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Pesquisadora revela histórias de Francisco Pistoresi, luthier pioneiro no Brasil do século 19

Postado em Coluna Alessandro Soares em 16/08/2024

Por Alessandro Soares

A gente continua acreditando que a Giannini, a Del Vecchio e a Di Giorgio foram as pioneiras da construção de violões em São Paulo, lá por volta de 1900. Mas não é verdade. Embora nem sempre seja fácil provar em fotos e difundir o trabalho de luthiers do século 19, as pistas de tais evidências crescem a cada dia de que já havia um movimento bem grande de luthiers produzindo aqui. A violonista e pesquisadora Flávia Prando se dedica de forma brilhante ao tema e já listou pelo menos sete figuras que antecederam as famosas fábricas.

Agora Flavia está reconstituindo a linha do tempo do luthier Francisco Pistoresi, que abriu fábrica em 1892, na Avenida São João. Há poucos dias ela recebeu das mãos da também violonista e pesquisadora Márcia Taborda um raríssimo violão construído por Pistoresi. Ela contou parte dessa história na live Pioneiros do Violão em São Paulo, há cerca de um mês, transmitido no Youtube do Acervo, pelo projeto Contos e Cantos do Violão em São Paulo, contemplado pelo ProAc 2023.

(Violão Pistoresi - Arquivo pessoal Flávia Prando)

Neste sábado (17/08), às 15h, Flávia vai estrear o raro e centenário instrumento na palestra musicada O Violão no Grupo dos Cinco, na Casa Mário de Andrade (Rua Lopes Chaves, 546 - Barra Funda, São Paulo), com entrada franca. Ela vai tocar duas peças: a Saudosa, do compositor Mario Amaral, em arranjo realizado por Edmilson Capellupi, a partir da melodia registrada por Mário de Andrade. E Panamby, valsa de Antonio Estanislau do Amaral, publicada em versão do autor, na década de 1920. Ambas as partituras, que estavam perdidas, foram lançadas na série de três volumes Violões da Velha São Paulo, Coleção Flávia Prando, editada por Ivan Paschoito, da Legato.

De acordo com o release do evento, essa palestra visa recuperar aspectos da música no modernismo em São Paulo partindo de Mário Amaral, compositor, violinista e violonista paulistano, cuja obra e trajetória foi praticamente apagada da historiografia musical brasileira, não fosse pelo esforço de figuras como Mário de Andrade, que coletou a melodia de Saudosa e a publicou no Ensaio Sobre Música Brasileira (1928) e estampou a única foto hoje disponível do músico na Revista Ariel (1924). ilustrando o artigo de Manuel Bandeira, A Literatura do Violão, com a legenda: “admirável virtuose brasileiro do violão”.

(Mário Amaral - Revista Ariel, 1924)

Flávia Prando destaca que Mário Amaral era primo de Tarsila do Amaral e sobrinho do também compositor Antonio Estanislau do Amaral. “Estas informações, desconhecidas até recentemente, colocam o violão no centro da intelectualidade modernista paulistana, num evidente deslocamento da posição de ´instrumento de malandro´ comumente atribuída ao instrumento”, afirma.

Mas além de biografar compositores, Flávia Prando também tem tido êxito ao reconstituir a trajetória de certos instrumentos, a exemplo do fabricado por Francisco Pistoresi, cuja certidão de óbito ela teve acesso e descobriu fatos importantes. “Ele morreu em 1940 e era tido como português. No atestado de óbito dele, consta ter nascido na cidade de Lucca, na Itália. Ele era pai do violonista Aristodemo Pistoresi, que foi aluno da espanhola Josefina Robledo. E tanto Robledo quanto o compositor Mário Amaral utilizavam violões Pistorezzi”, revela a pesquisadora em depoimento ao Acervo via whatsapp.

Pistorizzi chegou a ser premiado. "Em 1904 ele ganhou um prêmio na Exposição da Filadélfia (Estados UNidos), essas grandes exposições universais que havia naquele período. Em 1911, também ele ganhou prêmios na outra exposição, que acho que foi em São Luís, se não me engano", enumera. 

(Detalhe atestado de óbito de Francisco Pistoresi - Arquivo pessoal Flávia Prando)

O violão que ela tem em mãos deve ter sido construído entre 1924 e 1927. “É que no selo do instrumento está escrito Santa Efigênia. Pelos registros das associações comerciais, a Pistoresi ficou nesse endereço da Santa Efigênia naquele período”.

Será este único exemplar que sobrou dos violões Pistoresi? “Que eu saiba, tem mais um violão desse que pertenceu ao violonista Ricardo Cassis, mas ele o vendeu em 2007, mas não recorda pra quem, segundo ele me disse. Pelas fotos que recebi do Cassis, não é o mesmo instrumento que está comigo. Até porque estava com verniz PU, ou seja, não preserva mais seu estado original Vi também um bandolim Pistorezzi na Califórnia (EUA), que está à venda na internet. Mas, por enquanto, de violão esse que está comigo é o único que se tem notícia”, na mesma entrevista ao Acervo.

Era um instrumento, de fato, bem utilizado naquela época. “Tem várias crônicas em jornal que falam da Josefina tocando nele. A construção dele é bem diferente do que se via nas outras fábricas. As notas agudas soam muito bem até a casa 16, 17. Isso em plena década de 1920. É um violão feito para ser tocado em concerto mesmo”, analisa.

(Selo do violão Pistoresi com menção ao endereço da Santa Efigênia - Arquivo pessoal Flávia Prando)

Ms Flavia não vai se aquietar enquanto não descobrir mais sobre o instrumento. Após a palestra musicada, já na semana que vem, ela seguirá em busca de algum contato na cidade de Lucca para saber se tem alguma escola de luteria ainda lá e que a ajude a desvendar novas descobertas sobre Pistoresi e suas construções.

 

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