Mostra de Violão da Lira Ceciliana é realizada na cidade mineira de Prados
(Guilherme Vincens)
Por Alessandro Soares
A região do Campo das Vertentes, interior de Minas Gerais, tem chamado atenção nos últimos anos, não apenas pelo incrível talento de seus violonistas, mas também pela grande quantidade de eventos dedicados ao instrumento. São festivais, mostras, concurso e séries de recitais que nem o período brabo da pandemia fez silenciar as atividades, que migraram para formatos online. Agora de volta ao presencial, desta vez é a cidade de Prados que recebe a III Mostra de Violão da Lira Ceciliana, que começa nesta sexta (08/07) e vai até domingo (10), com concertos, masterclasses e palestras, sempre com entrada franca.
Guilherme Vincens, Cláudia Garcia, Octávio Deluchi e Geraldo Neto estão entre as atrações. E mais a Orquestra de Violões de São João Del Rei, o Grupo de Violões da Lira Ceciliana e os jovens estudantes Flávio Marcionilho, Matheus Jordão e Marcelo Rodrigues.
O recital de abertura será no Espaço Belbelita, às 20h, com Octávio Deluchi, que atualmente mora nos Estados Unidos e segue com brilhante carreira internacional. Aos 25 anos, Deluchi foi disputado ano passado pela Johns Hopkins, a Manhattan School of Music e a Stony Brook University (que ele escolheu). O Acervo o entrevistou sobre tais conquistas. E em maio passado, Deluchi tocou no Carnegie Hall, em Nova York, quando foram apresentados os vencedores do IBLA Grand Prize, incluindo ele.
Em temporada no Brasil até agosto, ele tem preenchido bem a agenda de trabalho. No concerto de hoje, Octávio Deluchi vai interpretar Dilermando Reis, Villa-Lobos, Geraldo Vespar, Elodie Bouny, além de compositores com quem ele tem feito estreias mundiais, a exemplo de Luis Carlos Barbieri, João Luiz e Vicente Paschoal.
As mulheres e o violão
Na manhã deste sábado (09/07), a violonista e professora da Escola de Música da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Cláudia Garcia, realiza masterclass e, à tarde, dará a palestra As mulheres e o violão, na qual abordará a atuação feminina na história do instrumento, citando importantes compositoras, intérpretes, arranjadoras e transcritoras. “Essa não é uma tarefa simples, pois, recuperar a memória e a presença feminina no cânone violonístico (marcadamente masculino), implica em reflexões sobre os processos históricos, culturais e sociais que reiteram os mecanismos de poder, privação e silenciamento das produções realizadas por mulheres”, afirma Cláudia em depoimento ao Acervo.
O tema marca a trajetória de Cláudia Garcia, enquanto intérprete e professora há 22 anos, sendo 17 dedicados à docência universitária, em que, segundo ela, percebe-se claramente a (ainda) rara inclusão do repertório composto por mulheres nos currículos de ensino e programas de recitais, bem como a restrita participação de mulheres violonistas em festivais, masterclasses, bancas de concurso e meios acadêmicos. O tema da palestra faz parte da tese que Caluda defendeu.
(Cláudia Garcia)
Ainda há muito o que ser modificado, estudado e descoberto sobre as mulheres no contexto do violão, na visão de Cláudia. “É imprescindível (re)contar a história, revisar narrativas e incluir outras perspectivas e práticas. Neste sentido é, para mim, uma satisfação participar da III Mostra de Violão da Lira Ceciliana, pois espaços como esse, onde terei também a oportunidade de tocar algumas obras produzidas por mulheres, são fundamentais para a escuta, discussão e divulgação desse repertório”.
Festa
A noite do sábado (09/07) é reservado para o concerto de Guilherme Vincens, violonista e professor da Universidade Federal de São João del-Rey (UFSJ). “Essa III Mostra foi idealizada pelo meu ex-aluno Octavio Deluchie e ele me convidou para participar e ajudar na programação. Pra mim é uma grande festa, uma reunião de alunos e ex-alunos que vão proporcionar concertos de alto nível”.
No concerto, Vincens vai homenagear os 50 anos do Clube da Esquina, o centenário da Semana de 22 e o legado do professor e compositor Ian Guest, que partiu recentemente. “Tocarei arranjos meus de obras de Milton Nascimento, estudos de Villa Lobos, peças de Ian Guest e uma pequena Fantasia que escrevi em homenagem a ele, além de outras peças importantes, como a Invocação e Dança de Joaquín Rodrigo”, descreve.
Doutor pela University of Arizona, onde estudou com Thomas Patterson e David Russell, Guilherme Vincens venceu 12 premiações em concursos internacionais de violão, incluindo 1º Lugar no XI Concurso Internacional de Portland, EUA. Foi também premiado pelo “Annual Guitar International Awards”, edição 2011 da GI Magazine.
No domingo (10), os violonistas participantes vão debater as Perspectivas do violão no Século XXI. “Falaremos de carreira, repertório, linguagem, atuação, conexão com a música popular. Como pensar o crescimento e engajamento de público nos tempos atuais, etc”, antecipa Guilherme Vincens. Em seguida, à noite, ocorrem os recitais de Flavio Marcionilio, Matheus Jordão e Grupo de Violões da Lira Ceciliana.
Suítes
O concerto de encerramento será realizado por outro ex-aluno de Guilherme Vincens, Geraldo Neto, 27 anos, que atualmente está finalizando o doutorado na Universidade do Kentucky, nos Estados Unidos. “Vou tocar duas peças, que são divididas em diversos movimentos. Começo com a Suíte nº 2 “Siegfried”, do compositor francês Benoit Albert, que tem duração aproximada de. Depois faço a Partita para violão solo, do compositor mexicano-americano Juan Trigos, que dura em torno de 23 minutos. São peças bem longas, algo que eu gosto de fazer, na verdade”, afirma em entrevista ao Acervo.
(Geraldo Neto)
Geraldo Neto destaca que a Suíte nº 2 “Siegfried”, de Benoit Albert se baseia nas danças da Suíte para Alaúde 995, de Bach. Essa peça foi dedicada ao pintor inglês, que é radicado na França chamado Paul Storey, e o Paul fez esses quadros baseados na lenda de Siegfried e o Benoit se inspirou nele para escrever essa peça.
Já a Partita, de Juan Trigos, também faz alusão à suíte. “Há essa conexão entre as duas obras que irei tocar. Isso não foi proposital, mas acabou acontecendo. “Juan Trigos criou esse conceito e essa identidade musical, essa voz única que ele tem através de um conceito chamado folclore abstrato. Segundo ele, é um processo que ele vai abstrair e assimilar de diversos elementos literários e vernaculares de tradições musicais e colocar isso com uma retórica moderna”.
A III Mostra de Violão da Lira Ceciliana é uma realização da Lira Ceciliana de Prados, com apoio institucional da Secretaria de Cultura e Turismo de Prados, da Stony Brook University e da Augustine Strings.
Programação:
8 de julho, sexta-feira
20h – Recital com Octávio Deluchi (Espaço Belbelita)
9 de julho – sábado
14h – Masterclass com Cláudia Garcia
16h – Recital com Orquestra de Violões de São João del-Rei
18h – Palestra As mulheres e o violão, com Cláudia Garcia
20h – Recital com Marcelo Rodrigues
20h30 – Recital com Guilherme Vincens
10 de julho, domingo
16h – Bate-papo: Perspectivas do violão no século XXI
18h – Recital com Flavio Marcionilio, Matheus Jordão e Grupo de Violões da Lira Ceciliana
20h – Recital com Geraldo Neto