteira construindo - o pesquisador e colecionador Ronoel Simões (1919-2010) me deixava apreensivo quando subia na escadinha pra pegar alguma coisa na estante e me mostrar. Imaginei o risco daquele homem de 80 anos cair. Mas nada. A disposição pra falar do instrumento era impressionante. Só pude visitá-lo umas duas ou três vezes, sempre na casa, na Dr. Luiz Barreto.

Passados 12 anos da sua morte, Ronoel continua abrindo novos horizontes do violão brasileiro e servindo de base para inúmeras pesquisas e álbuns lançados recentemente. Isso ocorre por meio do seu gigantesco acervo, que atualmente se encontra na Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000, bairro do Paraíso). Alguns resultados dessa usina criativa e da memória cultural serão apresentados nesta quarta-feira (19/10), em três eventos, das 16h30 às 20h, na Colação Ronoel Simões, que fica A entrada é franca, mas vale se inscrever pelo site do CCSP.

As palestras ficam por conta do coordenador da Discoteca Oneyda Alvarenga, Aloysio Nogueira, do violonista e funcionário da Discoteca, Jefferson Mota e do violonista e pesquisador Humberto Amorim. E tem ainda Thaís Nascimento, que vai fazer  o recital de lançamento do CD Expressivas.

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O primeiro evento é a mesa Coleção Ronoel Simões: desafios e perspectivas, formado pelo coordenador da Discoteca Oneyda Alvarenga, Aloysio Nogueira, e pelo violonista e funcionário da Discoteca, Jefferson Mota. Eles vão dar um panorama sobre a fundamental importância de Ronoel Simões para a história do violão na América Latina. Reconstituir a chegada desse acervo no CCSP e também mostrar o trabalho de catalogação, o atendimento ao público até agora e o que está por vir, com a digitalização dos materiais.

Jefferson Mota tem feito um trabalho incansável de organizar e facilitar o acesso dos conteúdos, tanto para pesquisas acadêmicas quanto para atividades artísticas. Inclusive a pesquisa de Mota sobre o violonista, produtor e compositor Rogério Guimarães tem como principal fonte a coleção de Ronoel. Outros músicos e pesquisadores como Edmar Fenício e Luciano Lima também continuam pesquisando por meio desse acervo. 

Tesouros do violão descobertos na Coleção Ronoel Simões são temas de palestras e recital no Centro Cultural SP - Foto Aloysio Nogueira

(Aloysio Nogueira)

Outro exemplo de projeto que tem como fonte a Coleção Ronoel Simões é o da violonista e pesquisadora Flávia Prando. De 2016, quando iniciou esse trabalho, até recentemente, quando ganhou a primeira menção honrosa no Prêmio Silvio Romero do IPHAN pela sua tese acadêmica, Flavia trouxe à tona vida e obra de vários personagens esquecidos da história do violão em São Paulo.

São figuras como Theotonio Gonçalves Côrrea (1846-1892), Práxedes Gil-Orozco Bastidas (1857-1916), Alberto Baltar (c.1870- c.1940), Antonio Estanislau do Amaral (1869-1938) e Mário Amaral (c. 1895-1926), Antonio Giacomino (c.1905 - c.1960) João Avelino de Camargo (1880-1936), Theotonio Côrrea (1881-1941) e João Reis dos Santos (1886-1950). Neste ano, Flavia Prando e Ivan Paschoito lançaram partituras e minibiografias desses pioneiros nos álbuns de partitura Violões na Velha São Paulo, em dois volumes, disponíveis na Loja Violão Brasileiro.

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Em seguida, às 17h30, ocorrerá a segunda mesa, na qual Jefferson entrevista o violonista e pesquisador Humberto Amorim com o tema A presença do violão nos acervos musicais: perspectivas para a historiografia do violão brasileiro. “Farei uma apresentação panorâmica de documentos, partituras, artefatos e instrumentos coligidos em 44 coleções e que vão da primeira metade do século XIX à década de 1930”, afirma Amorim.

Humberto tem feito uma verdadeira revolução no campo determinadas pesquisas históricas sobre violão, a partir de suas constantes visitas em acervos como Biblioteca Nacional, Biblioteca Alberto Nepomuceno, Museu Imperial, Museu da Música de Mariana, Instituto Moreira Salles, Acervo João Mohana, Museu Villa-Lobos, Fonoteca Pernambuco de Oliveira, Acervo Mozart de Araújo, Biblioteca Municipal do Porto e Museu da Imagem e do Som.

Tesouros do violão descobertos na Coleção Ronoel Simões são temas de palestras e recital no Centro Cultural SP - Foto Humberto Amorim - Crédito: Fer Brizard

(Humberto Amorim - Crédito: Fer Brizard)

As andanças de Amorim por Portugal também estão no roteiro da conversa. Em dezembro de 2019, o Acervo Violão Brasileiro noticiou que ele havia descoberto 16 edições do periódico O Guitarrista Moderno, que foi lançado em 1857, no Rio de Janeiro, com a colaboração do músico espanhol Fernando Hidalgo. Trata-se do primeiro periódico sobre violão publicado no Brasil e que abriu um novo campo de estudos na musicologia brasileira. “Agora irei apresentar novos números do Guitarrista Moderno (1857) descobertos em 2022. Ao todo são 30 números e descobri até o 29”, antecipa.

Além da sua vastíssima coleta materiais bibliográficos muito raros (livros, partituras, revistas), Humberto inaugurou nova frente de buscas, que são os instrumentos antigos e os pioneiros luthiers. “Vou mostrar no evento de hoje três instrumentos raríssimos: o mais antigo violão da Tranquilo Giannini de que se tem notícia; o único Bevilacqua que se conhece e um instrumento raríssimo da Casa Lyra”.

E mais: Humberto Amorim também vai comentar sobre as iniciativas que está realizando em parceria com o Acervo Violão Brasileiro: a criação do Memorial do Violão Brasileiro, a coleção de instrumentos raros e as edições da série de partituras Pioneiros do Violão no Brasil.

Os primeiros títulos da série estão sendo lançados nesta quarta-feira (19/10), que são partituras originais inéditas do violonista, arranjador e professor Quincas Laranjeiras (1873-1935). São elas Andantino, Sabará, Polca e Valsa para Violão, em edições prática e diplomática, disponíveis apenas em formato digital PDF, e exclusivamente pela Loja Violão Brasileiro. Até então jamais se sabia que Quincas Laranjeiras havia deixado dezenas de composições, que Humberto só agora conseguiu trazer à tona. 

Encerrando o ciclo de eventos desta quarta, Thaís Nascimento fará o primeiro concerto presencial de lançamento do ótimo CD Expressivas - Mulheres Compositoras para Violão. O recital começa às 19h e terá participações de Mônica Camargo, Laura Campaner, Luz Gonçalves e Camilla Silva. Thaís vai interpretar peças de sua autoria e também de Lúcia Teixeira, Clarisse Leite, Elodie Bouny, Lina Pires de Campos, Laura Campaner, Chiquinha Gonzaga e Luz Gonçalves.

Lançado em concerto online em janeiro de 2021, o disco de Thaís foi perfilado em matéria do Acervo. O trabalho é dedicado à memória da violonista, professora e pesquisadora Mayara Amaral (1989-2017). Também está disponível no Acervo a dissertação Música e gênero na universidade - levantamento e análise musical feminista sobre mulheres compositoras para violão, que Thaís defendeu recentemente e uma das fontes para realizar a pesquisa foi a Coleção Ronoel Simões. Assim a história do violão vem tomando novos rumos. E é apenas o começo.

 

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