Novo modelo Lineu Bravo é tema da série Diário de um Violão
(Thiago Abdalla)
Por Fábio Carrilho
A seara dos instrumentos produzidos por Lineu Bravo é essencialmente a da música popular, o que pode ser atestado pelo rol de ilustres violonistas que os empunham, como João Bosco, Yamandu Costa, Guinga, Rogério Caetano, Alessandro Penezzi, João Lyra, Marcus Tardelli, entre outros. Produzir um instrumento de grande excelência para violonistas de concerto, no entanto, foi o mote para que o luthier natural de Sorocaba - e hoje com oficina em Taubaté, ambas cidades do interior de São Paulo - projetasse um modelo de violão com características direcionadas aos instrumentistas de repertório e estilo clássico.
O enredo por trás do desenvolvimento deste instrumento tem ligação direta com o Acervo Digital do Violão Brasileiro, na medida em que ele integra a campanha de financiamento do site para o ano de 2022. Doado por Bravo, o violão, que custa R$ 24 mil, será o prêmio de uma rifa online, cuja arrecadação vai contribuir para custear uma parte das despesas do funcionamento do site e da ampliação de conteúdos inéditos e exclusivos (partituras, vídeos, verbetes, digitalização de documentos e revistas antigas, coleta de fotos raras), além da criação de uma seção dedicada aos luthiers brasileiros. O Acervo não tem patrocínio algum e é de acesso grátis.
ÚLTIMA SEMANA PARA ENTRAR NA RIFA. CONFIRA
O bilhete da rifa custa R$ 120 (menos de 1% do valor do instrumento) e pode ser adquirido até o dia 10 de fevereiro na Loja Violão Brasileiro. Por sinal, nesta semana a loja foi atualizada e o sistema de compras ficou bem mais simples, tanto para cartão de crédito quanto para boleto e PIX. O sorteio será no sábado (12 de fevereiro) às 17h, com a participação de Lineu Bravo, Thiago Abdalla e o compositor e violonista Paulo Bellinati, sob mediação de Alessandro Soares, com transmissão ao vivo no Youtube e Facebook do Acervo.
O Diário
Este modelo de instrumento criado por Lineu e doado ao Acervo é também o protagonista da nova temporada da série “Diário de um Violão”, produzido pelo violonista e produtor Thiago Abdalla e veiculada no seu canal do Youtube. Esse projeto audiovisual busca registrar a evolução sonora de um novo instrumento ao longo do tempo. Gravada pelo próprio músico diretamente de seu estúdio, a série, que está em sua segunda temporada, estreou em dezembro de 2021 e apresenta Abdalla avaliando o violão de Lineu Bravo por meio de variados parâmetros técnicos e interpretativos.
O repertório escolhido foi a integral de Castillos de España, do compositor espanhol Federico Moreno Torroba (1891-1982), obra de grande dificuldade técnica e que foi gravada parcialmente por Andrés Segovia em 1969. Abdalla, que ficou com o violão por quatro meses, gravou as 14 peças, alusivas à paisagens tradicionais espanholas, as quais permitem, devido à grande qualidade interpretativa do violonista assim como à ótima captação de áudio, uma boa ideia dos recursos sonoros deste instrumento.
Para gravar este “Diário de um Violão”, Abdalla usou cordas Augustine Reagals tensão alta e fez uso de aplicativos eletrônicos, como um espectrograma para analisar variações de frequências, em testes envolvendo mudanças de posição de mão direita e de intensidade de ataque. Foram produzidos dois vídeos puramente de análise do instrumento, um no primeiro dia e outro no último dia após o período de quatro meses de testes. A ideia da série, no entanto, é mostrar o som do violão mais do que falar sobre ele e, tendo isso em mente, Abdalla caprichou na captação sonora e nas mixagens. Para gravar “Castillos de España”, usou o microfone AMBEO VR, da Sennheiser, com prés e conversão da Zen Studio (Antelope Áudio), enquanto nos vídeos explicativos optou pelo Neumann TLM 107 e o DPA 4099.
