(Paulo Bellinati, final dos anos 1990. Crédito: arquivo particular)

Por Alessandro Soares

Os discos, turnês e álbuns de partitura que o violonista Paulo Bellinati fez dedicados à obra de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955) têm destaque especial na história recente do violão brasileiro. Principal intérprete do compositor, Bellinati resgatou e redimensionou a obra do compositor e multi-instrumentista, fazendo com que tais peças se tornassem sempre presentes em salas de concertos internacionais. Uma parte desse legado, ele vai passar adiante a partir do curso inédito Garoto: caminhos do violão brasileiro, online ao vivo, pela plataforma Zoom, que começa em 19 de novembro.

Produzido pelo Acervo Violão Brasileiro, o curso se destina a violonistas, arranjadores, musicólogos e interessados na obra do compositor. Paulo Bellinati vai detalhar sua pesquisa, arranjos, transcrições, interpretações e aspectos da técnica de Garoto. No final de cada aula, um aluno poderá tocar uma peça ao vivo para ser trabalhada no formato masterclass.

INSCRIÇÕES

As aulas vão ocorrer sempre às quintas-feiras, das 19h às 21h. São cinco encontros, com carga horária de 10 horas, começando em 19 de novembro até 17 de dezembro. O valor do investimento é R$ 520,00. O pagamento pode ser por cartão de crédito, transferência bancária ou boleto.

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Programa

Cada aula será dividida em temas e peças representativas, nas quais Bellinati vai detalhar a música de Garoto por dentro, incluindo a técnica dele, a escolha de acordes e um panorama das fases estilísticas do compositor. Desde o repertório de choros e valsas tradicionais, passando pelos choros modernos, as influências que teve do jazz e do impressionismo. E também o lado cancionista, seus maiores sucessos e, já pouco antes de morrer, a série de novas músicas que Garoto compôs, indicando os rumos que o violão moderno no Brasil passou a trilhar depois dele.

Na primeira aula, nesta quinta (19/11), Bellinati mostra gravações raras de Garoto, pontuar aspectos biográficos, o perfil de multi-instrumentista e o de solista de violão, que é o foco do curso. Serão abordadas algumas das suas primeiras composições para violão (Tristezas de um Violão, Naqueles Velhos Tempos e Esperança).

Na aula seguinte, em 23 de novembro, Bellinati analisa choros para violão de Garoto, em fase de modernização, que nem Jorge do Fusa, Choro Triste Nº  2 e A Caminho dos Estados Unidos (aliás uma peça que foi totalmente lançada em disco e em partitura por Bellinati, pois nem Garoto ou outro violonista havia gravado nem de forma caseira). “Garoto nunca largou totalmente o choro. Mas foi criando nova linguagem, adicionando coisas e foi trilhando um caminho dentro do choro muito diferente, impregnando o violão solo com essa nova concepção”, afirma Bellinati.

As canções e os grandes sucessos são assuntos reservados à terceira aula. Segundo Bellinati, Garoto trabalhou muito na Rádio Nacional e acompanhou inúmeros cantores. Ele percebeu o interesse do público pelas canções e começou compor nesse gênero. Assim Bellinati vai analisar Duas Contas em profundidade e mostrar diversas versões da mesma música, o jeito de trata-la e de apresentar a letra.

A mesma terceira aula terá também Gente Humilde, que só estourou depois que Garoto morreu. Baden Powell teve acesso ao tema, fez uma pequena alteração na melodia e a apresentou a Vinicius de Moraes, que fez letra junto a Chico Buarque. Mas antes de Vinícius já havia uma letra (que nunca foi gravada). Na aula vou mostrar a melodia original e a primeira letra, além de detalhar minha versão para violão solo’, antecipa. O grande sucesso São Paulo Quatrocentão e O Relógio da Vovó, cujo pequeno trecho se parece com a música Desafinado, de Tom Jobim e Vinícius, integram o conteúdo da terceira aula.

Na aula 4, Bellinati vai trabalhar com os alunos as canções instrumentais e influência que Garoto teve do impressionismo. Temas como Um Rosto de Mulher, Debussyana e Meditação serão analisadas a fundo.

Por fim, a quinta e última aula será dedicada ao que Bellinati chama de “Série Nova Para Violão”, que reúne os choros mais avançados, tais como Sinal dos Tempos, Enigma, Nosso Choro. “São choros muitos complicados, muito modernos e sofisticados. Garoto foi se superando. São obras avançadas, que ele não fez para nenhum instrumento, só para violão”.  

Perfil

Paulo Bellinati é autor de clássicos do violão contemporâneo, como Pulo do Gato, Furiosa, Valsa Brilhante, Choro Sapeca, Suíte Contatos e Jongo (que tem mais de 100 gravações pelo mundo). Ele tem 18 discos de carreira -  incluindo os duos com Marco Pereira, Cristina Azuma e Weber Lopes - e outros 10 como integrante do Grupo Pau Brasil.

Um dos marcos da sua carreira é o CD The Guitar Works of Garoto, com toda a obra para violão solo de Garoto. Premiado e elogiado no mundo inteiro, o CD é referência mundial do violão brasileiro e foi considerado de importância histórica pela crítica especializada.

Bellinati assina arranjos antológicos, como que fez para a obra de Tom Jobim e os Afro-Sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes, que rendeu o CD que gravou ao lado de Mônica Salmaso. E também como arranjador do CD O Sorriso do Gato de Alice, de Gal Costa, pelo qual Bellinati ganhou o "Prêmio Sharp 94" de melhor arranjador.

Como compositor de peças orquestrais, Paulo Bellinati escreveu o Concerto Antropofágico e o Concerto Caboclo para 2 violões e orquestra, que foi gravado pelo Brasil Guitar Duo no CD The Book of Sings (Leo Brower)-Concerto Caboclo (Paulo Bellinati) com a Delaware Symphonic Orchestra regida por David Amado e recebeu indicação ao Grammy Latino de 2018 na categoria melhor álbum de música clássica.

Roteiro 

Aula 1: história, choros e valsas tradicionais

Tristezas de um Violão

Naqueles Velhos Tempos

Esperança

Aula 2: choros modernos

A Caminho dos Estados Unidos

Jorge do Fusa

Choro Triste n°2

Aula 3: canções e grandes sucessos

Gente Humilde

Duas Contas

São Paulo Quatrocentão

O Relógio da Vovó

Aula 4: impressionismo e canções instrumentais

Um Rosto de Mulher

Debussyana

Meditação

Aula 5: série nova para violão

Enigma

Sinal dos tempos

Nosso Choro