Jackson do Pandeiro ganha tributo em seu centenário no Sesc Santana
(Jackson do Pandeiro / Museu de Arte Popular da Paraíba)
O espetáculo inédito Toada Improvisada Jackson do Pandeiro 100 Anos celebra o universo estético do cantor, compositor e instrumentista paraibano, que neste sábado (31/08) completa 100 anos de nascimento. O violinista francês Nicolas Krassik, a cantora espanhola Irene Atienza e os brasileiros Junio Barreto, Silvério Pessoa, Targino Gondim e Mariana Aydar farão releituras dos cocos, rojões, sambas e frevos imortalizados pelo Rei do Ritmo. Os shows ocorrem nesta sexta-feira (30/08), às 21h, no sábado (31/08), também às 21h, e no domingo (01/09), às 18h no Sesc Santana.
O violino de Nicolas - ao lado do violão 7 cordas Gian Correa, do sanfoneiro Cosme Vieira e do percussionista Kabê Pinheiro - abre o espetáculo com arranjos instrumentais de “Sebastiana” e “Meu Enxoval”. Os arranjos unem o improviso jazzístico com a estética de um forró da rabeca. Em seguida, o cantor Junio Barreto fará versões bem pessoais de Jackson no samba “Lágrima” e nos forrós “Morena Bela” e “Tum Tum Tum”.
(Jackson do Pandeiro)
Seguindo com a mesma banda, a cantora espanhola Irene Atienza vai um sotaque flamenco a músicas menos conhecidas (“Forró de Surubim”) e consagradas (“Na Base da Chinela”), além de uma leitura em dueto para “Bodocongó”. Irene mostra o quanto a música da Espanha dialoga muito mais com a sonoridade do Nordeste brasileiro do que se pensa.
Enquanto Silvério Pessoa – que é dos maiores divulgadores da obra do mestre – vai relembrar que uma faceta esquecida do Jackson da Pandeiro, que são os frevos que ele lançou (“Micróbio do Frevo” e “Papel Crepom”) e temas do CD “Cabeça Feita”, no inteiramente dedicado ao homenageado.
(NIcolas Krassik / crédito: Elena Moccagatta)
Quinta atração da noite, a cantora Mariana Aydar animará o público com “Forró Quentinho”, “A Ordem é Samba”, “Capoeira Mata Um” e “Casaca de Couro”. Encerrando o show, Targino Gondim vai exibir (junto com sua banda de guitarra elétrica, baixo e bateria) os clássicos “O Canto da Ema”, “Tem Pouca Diferença” e “Amor de Mentirinha”, em dueto com Mariana Aydar. O show terá vídeo-cenário composto de geometrismos e imagens de fotos e filmes raros e históricos de Jackson do Pandeiro.
“Um dos motivos de reunir músicos europeus e brasileiros é devido ao crescente movimento de festivais e shows de forró pelo mundo. E isso é relativamente pouco observado no Brasil. Também queremos fazer um laboratório do vasto repertório de Jackson do Pandeiro, com arranjos especialmente criados para o show”, afirma o diretor artístico do projeto, Alessandro Soares.
(Silvério Pessoa)
Jackson do Pandeiro: Legado
Jackson do Pandeiro representa um dos maiores cânones da música brasileira. Seja nos alicerces no movimento tropicalista de Gilberto Gil, no gingado de Alceu Valença e Elba Ramalho, na rítmica de Lenine, no manguebeat de Chico Science e no som de Silvério Pessoa. E também no improviso jazzístico de Hermeto Pascoal, no suingue de João Bosco, nas melodias de Guinga.
Cantor de grande sucesso na Era do Rádio, foi eleito o Rei do Ritmo. Ao contrário de Luiz Gonzaga, cuja invenção está mais associada ao fole da sanfona, ao baião, xote, aboio, Jackson deu nova dimensão ao pandeiro e ao coco, rojão e também ao frevo e ao samba.
(Mariana Aydar)
Ele emplacou um sucesso atrás do outro: “Sebastiana”, “Chiclete com Banana”, “Canto da Ema”, “Cantiga do Sapo”, “Um a Um”, “Casaca de Couro” e vários outros títulos. São temas que atualmente podem ser mais conhecidos na voz de outros artistas, de Gal Costa a Paralamas do Sucesso. Como instrumentista, Jackson acompanhou artistas da MPB nos anos 1970 até pouco antes de morrer, em 1982.
Jackson do Pandeiro: Biografia
Paraibano de Alagoa Grande, José Gomes Filho nasceu em 31 de agosto de 1919. Desde muito jovem tinha um talento especial de tocar pandeiro e cantar de um jeito que impressionava a todos, acompanhando a mãe, Flora Mourão, cantadora de cocos, nas festas em que ela se apresentava. Após a morte do pai, Zé Gomes, que era oleiro, o filho migrou para Campina Grande, onde trabalhou numa padaria, embora soubesse que não queria fazer pão, e sim música. Por isso, não demorou a largar as madrugadas ao pé do forno pelas madrugadas “na batucada, no samba”.
