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Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira

Postado em Artigos em 18/01/2024

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Lanny Gordin

(Lanny Gordin)

Por Fábio Carrilho

(Especial para o Acervo Violão Brasileiro)

Há muitas controvérsias sobre quem foram os pioneiros na introdução da guitarra elétrica na música brasileira. Fato é que o instrumento já era usado em shows e gravações desde, pelo menos, a década de 1950, principalmente por guitarras de jazz com captação magnética. Paralelamente a isso, havia os "violões elétricos" feitos nacionalmente, inspirados tantos nos modelos clássicos quanto nas próprias guitarras de jazz estadunidenses, com captação do tipo piezoelétrica, tendo como notório pioneiro Antônio Rago (1916-2008), principalmente no contexto do choro. Mas essa é outra história, assim como a origem da guitarra baiana por Dodô e Osmar, os quais são tidos por muitos como os pioneiros locais da guitarra elétrica, apesar do "pau elétrico" ser um instrumento completamente diferente.

Por sua vez, a guitarra elétrica tal qual a conhecemos após o advento do rock n'roll repleta de distorções, efeitos e timbres variados tem como figura unânime entre seus pioneiros ilustres no Brasil Alexander Gordin, ou simplesmente Lanny Gordin (1951-2023). O músico, falecido no último mês de novembro, estava afastado dos palcos devido a distúrbios de saúde - síndrome de Guillain-Barré e espondilite anquilosante, inflamação nas articulações da coluna - os quais, somados a sua esquizofrenia de longa data, estavam o impossibilitado de tocar nos últimos anos.

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Figura central da guitarra elétrica do Tropicalismo ao lado de Sérgio Dias, dos Mutantes, Lanny alcançou o status de cult nacionalmente entre os anos 1968 e 1973 por meio de suas colaborações em álbuns antológicos de artistas originalmente conectados ao movimento, como Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Rita Lee.

Atuando como um verdadeiro antropófago guitarrístico-cultural na melhor perspectiva oswaldiana, mesclou de forma personalíssima elementos do rock psicodélico, do soul e do jazz sessentista com ritmos brasileiros como o samba e o baião, criando uma identidade sonora totalmente brasileira e, no seu caso, imediatamente reconhecida. Ainda nesse período, Lanny gravou álbuns com Jards Macalé, Erasmo Carlos, com a dupla Antonio Carlos e Jocáfi e tocou no único álbum do grupo instrumental Brazilian Octopus, que tinha entre seus músicos Hermeto Pascoal e o guitarrista Olmir Stocker. Acompanhou também artistas diversos, da turma da Jovem Guarda, como Wanderléa, Silvinha e Eduardo Araújo a Jorge Ben e Jair Rodrigues.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Lanny Gordin

A partir de 1973, a carreira de Lanny foi marcada por altos e baixos devido a afastamentos dos palcos e gravações por problemas de saúde. Lanny retomou esporadicamente às gravações nas décadas seguintes, atuando com Aguilar e Banda Performática, Itamar Assumpção, Chico César, Rômulo Fróes, Tulipa Ruiz, Mariana Aydar, além de seu trabalho solo, assumindo um estilo novo de guitarra, mais próximo ao jazz, explorando improvisações e experimentações harmônicas.

Da Stardust ao psicodelismo

De origem russa, Lanny nasceu em Xangai, China, em 1951, morou em Israel e chegou ao Brasil em 1957, estabelecendo-se com sua família no Rio e logo depois em São Paulo. Seu pai, o pianista russo Alan Gordin, era um apaixonado por jazz e teve um papel crucial em sua formação musical na medida em que foi o criador de uma das casas de música ao vivo mais emblemáticas da capital na década de 1960, a Stardust.

