(Nonato Leal)

Por Geovany Hércules

O Festival Internacional do Documentário Musical (In-Edit Brasil) está rolando em São Paulo com uma seleção de documentários musicais bem eclética – da MPB ao hip-hop, do jazz ao heavy metal, do rock alternativo à música instrumental – uma programação pra nenhum amante de música botar defeito. O festival começou no dia 15 e vai até este domingo (26/06), tanto presencialmente quanto online. Aliás, esta é a primeira edição híbrida do In-Edit Brasil. A programação está espalhada por diversas salas de cinema da cidade, como Cinemateca Brasileira, Centro Cultural São Paulo, Cine Bijou, CineSesc, entre outras.

Recomenda-se conferir a programação completa no site do festival, que tem programação gratuita, exceto no CineSesc, que cobrará ingresso na maioria de suas sessões.

O In-Edit Brasil também tem preciosidades para quem gosta de violão, como o curta-metragem Passar uma Chuva (2020), de Aron Miranda e Cassandra Oliveira. O filme é uma reflexão sobre a música e vida do violonista Nonato Leal, intérprete e compositor que tem papel fundamental no desenvolvimento do violão no Amapá. Leal nasceu no Pará, mas considera-se amapaense, onde estabeleceu carreira e família ao se mudar aos 25 anos para capital Macapá. Aos 95 de idade, Nonato impressiona pela vitalidade e memória prodigiosa e ainda toca violão. Como professor do Conservatório Estadual de Música do Amapá, formou gerações de violonistas. O filme ainda tem sessões nesta quinta (23/06) às 17h no Cine Bijou e na sexta (24), às 15h, na Cinemateca Brasileira.

Segundo o diretor Aron Miranda, o filme é um concerto. “Ouvimos sua voz e sua música acontecendo enquanto o grande Opus de sua vida está sendo contado. A música foi composta pelo próprio Nonato Leal com três seções que refletem os três momentos do filme: o homem, o violão e a cidade. À medida que aprendemos que esses três personagens interagem e se influenciam com o passar do tempo, entendemos o tempo e o lugar únicos do violão brasileiro na Amazônia durante metade do século XX”. Depois de estrear seu filme internacionalmente em Barcelona e Berlim, Aron se diz feliz por essa maior projeção nacional de Passar uma Chuva, através do In-Edit Brasil.

Para saber mais sobre Nonato Leal, o dicionário do Acervo Violão Brasileiro tem uma minibiografia sobre o mestre do Amapá, escrito por Wenderson Barbosa do Carmo.

(Garoto)

Outro filme que vale uma conferida é o excelente longa-metragem sobre o pai do violão moderno no Brasil, Garoto – Vivo Sonhando (2019), de Rafael Verissimo. Através de arquivos raros, diários pessoais e depoimentos, o documentário mergulha o espectador na inventividade de Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955), Garoto. Como demostra a minibiografia escrita pelo biógrafo Jorge Mello para o dicionário aqui do Acervo Violão Brasileiro, as peças inovadoras de Garoto estão presentes no repertório de grandes instrumentistas da atualidade, em várias partes do mundo.

O idioma musical de Garoto é bem evidente, segundo Jorge Mello. “Foi ele quem primeiro adotou no violão os acordes dissonantes com os chamados intervalos de sétima maior, nona e décima terceira, assim como os intervalos aumentados, que tanto se popularizaram no Brasil a partir da bossa nova. Garoto também explorava bem o desenvolvimento de melodias a partir da sequência de acordes”. O filme será exibido no sábado (25/06), às 16h no Centro Cultural São Paulo (CCSP).

Dos temas que não tratam de violão, especificamente, não podemos esquecer do longa-metragem A Música Natureza de Léa Freire (2022), de Lucas Weglinski. O filme é formado por imagens, memórias e depoimentos sobre a vida e carreira da instrumentista, improvisadora, arranjadora e compositora Léa Freire.

Artista que busca de maneira incansável unir o erudito ao popular, como ela mesmo afirma: “Para o erudito eu sou popular, para o popular eu sou erudito, para o choro eu sou do jazz, para o pessoal do jazz eu sou do choro”. O filme de Weglinski é um dos seis títulos que concorre ao prêmio de melhor filme na Competição Nacional do Panorama Brasileiro. O filme será exibido nesta quarta-feira (22), às 20h30 no CineSesc, na quinta (23), às 19h, na Biblioteca Roberto Santos, no domingo (26/06), às 19h, na Cinemateca.

O In-Edit ainda conta com diversos filmes, a exemplo de Cafi, dirigido por Lírio Ferreira e Natara Ney, sobre o lendário fotógrafo que produziu algumas das capa de disco mais significativas da MPB, Belchior – Apenas um Coração Selvagem (2022) de Natália Dias e Camilo Cavalcanti, Secos e Molhados (2021) de Otávio Juliano, Dom Salvador e Abolition (2020) de Arthur Ratton e Lilka Hara, Manguebit, de Jura Capela, e muitos outros títulos. Entre no site do festival, se programe e escolha a sua viagem musical.