"É um instrumento com um som bastante sólido nos graves, sustain, muita definição e afinação precisa. Muito responsivo aos encaixes de mão direita na busca por diferentes timbres, com uma tendência maior aos timbres com maior brilho e delicadeza", analisa Abdalla sobre a sonoridade deste violão. Sobre a tocabilidade, elogia a facilidade para a mão esquerda. “O instrumento é extremamente confortável de tocar em qualquer região da escala, tanto para sequências incessantes de tétrades como para sustentar a condução de melodias e polifonias”, afirma.
“Este violão não faz parte de uma série específica, porém podem chamá-lo de série clássica”, afirma Lineu Bravo. “Sempre tive uma grande inserção com meus violões no universo da música popular, até porque é meu lugar de origem dentro da música. Venho de roda de choro, tive contato com samba, bossa nova, música brasileira em geral. Meu trabalho acabou sendo bem aceito por instrumentistas dessas linhagens”, avalia o luthier, que não costuma ver muita diferença entre um violão feito para música popular e outro para música de concerto. “A diferença entre um violão clássico e um que normalmente construo? Nunca tive esta preocupação, porque acredito que um instrumento deve ser completo. Qual a diferença entre um acordeom e uma sanfona? É quem está atrás. Se for um sanfoneiro, é uma sanfona. Se for um acordeonista, é um acordeom”, argumenta.
No entanto, quando o assunto envolve as madeiras, Bravo diz ter tido um cuidado acima da média com este modelo. “O instrumento é o mesmo, não muda absolutamente nada. Quando resolvi fazer um instrumento mais voltado para o erudito, o que fiz foi escolher materiais ‘fora da curva’. Os meus violões normalmente são feitos com madeiras excelentes, mas este aqui é feito com madeiras espetaculares”, revela o construtor, que optou por uma configuração bastante tradicional: faixa lateral e fundo em jacarandá da bahia; tampo em abeto europeu; braço em mogno e escala em ébano. “É um abeto antigo de qualidade muito boa, Fiz o tampo com verniz em goma laca (polimento francês) e nas laterais e fundo usei verniz fosco”, complementa Bravo, que priorizou as tarraxas nacionais VS, do produtor Vitor Scatena.
(Violão Lineu Bravo - crédito Carlo Vecchi)
Em relação à estrutura, Bravo optou por uma próxima dos violões que desenvolve para música popular. “É um mix do conceito do violão Torres-Hauser. Na verdade, a família Hauser não inventou nada. Pegaram todos os conceitos estruturais que já haviam sido desenvolvidos no século anterior pelo Antonio de Torres e levaram isso ao seu potencial máximo. Trabalho nesta mesma linhagem de estrutura. É um violão de construção bastante tradicional”, afirma. Sobre a parte estética, Bravo seguiu o caminho da simplicidade, com um design mais limpo e de linhas clássicas. “Busquei algo mais sóbrio, mas sem perder o design do meu próprio violão, que é algo que venho trabalhando ao longo dos anos. O formato da mão, que é uma das marcas registradas do luthier, resolvi manter, assim como a roseta, que é a mesma que uso desde 2003”, revela.
Na semana passada, o Acervo promoveu a primeira entrevista do programa Conversa de Luthier, em formato de live, transmitida ao vivo pelo Youtube e Facebook do Acervo. O convidado foi Lineu Bravo para celebrar seus 20 anos de carreira. Para falar da sua trajetória e seu pensamento como luthier, o encontro teve a participação de Thiago Abdalla, do luthier e violonista Cleyton Fernandes e do produtor Alessandro Soares.
Serviço:
Violão Lineu Bravo Modelo Clássico
Ano de construção: 2021
Tampo em Abeto Europeu;
Faixas laterais e fundo em Jacarandá Brasileiro;
Braço em Mogno;
Escala em Ébano;
Tarraxas VS Tuners
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(Violão Lineu Bravo - crédito Carlo Vecchi)