Localizada na praça Roosevelt, a Stardust era uma boate que fazia vizinhança com outras endereços paulistanos igualmente históricos, como Baiúca, Farney's, Cave, Bon Soir e Chicote, todas reunindo a nata dos instrumentistas locais, com programação bastante calcadas na bossa nova e no jazz. A Stardust tocava um tipo de música "para dançar", segundo Lanny, que ali começou a tocar profissionalmente aos dezesseis anos, após aprender o instrumento de maneira autodidata.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Lanny Gordin

Um de seus colegas de trabalho era Hermeto Pascoal, recém-chegado a São Paulo e que ali arrumou seu primeiro emprego. Lanny, que tinha Hermeto como uma espécie de professor informal, aproveitava junto a ele as ausências de seu pai para improvisarem em performances enérgicas, atraindo a atenção de artistas que frequentavam a boate. Desta fase, a alcunha de "Jimi Hendrix brasileiro" começava a ser colada a seu nome, pela grande influência do som do guitarrista estadunidense, principalmente pelos timbres carregados de distorções e efeitos como Wah-Wah.

Além de Hermeto, Pepeu Gomes também conseguiu na Stardust seu primeiro emprego fixo em São Paulo. Vindo a morar com Lanny, o guitarrista baiano considera até hoje Lanny como seu único professor. E assim como seu "mestre", incorporou à sua maneira a linguagem do rock internacional da época a elementos brasileiros, principalmente do choro, criando uma assinatura sonora que ficou famosa posteriormente com os Novos Baianos.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: O único disco do super grupo Brazilian Octopus formado por Lanny Gordin, Hermeto Pascoal, Cido Bianchi, Douglas de Oliveira, João Carlos Pegoraro, Carlos Alberto de Alcântera Pereira, Nilson da Matta e Olmir Stocker, o Alemão. Lançado em 1969

(O único disco do super grupo Brazilian Octopus formado por Lanny Gordin, Hermeto Pascoal, Cido Bianchi, Douglas de Oliveira, João Carlos Pegoraro, Carlos Alberto de Alcântera Pereira, Nilson da Matta e Olmir Stocker, o Alemão. Lançado em 1969)

Timbre 100% brasileiro

O instrumento de trabalho principal de Lanny desde a Stardust até as gravações da fase tropicalista era sua famosa guitarra Giannini Supersonic. Dona de um timbre cristalino, extraído por meio de seus três captadores de bobina simples, a Supersonic era "a" guitarra da Jovem Guarda, usada em shows, inclusive, pelo próprio Roberto Carlos. Segundo seu criador, o luthier Carlos Alberto Sossego, que assinou diversos projetos da Giannini na década de 1960, a Supersonic, lançada em 1963, foi o instrumento que "levou os brasileiros a tocarem guitarra", por ser a primeira guitarra elétrica produzida em larga quantidade no Brasil.

A história do modelo é curiosa e ilustra um pouco o modo de criação dos instrumentos brasileiros em tempos de informações escassas na era pré-internet. A Supersonic é uma mistura criativa feita por Sossego dos modelos Fender Jazzmaster, seguindo mesmo formato de corpo e escudo, e a Stratocaster, cujo esquema elétrico foi assumidamente copiado pelo luthier, usando o mesmo posicionamento de captadores, alavanca, controles e posicionamento do jack.

Outro elemento central do timbre inconfundível de Lanny é o efeito Fuzz, tipo de distorção bastante extravagante que faz a guitarra se aproximar de um instrumento de sopro. Usado bastante por guitarristas como Jimi Hendrix, o Fuzz foi introduzido no Brasil de maneira pioneira também pelo contemporâneo de Lanny, o guitarrista Sérgio Dias, dos Mutantes.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Disco de estreia da carreira solo de Rita Lee, Build Up, lançado em 1970

(Disco de estreia da carreira solo de Rita Lee, Build Up, lançado em 1970)

Os pedais Fuzz de ambos, aliás, foram desenvolvidos por Claudio Dias Baptista, irmão de Sérgio Dias, que dominava a eletrônica e desenvolvia de maneira caseira diversos efeitos para guitarra, além de construir instrumentos musicais. Lanny e Sérgio Dias tinham bastante proximidade na juventude, tendo o hábito de se reunir para praticarem juntos. 

