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O negócio e a arte das partituras são tema de palestra com Ivan Paschoito no CPF do Sesc SP

Postado em Cursos, workshops e palestras em 13/04/2022

(Ivan Paschoito)

Por Fábio Carrilho

Em tempos anteriores ao advento das gravações de disco, as partituras eram parte integrante do fazer musical nos círculos mais eruditos e fonte de transmissão do legado artístico dos compositores para as gerações futuras. O antigo modelo de editoras de partituras não existe mais, assim como as ferramentas de trabalho e o mercado para músicos que editam peças é outro no mundo da internet. E agora? Quais as maneiras de se preparar uma boa partitura e quais caminhos para oferecê-la ao público na atualidade?  

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(Capa Coleção Flavia Prando)

Essas questões, entre várias outras, serão analisadas e respondidas pelo arranjador, pesquisador e editor Ivan Paschoito, na palestra Partitura: negócio e arte, que dará presencialmente nesta quinta (14/04), das 19h às 21h, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo (Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - 4º andar - Bela Vista). As inscrições são gratuitas e seguem abertas para o público

No primeiro segmento temático da palestra, Paschoito tratará de questões estéticas, envolvendo assuntos como apresentação e layout. "Não vou falar sobre estética musical, mas sobre a estética gráfica da música impressa. Preparei uma apresentação fartamente ilustrada sobre os assuntos e vou levar também uma grande quantidade de partituras originais, da minha coleção, para ilustrar os conceitos", revela o editor, atuante há quatro décadas no mercado de partituras, hoje consultor editorial da Ricordi e dono de sua própria editora, a Legato, voltada para partituras de violão.

Regras de notação

Paschoito abordará os cuidados específicos para se produzir uma boa partitura, tanto digital quanto destinada à impressão, incluindo questões técnicas como os softwares envolvidos e assuntos de notação musical. "Seja qual for o instrumento, diria que a clareza é o fundamental. Em todos os sentidos, tanto quanto ao design da música escrita em si quanto o da impressão. Não se pode complicar a vida do músico. Não se trata de uma ciência exata, mas o 'modelo' a ser seguido já foi bem definido ao longo do tempo", analisa, destacando a clássica obra Behind Bars, de Elaine Gould, como referencial para as regras de notação.

Em relação aos softwares, Paschoito aponta que, apesar de terem incorporado tais regras de notação, isso não quer dizer que façam tudo sozinhos. "Se deixarmos os programas fazerem as escolhas, o resultado pode ser bem ruim. É preciso um bom senso de equilíbrio e de estética por parte do editor", afirma. A tradicional editora alemã Schott e a editora canadense D'Oz são citadas por ele como referenciais em trabalhos estéticos notáveis. 

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(Capa Partitura Lágrima)

A título de contextualização, Paschoito fará uma pequena introdução sobre a evolução do negócio da música impressa e os seus grandes marcos históricos, como a introdução do rádio, do som gravado, da reprografia - a reprodução impressa de documentos - e da internet, antes de adentrar em questões atuais. Um dos assuntos principais que será abordado envolve a questão autoral, tanto pela ótica da divulgação das obras quanto pela remuneração por sua utilização.

Autopublicação

Tido como um dos marcos históricos no negócio das partituras, o advento das tecnologias digitais e da internet, apesar de quase destruírem o modelo tradicional de impressão por meio das editoras, vem oferecendo possibilidades como o "self-publishing", a autopublicação e venda das partituras pelos próprios artistas em sites próprios, de vendas online ou mesmo redes sociais. "O 'self-publishing' é uma realidade facilmente executável e que pode levar a sua música a qualquer parte do mundo", analisa Paschoito.

Para o trabalho autoral, no entanto, o músico aponta que é mais interessante o artista ter sua música gravada e tocada do que qualquer outra coisa. "A partitura entra apenas como um recurso, dificilmente gerando receita expressiva. Dizem que Leo Brouwer faz vista grossa para a pirataria de suas partituras, desde que suas músicas sejam gravadas", brinca.

