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Que ladeira é essa. Minidoc analisa obra de Gilberto Gil e seu violão criativo

Postado em Lives de Violão em 23/06/2021

Que ladeira é essa. Minidoc analisa obra de Gilberto Gil e seu violão criativo - foto Gilberto Gil

(Gilberto Gil, início 1970)

Da redação

Em 1973, em plena ditadura militar no Brasil, o cantor e compositor Gilberto Gil fez um show de cerca de três horas na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), organizado pelo movimento estudantil. O artista baiano retornara de seu exílio em Londres havia cerca de um ano e a atmosfera no país era de inquietude política e cultural. Neste concerto, entre sambas, baiões, rocks, ijexás, bossas e pitadas de blues e jazz, Gil demonstrou com maestria sua celebrada técnica de voz e violão. O áudio desta apresentação histórica só veio a público nos anos recentes (presente no CD Gilberto Gil Ao Vivo na USP.

Pois este é o tema do minidocumentário GIL 73 USP Ladeira da Preguiça, dirigido pelo violonista e pesquisador Almir Côrtes, que também é professor do Instituto Villa-Lobos da UNIRIO. O vídeo é dividido em duas partes (20 minutos, cada). A primeira parte foi lançada em 9 de junho e nesta quarta-feira (23/06), às 19h, é a estreia da segunda parte, nos canais do Youtube e Facebook de Almir Côrtes e do Acervo Violão Brasileiro (apoiador da iniciativa).

ASSISTA AO MINIDOC GIL 73 USP - PARTE 2

Em seguida, nesta quarta (23/06), às 19h20, haverá bate papo ao vivo assim que terminar o doc, com Almir, junto com o músico e aluno do bacharelado da Unirio, Filipe Sousa, e o violonista, guitarrista e professor da UFRGS, Paulo Inda, com mediação do produtor e jornalista Alessandro Soares. O minidoc e a live derivam do projeto de pesquisa “Gilberto Gil ao vivo na USP, 1973 – Voz e violão em contexto", realizado por Almir.

Que ladeira é essa. Minidoc analisa obra de Gilberto Gil e seu violão criativo - capa CD Gilberto Gil Ao Vivo USP

O repertório do show na USP é formado por músicas do então último disco, Expresso 2222, de 1972, e temas à época inéditos. A performance de Gil evidenciava a sua apropriação de elementos musicais brasileiros e internacionais, bem como a sintonia dele com os ideais da contracultura. Entre as composições inéditas do show estava Ladeira da Preguiça. “Esse é um sambinha que eu fiz há pouco tempo”, disse Gil na ocasião. A passagem aparece na parte 1 do minidocumentário “Gilberto Gil 73 USP – Ladeira da Preguiça”, que pode ser assistido pelo link no final desta matéria.

ASSISTA À SEGUNDA LIVE SOBRE O PROJETO GIL 73 USP

A primeira parte do documentário detalha as diferenças fundamentais das versões ao vivo e de estúdio de Gil, e também da gravação de Elis. Com roteiro de Côrtes e dos pesquisadores Tássio Ramos e Filipe Sousa, o filme traz também a curiosa inspiração por trás da composição – uma ladeira em Salvador – e tenta explicar a controversa mitologia em torno da preguiça baiana, a qual Gilberto Gil aborda de maneira bem-humorada em sua canção.

Ladeira da Preguiça, chamada por Gil de sambinha, é considerado um samba moderno, ou ainda um samba-jazz. No doc, os pesquisadores Joana Saraiva e Gabriel Improta são convidados a abordarem a questão estilística desses subgêneros do samba e como a obra de Gil dialoga com essa vertente.

Que ladeira é essa. Minidoc analisa obra de Gilberto Gil e seu violão criativo - foto Almir Côrtes - crédito foto: Isabela Senatore

(Almir Côrtes - crédito foto: Isabela Senatore)

Destaca-se também a abordagem técnica que o professor Almir Côrtes descortina entre a diferença na execução da canção na USP e na versão de estúdio lançada em 1999 no CD Cidade do Salvador. “Gilberto Gil lida com a composição de uma forma muito livre e flexível”, explicou Côrtes em live realizada pelo Acervo Digital do Violão Brasileiro para debater a produção do minidocumentário.

Almir Côrtes - crédito foto: Isabela Senatore - Capa CD Cidade de Salvador

(Capa CD Cidade de Salvador)

Na segunda parte do minidocumentário, Almir destaca mais ainda as características do violão criativo de Gil, incluindo as levadas de mão direita, a maneira de uso de polegar e indicador, formas de cordas soltas, tipos de acordes, figurações e variações rítmicas, a mistura de samba e ijexá, entre outros aspectos. Tudo isso relacionado com o canto de Gil. Almir também toca os principais trechos da música Ladeira da Preguiça, exibindo a partitura.  

Comandado por Alessandro Soares, o papo virtual recebeu Almir Côrtes e Tássio Ramos para se aprofundarem na importância da obra de Gil e na realização dos estudos acadêmicos sobre a música popular brasileira, e também investiga os desafios na transcrição das canções pelos pesquisadores.

O show

O evento musical fazia parte do esforço estudantil em promover espaços de debate e denúncia contra a repressão do regime ditatorial iniciado em 1964, e do qual Gilberto Gil havia sido uma vítima emblemática: ele o parceiro Caetano Veloso foram forçados a se exilar em 1969, após serem presos acusados de subversão em dezembro de 1968, pouco após a implementação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5).

Ladeira da Preguiça havia sido composta a pedido da cantora Elis Regina, que a gravou em seu álbum Elis, de 1973. A canção recebeu uma versão instrumental do baterista Milton Banana no ano seguinte, mas a gravação em estúdio de Gilberto Gil, feita também naquela época, só veio a público em 1999, no álbum Cidade do Salvador, e apresenta figura rítmica e condução de vozes que, juntas, funcionam como uma espécie de riff e dão suporte para a melodia cantada.

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