Sobreposto ao Fuzz, o Wah-Wah era outro efeito sessentista bastante utilizado por Lanny, produzido tanto pelo Cláudio Dias Baptista, quanto pela extinta marca brasileira Sound. O set 100% nacional do guitarrista era completado por um bom amplificador valvulado, que poderia ser tanto um Giannini Tremendão, quanto um Palmer.

Gal Costa e Jards Macalé

Sem dúvida, as gravações de Lanny com Gal Costa e Jards Macalé foram os grandes marcos na carreira do guitarrista enquanto colaborador, pela liberdade criativa que lhe foi concedida, chegando a atuar como diretor musical desses artistas. Com Gal, gravou seus três primeiros álbuns de estúdio. Em "Gal Costa", gravado em 1968, Lanny assinou os arranjos da maioria das faixas, com destaque para o papel central da guitarra em arranjos de faixas icônicas como Divino Maravilhoso, Baby, Vou Recomeçar e A Coisa Mais Linda que Existe.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Lanny Gordin e Gal Costa

(Lanny Gordin e Gal Costa)

Na sequência, "Gal", de 1969, o trabalho mais psicodélico da artista e que traz o primeiro registro de Meu nome é Gal, de Roberto e Erasmo, na qual a cantora cita Lanny na letra em sua lista de "admiráveis" e esse não faz por menos nos longos improvisos junto a ela. Fechando a trinca de álbuns de estúdio, o cultuado "Legal", de 1970, que deu início à parceria de Lanny com Jards Macalé, que participou do álbum assinando composições e também arranjando diversas faixas. Um álbum clássico, trazendo composições das melhores safras de Macalé, como Hotel das Estrelas, e Caetano Veloso, como London, London e Deixa Sangrar, a primeira com lindos comentários de violão e a segunda, tema carnavalesco, com seu inconfundível Fuzz na introdução.

Lançado em 1971 em formato de LP duplo, "Fa-Tal – Gal a todo vapor" traz Lanny em registro ao vivo do show dirigido por Waly Salomão estreado no mesmo ano no Teatro Tereza Raquel, no Rio de Janeiro. O espetáculo tomou uma grande dimensão política pelo fato de naquele momento artistas brasileiros como Caetano e Gil estarem vivendo no exílio, transformando a cantora em uma espécie de voz local de resistência e contracultura.

Lanny não chegou a fazer toda a temporada do espetáculo, pois havia recebido um convite para excursionar à Europa com Jair Rodrigues e Os Originais do Samba, chamando Pepeu Gomes para substituí-lo. Por esse motivo, um dos lados do segundo LP conta com as guitarras de Lanny e o outro com as guitarras de Pepeu, tornando interessante a audição por permitir a comparação de ambos os estilos. Estão lá registros imortalizados por Lanny em clássicos como Dê um Rolê, Pérola Negra, Mal Secreto, Como 2 e 2 e Hotel das Estrelas.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Lanny Gordin, Jards Macalé e Tutty Moreno

(Lanny Gordin, Jards Macalé e Tutty Moreno)

Com Jards Macalé, Lanny gravou seu álbum de estreia, "Jards Macalé", de 1972, ao lado do baterista Tutty Moreno. Este álbum é um contraponto interessante ao "Fa-tal – Gal a todo vapor", na medida em que traz Lanny totalmente acústico, tocando violão de cordas de nylon com palheta, além do fato de ele ter gravado também o contrabaixo. É o trabalho mais visceral de Lanny por trazê-lo em interpretações sem nenhuma camada de efeito, juntamente com sua assinatura sonora inconfundível nos arranjos de base.

Experimentalismos e clássicos tropicalistas

Em um período de tempo relativamente curto, Lanny colaborou em álbuns hoje antológicos da MPB. Ao lado de Gilberto Gil, gravou o álbum "1969" (ou apenas "Gilberto Gil"), bastante experimental e ilustrativo do estilo psicodélico de Lanny em praticamente todas as faixas, trazendo arranjos de Rogério Duprat e uma banda base surpreendente com Wilson das Neves na bateria e Sérgio Barrozo ao baixo. 