(Ivan Paschoito)

Editoras brasileiras

A questão autoral também será abordada pela ótica das editoras, cujo foco principal, segundo o músico, continua sendo administrar a obra de terceiros. "A partitura foi quase que abandonada. As editoras ganham muito mais com o licenciamento de obras para gravação, trilha sonora ou audiovisuais. Sobre as quatro grandes editoras brasileiras, a Ricordi continua imprimindo, mas apenas materiais didáticos de venda consagrada. A Vitale ainda publica alguma coisa, métodos ou songbooks. Fermata e Mangione abandonaram esse segmento faz tempo", resume o músico, citando a importância deste trabalho de gerenciamento das questões autorais pelas editoras. "É difícil produzir sua arte e administrá-la ao mesmo tempo. São poucos os artistas que têm sua própria editora", diz ele, citando artistas consagrados, como Tom Jobim e Chico Buarque.

Para aqueles que buscam apresentar seus trabalhos para publicação por meio de editoras tradicionais, Paschoito, que tem larga experiência no assunto, incluindo seus álbuns com obras de Dilermando Reis e Paulino Nogueira pela editora estadunidense GSP (Guitar Solo Publications), dá o caminho das pedras. "Diria que quanto mais próximo da arte final você enviar o seu trabalho, mais chance tem, principalmente se estiver começando. Uma vez falei com uma editora sobre três arranjos meus de músicas de Ernesto Nazareth. Não se interessaram, até que levei o álbum praticamente pronto, daí foi publicado", resume.

Copista autônomo

Um dos campos de atuação que tem atraído bastante interesse entre os músicos devido à internet e que certamente fará parte da palestra é o de copista autônomo. Apesar de não gostar do termo, "o nome é velho, dos tempos da música manuscrita, mas está aí até hoje porque não temos uma boa palavra em português para o trabalho".

Paschoito ressalta a importância de uma formação que abarque conhecimentos de orquestração e instrumentação para o pleno desempenho da função. "Se você for um copista com recursos não só técnicos, mas de conhecimento musical, suas chances se ampliam muito. Por exemplo, ser capaz de copiar grades orquestrais e gerar as partes com perfeição", analisa, citando a importância de se montar um portfólio que demonstre o que se sabe fazer, o que poderia incluir exemplos de composição tipográfica ("typesetting"), de paginação e até de capas.

Lojas online

Outro mercado bastante atrativo, principalmente para arranjadores, e que deverá ser comentado no evento é o de venda de arranjos para download em lojas online internacionais. "Acho muito eficiente e inclusivo, dando chance a pessoas de qualquer lugar do planeta mostrarem e venderem seus trabalhos. Eu mesmo tenho uns 40 arranjos para violão à venda na Sheet Music Plus, a loja da SMP Press. Nessas plataformas é possível publicar praticamente tudo", comenta, destacando a grande procura em sites do gênero por arranjos de música popular para pequenas formações.

O modelo de negócio das lojas online de arranjos, as quais possuem uma editora por trás disponibilizando os direitos autorais de milhares - em alguns casos, milhões - de obras para serem arranjadas é, segundo o músico, apesar de inovador, concentrado nas mãos de grandes corporações. "As editoras locais, de fato, pouco participam. Mas grandes grupos como BMG, Sony e Universal, donos de um sem número de editoras, participam ativamente desse novo mercado", analisa, citando o caso da loja ArrangeMe, braço da Hal Leonard e que atualmente conta com três milhões de títulos disponíveis para serem arranjados, incluindo o catálogo da Disney, dos Beatles e até de música brasileira. "Não se pode, talvez, falar tanto hoje em 'música impressa'. Mas diria que o negócio da 'música escrita' vai a todo vapor, no papel e no virtual", conclui.

No Brasil, a Loja online Violão Brasileiro tem apostado na proposta de vendas de partituras, songbooks e métodos, tanto digitais e ebooks quanto impressos, incluindo produtos exclusivos de autores como Ian Guest, Conrado Paulino, Vicente Paschoal, Nicolas de Souza Barros, Carlos Chaves, Tó Teixeira, Duo Siqueira Lima, Guinga, Diego Salvetti e, em breve, Alessandro Penezzi e vários outros. Autores e editores que desejarem entrar em contato com a Loja Violão Brasileiro, basta escrever para contatos@violaobrasileiro.com.br ou ligar para (11) 97615-8514 (celular e whatsapp).

SERVIÇO

Palestra "Partitura: negócio e Arte", por Ivan Paschoito

Data: Quinta, 14/04/2022

Horário: 19h às 21h (presencial)

Inscrições aqui no site CPF SESC SP: enquanto houver vagas.

Local: Centro de Pesquisa e Formação - Sesc São Paulo

Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - 4º andar. Bela Vista, São Paulo/SP

Valor: Grátis

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