(Targino Gondim)
Começou a tocar em cabarés e dancings de Campina Grande. Foi nesse meio que ganhou o apelido de Jack, por causa da magreza, que lembrava a do ator de faroeste americano Jack Perrin (1896-1967). Mais tarde, quando o artista integrava o elenco do programa de auditório Está na Hora, na Rádio Jornal do Comércio, no Recife, o radialista Ernani Seve acrescentou uma sílaba ao apelido e ele virou Jackson. Jackson do Pandeiro.
Umbigadas, risos e sucesso
Entre Campina Grande e Recife, Jackson do Pandeiro, ainda chamado de Jack, passou uma temporada em João Pessoa, atuando na Rádio Tabajara. Lá conheceu o compositor pernambucano Rosil Cavalcanti, autor de “Sebastiana”, seu primeiro grande sucesso. No programa da Rádio Jornal do Comércio, Jackson apresentava-se acompanhado pela atriz Luiza de Oliveira e a dupla arrancava gargalhadas do auditório com a performance em que Luiza dava umbigadas no parceiro cada vez que ele cantava “A, E, I, O, U ipsolone”.
(Irene Atienza / crédito: Renan Perobelli)
O sucesso foi tanto que a gravadora Copacabana convidou Jackson a gravar um disco. “Sebastiana” de um lado e, do outro, “Forró em Limoeiro”, do pernambucano Edgar Ferreira. As duas músicas tornaram-se sucesso nacional e Jackson teve que tomar um navio (pois morria de medo de avião) para o Rio de Janeiro - para onde iam, afinal, todos que ambicionavam um lugar na constelação de estrelas da rádio brasileira à época.
Apresentou-se no Programa César de Alencar, na Rádio Nacional, e não parou mais. A partir dos anos 1950, Jackson do Pandeiro passou a ser presença constante em programas de rádio e de tevê, conquistando o país com seu assombroso domínio do ritmo. Xaxado, coco, xote, baião, outros ritmos nordestinos e até o samba ganhavam cores vibrantes na batida de seu pandeiro e no seu canto de fôlego.
(Junio Barreto)
Nas décadas seguintes, Jackson emplacou um sucesso atrás de outro, a exemplo de Dezessete na Corrente (Edgar Ferreira e Manoel Firmino Alves), O Canto da Ema (João do Vale, Ayres Viana e Alventino Cavalcanti), Coco do Norte (Rosil Cavalcanti) e A Mulher do Aníbal (Genival Macedo e Nestor de Paula). Brilhava como intérprete e também dava amostras de habilidade como compositor em canções como Cantiga do Sapo (Buco do Pandeiro e Jackson do Pandeiro), Xote de Copacabana (Jackson do Pandeiro), Cumpadre João (Jackson do Pandeiro e Rosil Cavalcanti).
Embora fosse nordestino como Luiz Gonzaga, seguia uma linha bem diferente dele. Falava-se até em certa rivalidade entre os dois. Desnecessária, já que seus talentos e personalidades artísticas estavam além da comparação. Tanto que Jackson também ganhou um título de nobreza: Rei do Ritmo. Assim, influenciou gerações – de Genival Lacerda a Silvério Pessoa – e manteve-se em atividade até sua morte, em julho de 1982, em Brasília, aos 62 anos, em decorrência de complicações de embolia pulmonar e cerebral. Tinha acabado de se apresentar na cidade.
Jackson do Pandeiro não deixou de ser afetado pelas flutuações do mercado fonográfico. Entre altos e baixos, se ressentia dos “cabeludos” que chegavam, ganhavam espaço e davam novos ares à música brasileira. Isso, no entanto, não o impediu de aceitar o convite de dois desses cabeludos, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, que até então ele nem conhecia, para cantar com eles a música “Papagaio do Futuro”, no Festival Internacional da Canção (FIC), em 1972. Com Alceu, Jackson também viajaria pelo Brasil em apresentações do Projeto Pixinguinha.
Ficha técnica:
Direção artística - Alessandro Soares
Produção executiva - Igor Fearn
Técnico PA – Daniel Tápia
Iluminador - Silvestre Garcia Jr
Vídeocenário - Paulo Garcia
Roadie - Luís Silva
SERVIÇO
Toada Improvisada: Jackson do Pandeiro
30/08, sexta-feira, às 21h; 31/08, sábado, às 21h; 01/09, domingo, às 18h.
Show. Teatro. Classificação indicativa: 12 anos.
Valores: R$7,5 (credenciados), R$12,5 (meia), R$25 (inteira).
Venda de ingressos disponível nas bilheterias das unidades do Sesc no estado de São Paulo e online
Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo.
Estacionamento - R$12,00 a primeira hora e R$3,00 a hora adicional - desconto para credenciados.
Telefone para informações: (11) 2971-8700
Para informações sobre outras programações ligue 0800-118220 ou acesse o portal sescsp.org.br/santana