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Disco Expresso 2222 de Gilberto Gil, lancaçdo em 1972

(Disco Expresso 2222 de Gilberto Gil, lancaçdo em 1972)

O grande destaque de Lanny com Gil, no entanto, é o álbum "Expresso 2222", de 1972, pela quantidade de clássicos do compositor e pela espontaneidade registrada pela banda nas gravações. Priorizando timbres de guitarra limpos, faixas como Back In Bahia, O Canto da Ema, Ele e Eu e Sai do Sereno trazem um Lanny um pouco mais maduro e menos expansivo sonoramente, indicando caminhos que o músico viria a tomar no futuro.

Com Caetano Veloso, Lanny gravou o álbum de capa branca, "Caetano Veloso", de 1969. Deste trabalho constam registros marcantes de Lanny, em faixas como "Irene", "Não identificado" e nos solos da marcha-carnavalesca "Atrás do Trio Elétrico", talvez o grande cartão de visitas de seu timbre Fuzz. Com Caetano, Lanny ainda lançou o trabalho mais radical do compositor, "Araçá Azul", de 1973, com destaque para as guitarras do medley De Cara / Eu Quero Essa Mulher Assim Mesmo, com sua inseparável Supersonic.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: O experimental Araça Azul de Caetano Veloso, lançado em 1973

(O experimental Araça Azul de Caetano Veloso, lançado em 1973)

Já com Rita Lee, admiradora confessa de Lanny, a qual costumava ir assisti-lo no Stardust, o guitarrista gravou o álbum de estreia da cantora, "Build Up", de 1970. Na época ainda nos Mutantes, Rita Lee assinou o trabalho que é praticamente um álbum da banda paulistana, com direção musical de Arnaldo Baptista, arranjos de Rogério Duprat e Lanny na guitarra no lugar de Sérgio Dias. Um título curioso, trazendo como destaque a voz jovem de Rita e os arranjos orquestrais de Duprat, que acabam se mostrando mais interessantes do que as próprias composições.

Ao lado de Erasmo Carlos, dividiu as guitarras com Sérgio Dias e Liminha em seu álbum "hippie" pós-Jovem Guarda, "Carlos, Erasmo", de 1971, tido como um clássico do rock brasileiro. O destaque novamente são as guitarras distorcidas das faixas É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo e Agora Ninguém Chora Mais

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Carlos, Erasmo... Disco clássico do rock brasileiro de Erasmo Carlos, lançado em 1971

(Carlos, Erasmo... Disco clássico do rock brasileiro de Erasmo Carlos, lançado em 1971)

Outro lançamento da época bastante cultuado - e sampleado por DJs mundo afora - é o álbum de estreia da dupla baiana Antonio Carlos e Jocáfi, "Mudei de ideia", de 1971. Com arranjos meticulosamente escritos por José Briamonte, Alexandre Barreto e Rogério Duprat. Lanny inseriu brilhantemente suas guitarras em temas como os funkeados Se Quiser Valer e Kabaluere. Autodidata, Lanny não sabia ler música e, nesses casos, seu procedimento consistia, segundo costumava dizer, em ouvir as gravações-guia atentamente e logo sair gravando "para valer".

Altos e baixos

Em 1972, a história de Lanny deu reviravolta. O LSD, o qual Lanny conhecera na Europa, fez agravar os sintomas iniciais de sua esquizofrenia. A continuidade de seu uso de volta ao Brasil resultou em forte bad trip, tendo como consequência sua internação, a pedido de seu pai, em sanatórios. Neles, Lanny foi submetido, como era costume na época, a fortes medicações e a tratamentos hoje considerados invasivos e violentos, como eletrochoques. 

De certa maneira, o LSD e a esquizofrenia acabaram por afastar o guitarrista de grandes produções e turnês por décadas, resultando em um período de altos e baixos em sua carreira artística. Seu porto seguro era o Stardust - onde tocou até o fechamento do bar em 1995 - sua família e poucos bons amigos.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Lanny Gordin e Paulo Miklos

(Lanny Gordin e Paulo Miklos)

Na década de 1980, foram raras as colaborações de Lanny em álbuns. Gravou o disco de estreia de Aguilar e Banda Performática, já dentro da estética da Vanguarda Paulista, produzido por Belchior e que trazia Paulo Miklos e Arnaldo Antunes antes do surgimento dos Titãs. Na década seguinte, gravou faixas esparsas em álbuns de Vange Milliet, Chico César e Itamar Assunção, além do velho parceiro Jards Macalé. 

