Voltar

Legado de Isaías Sávio é revisitado no aniversário de 120 anos

Postado em Lives de Violão em 01/10/2020

Legado de Isaías Sávio é revisitado no aniversário de 120 anos

(Isaías Savio)

Por Alessandro Soares

Foi num sarau com Pixinguinha, que Luiz Bonfá ainda menino conheceu o professor e violonista Isaias Savio. Após o encontro, o mestre aceitou lhe dar aulas sem cobrar, ao perceber o sacrifício de Bonfá em passar três horas de viagem – de trem e caminhadas a pé – até chegar à casa do professor, que à época morava no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Ser generoso ao extremo e ter alunos brilhantes são duas entre várias marcas de Sávio, que nasceu em Montevidéu, no Uruguai, em 01 de outubro de 1900.

Para discutir o legado do mestre uruguaio, que já foi o nome mais importante do violão no Brasil e atualmente é menos lembrado do que merecia, o professor e violonista Luciano Morais vai mediar em seu ótimo canal Conversa de Violonista uma live nesta quarta-feira (01/10), às 16 horas, com a participação de ex-alunos ilustres de Isaias Savio, entre eles Paulo Bellinati, Paulo Porto Alegre, Gisela Nogueira, Giacomo Bartoloni e Edelton Gloeden.

A homenagem aos 120 anos de Savio começou ontem, no mesmo canal do Luciano Morais, com a valiosa conversa entre os violonistas e pesquisadores Gilson Antunes, Maurício Orosco (autor da dissertação Isaías Sávio e Sua Obra para Violão), Alessandro Pereira e Gisela. “A programação contempla todas as facetas de Isaías Sávio. A ideia dessa primeira live é buscar  reunir pessoas de uma geração que não teve contato diretamente com ele. E, no dia seguinte, reunir mestres que foram seus alunos”, resume Pereira, que idealizou a iniciativa, junto com Gisela e Luciano.

Além das lives, Alessandro Pereira criou no Instagram a página @isaias_savio para veicular, ao longo desta quarta, vídeos de violonistas que interpretarem obras de Sávio. E Fábio Bartoloni acaba de lançar um vídeo pelo canal do projeto Violão & Violão interpretando o Estudo Pitoresco n. 1 – Crepúsculo.

A ideia é que aos poucos a história de Sávio esteja mais presente. Conhecido por ter sido professor de Carlos Barbosa-Lima, Antonio Rebello, Henrique Pinto, Manoel São Marcos, Marco Pereira, Paulo Bellinati Toquinho e tantos outros, incluindo o citado Bonfá, Sávio também tem obras que merecem voltar ao repertório atual.

Há raros episódios em que Savio é lembrado em disco, como o jovem e brilhante violonista brasiliense radicado na Alemanha Pedro Aguiar, que em seu CD de estreia, em 2019, gravou a peça Batucada. E o violonista chinês Gerald Garcia, que no CD Brazilian Portrait, lançado em 1989, incluiu três peças de Savio: Sonha Iaiá, Serões e também a já citada Batucada, que  já foi gravada por Fabio Zanon (no CD Violões do Brasil) e por Badi Assad. Mas a obra de Sávio pode e deve ser mais tocada.

Legado de Isaías Sávio é revisitado no aniversário de 120 anos

(Paulo Porto Alegre)

Em entrevista ao Acervo, Paulo Porto Alegre enfatiza que devemos a Isaías Sávio a inclusão do violão no conservatório do Brasil, com a abertura do curso no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, em 1947. “Com um belo programa, conteúdo curricular incrível, pensado em sete anos e, como a gente imagina, bem erudito. Além de professor, Sávio foi muito importante para os alunos. Ajudava a todos, arrumava concertos. Ele realmente deu a mão a todo mundo. Teve uma época em que ele era o maior do Brasil, mas com o passar do tempo foi sendo esquecido”, lamenta.

Para fazer esta matéria, o Acervo colheu depoimentos tão bonitos que alguns deles – de Gisela Nogueira e de Paulo Porto Alegre – estão sendo publicados na coluna Cartas de Amor, no blog do portal. “Um dia minha mãe me levou ao concerto do Sérgio Abreu, que tocou a peça Sir John Smith His Almain, do John Dowland, que quase ninguém conhecia no Brasil naquela época. Na aula com Sávio, falei “mestre, eu queria muito tocar isso aqui”. Ele tinha a obra completa de todo mundo que se podia imaginar e lá estava a peça de Dowland em tablatura. E ele falou: “chica, vou transcrever para você”.

Na semana seguinte, Isaías Savio deu a transcrição a lápis para Gisela. “Fiquei encantada com a deferência do mestre, com essa presteza em atender ao desejo de uma criança. Eu toquei com uma paixão extrema e ele ficou encantado também”, recorda.

Legado de Isaías Sávio é revisitado no aniversário de 120 anos

(Gisela Nogueira)

Ajude a preservar a memória da nossa cultura e a riqueza da música brasileira. Faça aqui sua doação.