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Orquestra com 87 crianças mobiliza encontro de violão infantil de Mossoró

Postado em Festivais em 10/06/2022

Por Fábio Carrilho e Alessandro Soares

Seis grupos infantis de violão oriundos de diversos projetos educacionais de diferentes regiões do Rio Grande do Norte e do Ceará estão na cidade potiguar de Mossoró a partir desta sexta-feira (10/06) para uma série de recitais. Temas de Luiz Gonzaga, Alceu Valença e de compositores potiguares, como Erickson Grillo, fazem parte do repertório dessas 87 crianças, na faixa etária dos 10 aos 15 anos, e integram a programação do I Encontro de Violão Infantil de Mossoró, que é realizado pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido e ocorre até 25 de junho, em plena festa de São João.

Em paralelo aos recitais, o evento promove também um curso de formação para professores destinado aos coordenadores de cada grupo, que será ministrado pela violonista Cristina Tourinho, professora da Universidade Federal da Bahia, especialista no ensino coletivo de violão e autora de diversos textos acadêmicos sobre o assunto que são referência no país. Cada grupo infantil de violão tem dinâmicas específicas no aprendizado. Discutir esses modelos é importante para compartilhar essas práticas, segundo a coordenadora do encontro, a violonista e cantora Haissa Hussemânia.

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No projeto há intercâmbio entre os participantes para facilitar a continuidade dessas ações musicais e a criação de novos grupos. "Quando começamos a divulgar o encontro, esperávamos contar apenas grupos de Mossoró. Para nossa surpresa, vieram orquestras infantis de violão de Natal, Riacho da Cruz, Guamaré e do Crato, no Ceará", comemora, em entrevista ao Acervo.

Dinâmica

A dinâmica de trabalho com os grupos prevê, na visão de Haissa, o estudo de um repertório em comum que será executado em dois momentos. O primeiro deles vai ser nos ensaios coletivos, nos quais todas as orquestras tocam o mesmo repertório, tendo como finalidade a troca musical e os ajustes para as apresentações. O segundo momento será a realização de três concertos públicos dentro da programação do Mossoró Cidade Junina, um dos maiores eventos do São João do país, que acontece no Corredor Cultural, na avenida Rio Branco, e na igreja São Vicente, onde é realizado um dos maiores espetáculos de teatro a céu aberto no país.

(Haissa Hussemânia)

A partir das inscrições, Haissa percebeu que muitas ações estão sendo realizadas em contextos diversos, abarcando projetos ligados às universidades, ONGs, escolas de ensino básico, centros sociais e escolas especializadas no ensino de música", revela Haíssa.  

Orquestras

Um exemplo é a Orquestra de Violões Núcleo de Arte e Cultura (NAC) da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, sediada em Mossoró. Coordenado pela própria Hussemânia, este projeto começou virtualmente durante a pandemia. "Após um ano de atividades, conheci meus alunos pessoalmente. Foi uma grande emoção tocar em conjunto pela primeira vez, pois, até então a execução era de forma virtual e individualizada. Atualmente, contamos com 15 crianças", diz a violonista.

As demais orquestras presentes no evento são: a Camerata Ágio Moreira (Crato/CE), o Grupo de Violões de Riacho da Cruz (RN), o Grupo de Violão Mater Christi (Mossoró/RN), a Orquestra de Violões UERN Ação (Mossoró/RN), o Grupo de Violões Robot em Ação (Mossoró/RN).

Todas essas seis orquestras tocarão juntas, reunindo 87 violonistas mirins. A agenda de recitais começa no sábado (11), às 20h15, no Palco do Anima Chuva, onde é realizado o espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró. E nos dias 18 e 25, no Memorial da Resistência às 20:00h.

O curso

O outro pilar do encontro será o curso de formação de professores ministrado por Cristina Tourinho, que dará aula para os docentes e coordenadores dos projetos inscritos, além de professores de violão em geral. Voltados ao ensino coletivo, os trabalhos acontecem nesta sexta (10) e no sábado, na sede do Núcleo de Arte e Cultura da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, e vão ser realizados em três turnos. Para o primeiro deles, Tourinho solicitou um grupo de seis crianças para as atividades práticas.