Novo estilo na guitarra

No início dos anos 2000, Lanny estava vivendo um grande ostracismo quando o produtor Luiz Calanca, da loja e selo paulistano Baratos e Afins, resolveu bancar o seu primeiro álbum solo, simbolizando uma retomada de sua carreira. Este álbum, intitulado "Lanny Gordin", de 2001, apresentou ao público o que costumava chamar de seu "novo estilo", trazendo um som mais introspectivo, de veia jazzística, explorando timbres limpos, harmonias inusitadas, além de orquestrações e texturas criadas por overdubs de guitarras.  

Já sem sua famosa Supersonic, Lanny passou a usar guitarras de jazz. A mais famosa nessa sua nova fase foi sua inseparável Gibson ES-135 preta, instrumento semiacústico equipado com captadores P90 de bobina simples, o que de certa forma o manteve próximo aos timbres cristalinos da Supersonic que sempre foram sua marca registrada.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Disco Duos de Lanny Gordin, lançado em 2007

(Disco Duos de Lanny Gordin, lançado em 2007)

O álbum "Duos", de 2007, é o lançamento mais interessante e representativo da nova fase de Lanny, por apresentá-lo de modo totalmente à vontade nas guitarras - e no contrabaixo também - acompanhando diversas vozes de destaque da música brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Jards Macalé, Chico César, Rodrigo Amarante, Arnaldo Antunes, entre outros.

Lanny encabeçou diversos grupos instrumentais nos anos 2000, como o quarteto do Projeto Alfa, em parceria com o guitarrista Guilherme Held, com o qual gravou dois álbuns. E o grupo de jazz-rock Kaoll, junto ao guitarrista Bruno Moscatiello, com o qual gravou em 2010 o álbum "Auto-hipnose". Também gravou mais um álbum solo com quarteto, "Lanny's Quartet & All Stars", com a participação de diversos guitarristas, como Pepeu Gomes e Sérgio Dias.

Em sua fase recente, diversos artistas novos passaram a convidá-lo para participar de seus álbuns, como Tulipa Ruiz e Mariana Aydar. Em 2006, foi convidado para tocar em Londres no festival em comemoração aos 40 anos da Tropicália realizado no Barbican Center. Talvez o álbum de maior destaque dessa nova safra de colaborações seja "Cão", de Romulo Fróes, lançado em 2008, no qual Lanny divide suas guitarras em diversas faixas com o violão de sete cordas de Zé Barbeiro, uma combinação de estilos, no mínimo, curiosa.

Lanny Gordin e o seu legado para a guitarra brasileira - Foto: Lanny Gordin

(Lanny Gordin)

Novamente afastado dos palcos por problemas de saúde, um dos últimos registros de Lanny tocando talvez tenha sido no documentário "Inaudito", de 2017. Dirigido por Gregorio Gananian, nele o guitarrista faz um giro por sua terra natal, Xangai, improvisando com músicos locais, falando sobre a sua relação com a música e sua incansável busca pela inatingível "música pura".

Fugindo do formato de biografia, o filme mostra mais a faceta humana de Lanny do que seus feitos enquanto guitarrista. É um filme delicado, repleto de sutilezas, silêncios e conduzido pelo próprio Lanny, que expõe suas fragilidades decorrentes da esquizofrenia. Questões que fogem ao âmbito musical, como a superação do modelo manicomial, a reforma psiquiátrica e a superação de métodos invasivos e violentos como os eletrochoques certamente vem à tona, por exemplo, no momento em que Lanny diz ouvir vozes constantes e que elas só se calam quando ele toca sua guitarra. "Me parece que só quem toca música pura são os anjos. É um ideal atingível, mas trata-se de uma questão de tempo. É preciso tocar bastante até chegar a hora certa. E tudo tem a hora certa na vida, não é?", costumava dizer.

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