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Morre a musicóloga e jornalista Maria Luiza Kfouri, aos 69 anos

Postado em Notícias em 04/07/2023

Morre a musicóloga e jornalista Maria Luiza Kfouri, aos 69 anos - Foto: Maria Luiza Kfouri

(Maria Luiza Kfouri)

Por Geovany Hércules

“Conheci a Mana em 1995, quando ela trabalhava na Rádio Cultura e copiou pra mim (do seu próprio e imenso acervo de mais de 7 mil discos) uma fita cassete com o disco original Afro-sambas, do Baden e do Vinicius que, por ideia do Eduardo Gudin (quem nos apresentou) seria meu trabalho de estreia”. Esse é um trecho do texto que a cantora Mônica Salmaso publicou no Instagram para se despedir da amiga, a musicóloga e jornalista Maria Luiza Kfouri, que morreu na manhã de segunda-feira (03/07), aos 69 anos, de câncer no pâncreas. O velório será nesta terça (04), das 9h às 12h, no cerimonial Pacaembu.

Uma das mais importantes pesquisadoras da música brasileira, Maria Luiza Kforui trabalhou na Rádio Cultura FM entre 1984 e 1985. Como coordenadora musical da Rádio Cultura AM em 1988, foi uma das responsáveis pelo prêmio que a emissora ganhou de melhor programação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Assumiu a direção da Rádio Cultura AM de 1989 até 1995.

De acordo com o Wikipedia, ela co-dirigiu e co-produziu nesta emissora as séries Noel Rosa, as histórias e os sons de uma época (1991); Elis. Instrumento: Voz. Uma travessia em 6 tempos (1992, ganhador do prêmio APCA), Vinicius. Poesia, música e paixão (1993, prêmio APCA) e Caymmi por Ele mesmo (1994, também prêmio APCA).

Como autora, escreveu a Cronologia e Discografia do livro Furacão Elis (1985) e o os capítulos Breve Histórico do Violão e Grandes Mestres, publicados no livro Violões do Brasil (2004), além capítulo História, do livro Um Sopro de Brasil (2005). Estes dois últimos livros foram organizados pela produtora Myriam Taubkin.

Segundo o site do Instituto Moreira Salles, em 2005 Kfouri criou o site o Discos do Brasil: uma discografia brasileira, disponibilizando todo o seu acervo particular (mais de 7 mil títulos), que começou a catalogar dez anos antes, em 1995, quando saiu da Cultura. Para isso, escutou pacientemente cada um dos álbuns, faixa por faixa, fazendo a identificação de todos os intérpretes em cada uma delas. Um trabalho minucioso de artesã que só uma apaixonada pela música brasileira poderia realizar.

Em 2006, criou e desenvolveu o projeto Músicos do Brasil: uma enciclopédia instrumental, com verbetes sobre os principais nomes da música instrumental brasileira. O trabalho foi realizado em parceria com Fernando Barcellos Ximenes, mas, depois de vários anos, este site saiu do ar.  

Irmã do jornalista esportivo Juca Kfouri, Maria Luiza era a única mulher e a caçula da família formada por três homens, carinhosamente chamada de Mana. Ela Kfouri deixa duas sobrinhas, afilhados e afilhadas.

Paulistana, Maria Luiza Kfouri nasceu em 1954. Ainda na infância, foi exposta à música em toda sua diversidade: o pai era amante da música popular brasileira e de grandes nomes da Era do Rádio. A mãe ouvia os grandes compositores americanos e a música clássica francesa. E os três irmãos engrossavam o caldo de todo esse ecletismo com João Gilberto, Beatles, Elvis Presley. Aos 11 anos ouviu Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, interpretada por aquela que seria a sua artista preferida, Elis Regina.

Repercussão

Em seu texto de despedida, o irmão Juca Kfouri escreveu: “Elis Regina perde fã tão ardorosa a ponto de certo dia, depois de ver Mana pela décima vez em show seu, perguntar se ela não tinha mais nada o que fazer - e decretar que, daí em diante, não pagaria mais ingresso”.

Além de Juca, nomes como das cantoras e compositoras Ná Ozetti e Mônica Salmaso, e o músico, escritor e jornalista Edson Natale, se despediram de Maria Luiza Kfouri em suas redes sociais, sempre lembrando da sua importância cultural para o país e generosidade.

“Maria Luiza Kfouri, grande! Vai fazer falta, muita. Siga na luz, querida Mana. Obrigada por tanto, imensa importância”, escreveu Ná Ozetti. Mônica Salmaso também abriu o coração ao se despedir da amiga: “Uma das pessoas que eu conheci mais retas em seus princípios, mais apaixonadas pela música, mais generosas e dedicadas à amizade”. Edson Natale salientou que “A historiografia da música popular brasileira perdeu hoje uma aguerrida defensora. Nossas condolências aos familiares e amigos. Muito obrigado, Mana!”  

Para o curador e editor do Acervo Violão Brasileiro, Alessandro Soares, praticamente todos os dias ele visita o site Discos do Brasil, e até hoje se impressiona de como ela cuidou exaustivamente em catalogar todos os itens da ficha técnica de um disco. "Generosa, Maria Luiza Kfouri é referência constante pra mim. Era uma fantástica conselheira informal, mesmo sem ter esse objetivo. Era entusiasta de meus projetos e, ao mesmo tempo, pontuava com franqueza o que pensava. Guardo as risadas e o aprendizado valioso".

 

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