Pesquisador mostra raros programas de rádio, LPs e partituras lançados por fábricas de violão
Fábrica Giannini (arquivo)
Por Alessandro Soares e Elcylene Leocádio
Mais do que produzir instrumentos, as três grandes fábricas de violão no Brasil - Giannini, Del Vecchio e Di Giorgio - empreenderam iniciativas pioneiras de gerar um volume razoável de métodos, partituras, revistas, discos e ainda programas de rádio e TV. Com sua volumosa bagagem de itens que colheu ao longo de décadas, o pesquisador e editor Ivan Paschoito vai dar uma boa amostra desses raros documentos, áudios, LPs e fitas VHS em palestra neste sábado (07/03) às 14h30 no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo (Rua Dr. Plínio Barreto, 285, 4º Andar. Bela Vista).
Quem quiser ouvir um pequeno trecho do valiosíssimo programa de rádio Recitais Di Giorgio, que era transmitido para mais de 50 cidades brasileiras, mais ou menos entre 1963 e 1974, a chance é essa. Em São Paulo, as transmissões era aos domingos. Mas ao que se consta, as fitas do programa estão desaparecidos. Ivan vai exibir também o primeiro método prático de violão que se tem notícia no país, que é bem provável que seja de lá de 1915, aproximadamente, lançado pela Giannini.
(Fábrica Giannini, 1973)
O pesquisador trará ao público uma espécie de linha do tempo das atividades realizadas pelas grandes fábricas de instrumentos paulistanas. Uma dificuldade no trabalho é a ausência de datas nos produtos lançados. Porém, como pesquisador experiente, ele busca as publicações da imprensa, a evolução da tecnologia (pois cada uma se valia do que estava disponível em sua época) e fatos históricos de grande repercussão na sociedade.
As três grandes surgiram nos primeiros anos do século 20: Giannini em 1900, Del Vecchio em 1902 e Di Giorgio 1908, todas fundadas em São Paulo por imigrantes italianos e ainda atuantes nos dias atuais. Elas dominavam o mercado de violões no Brasil. “As fábricas de instrumentos começaram a produzir material para violão antes das editoras. Nessa palestra eu faço um primeiro levantamento desse material – e o que restou dele hoje em dia – mostrando iconografia, números e alguns materiais originais. Cada fábrica, ao seu modo, contribuiu também com a literatura e a história do violão no Brasil”, afirma.
(Attilio Bernardini - foto revista Violão e Mestres)
A Del Vecchio foi pioneiríssima na edição de partituras para violão. Desde os anos 1930, antecipando-se às grandes editoras, publicou um catálogo bastante interessante para o instrumento e um famoso método, até hoje disponível. Essa fábrica publicou nove músicas de Américo Jacomino (Canhoto), a exemplo da Marcha dos Marinheiros, Brasileirita e Escuta Min´Alma. Só não publicou Abismo de Rosas, que teve um caminho próprio.
O compositor Atílio Bernardini, segundo Ivan, também começou a puplicar partitura na Del Vechio. Depois é que ele foi para a Irmãos Vitale", destaca. A Del Vechio publicou ainda por volta de 1940 um método de Francisco Tarrega volume 1, que é vendido até hoje, mas por meio da editora Ricordi.
Coube à Giannini editar a lendária revista Violão e Mestres (atualmente em processo de digitalização pelo Acervo Violão Brasileiro) e manteve, mais ou menos na mesma época, um programa de televisão com o mesmo nome. Ambos, com periodicidade um tanto irregular. É desta empresa um método de Paraguassu, contemporâneo e parceiro de Américo Jacomino (Canhoto).
Já a Di Giorgio, nos anos 1960, além de álbuns de partituras, lançou LPs e o programa de rádio Recitais Di Giorgio, que ficou no ar por muitos anos. Ainda nessa década, ela criou o Clube do Violão, que se manteve até 2008, já pela ela internet. O clube era uma forma de divulgar o instrumento e agregar interessados. “Eu era um dos que tinham a carteirinha, chegando a quase 7 mil pessoas, o que na época não era uma coisa fácil”, recorda Ivan.
A Di Giorgio tem discos numerados de 1 a 5. O álbum duplo do Geraldo Ribeiro Violão em Noite de Gala, lançado em 1961 e único LP da série, representa os dois primeiros números. O disco 3 é um compacto simples desse LP do Geraldo e foi produzido provavelmente como brinde de Natal. O compacto simples de número 4 é do Alexandre Sapienza, enquanto o último é o compacto duplo de Mozart Bicalho, lançado em 1968.
Aliás, alguns desses temas, por si só, dariam uma pesquisa, como é o caso dos recitais, frisa o palestrante. “Foram mais de 10 anos de programa, que eu pesquisei pela imprensa, mas ou menos de 1963 a 1974”. Que novos pesquisadores se aproximem para dar continuidade a essa riquíssima abordagem iniciada por Ivan Paschoito.
Serviço:
Onde: Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo
Endereço: Rua Dr. Plínio Barreto, 285, 4º Andar. Bela Vista
Data: sábado 7 de março 2020
Horário: 14:30 – 16:30