(Cristina Tourinho)

"O que faço é ensino coletivo. E não ensino em grupo. Nem sempre esse aprendizado é para um 'grupo' no sentido exato. Eventualmente, são pessoas que estão dividindo o mesmo espaço", conceitua Tourinho. Trata-se da melhor alternativa pedagógica, uma vez que o iniciante está construindo parâmetros. "Aprende-se não só com o professor, mas com os colegas, olhando, e se observando, que é uma capacidade muito grande que desenvolvemos para fazer todas as coisas na vida". Cristina Tourinho defende o trabalho individual e especializado para estágios futuros do aprendizado.

Quanto às estratégias de aulas, serão abordados assuntos como a disposição física na sala de aula, repertório, como se trabalhar com cifras e leitura musical e avaliação. "É preciso ter estratégias diferenciadas como, por exemplo, reunir todas as pessoas numa mesma atividade trabalhando com velocidades e níveis de dificuldades diferenciados. Como o professor pode trabalhar esse tipo de coisa? Quando você tem uma pessoa só na sua frente, vai de acordo com o ritmo dela. Mas quando tem um grupo, vai de acordo com o ritmo do grupo sem pará-lo, corrige individualmente", pontua Tourinho.

A introdução à leitura musical é um ponto que costuma intrigar os docentes. Tourinho afirma pensar muito mais no trabalho de educadores musicais do que no ensino tradicional de teoria, além de transferir o que lê de outros instrumentos para o violão. "Tenho certeza de que não se deve ensinar leitura e percepção da maneira que costumam chamar de 'teoria musical', porque é necessário partir da vivência. Não se deveria ter que tocar para saber o que está escrito. O mais adequado é olhar para uma partitura e ouvir como ela deveria soar. Isso seria ler música na minha concepção", diz a professora, que costuma trabalhar com leitura relativa e percepção corporal antes de utilizar a notação.

Influências

A professora baiana sempre foi motivada por pela curiosidade pessoal em saber mais e também por muitas leituras, participações em congressos, além da identificação que teve com educadores musicais associados aos chamados métodos ativos. Sobre a atuação docente no formato coletivo, Tourinho afirma que é necessário aprender a lidar com a diversidade. "O ensino é coletivo mas a aprendizagem é individual. Às vezes, uma pessoa desenvolve uma habilidade, e a outra não. Os níveis de cognição variam. Então é preciso levar isso em conta no ensino coletivo, principalmente com os iniciantes".

Entre os professores de violão que influenciaram Cristina Tourinho, estão Henrique Pinto (1941-2010) e Mário Ulloa, apesar de não terem atuado muito no ensino para iniciantes. "Convivi com Henrique Pinto durante muitos anos. Admirava demais o ‘feeling’ dele. Foi uma das pessoas que mais me impressionou enquanto professor. Em Salvador, convivo com Mário Ulloa, um professor excepcional", diz. A técnica de trabalho de ambos, segundo Tourinho, é o que mais a impressiona juntamente com o interesse verdadeiro naquilo que estão fazendo. "Eles realmente se preocupam com cada pessoa. Henrique tinha uma capacidade muito grande de perceber qual era o problema da pessoa. Muita coisa aprendi observando sua maneira de trabalhar".

(Mario Ulloa)

Patrocinado pela Prefeitura de Mossoró, o Encontro de Violão Infantil de Mossoró deverá ter continuidade. "Estamos muito felizes por realizar esse primeiro momento de interação e formação musical. Com certeza, a partir dessa experiência, iremos planejar e executar não somente a segunda edição, mas as próximas. Vida longa ao Encontro de Violão infantil", celebra Haissa Hussemânia. É um projeto cuja importância é evidente. Basta lembrar que o ensino coletivo do violão para iniciantes é uma atividade que estimula benefícios sociais, permitindo o atendimento a um maior número de alunos por um custo reduzido em comparação às aulas individuais. E também pedagógicos, pelo aprendizado proporcionado pelas interações entre os membros da classe.

Serviço:

Recitais com a orquestra de 87 violonistas mirins

Sábado (11/06), às 20h15, no Palco do Anima Chuva

Dias 18 e 25 de junho, às 20h, no Memorial da Resistência

Local: Mossoró Cidade Junina (Corredor Cultural, na avenida Rio Branco, e na igreja São Vicente)

Curso de formação de professores com Cristina Tourinho

Sexta (10) e sábado (11)

Local: Núcleo de Arte e Cultura da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, em Mossoró-RN.

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