Homenagem: morta em 2017, Mayara Amaral era uma entusiasta da obra de outras violonistas
Postado
em Biblioteca
em 08/03/2018
Por Gabriel de Sá
A violonista Mayara Amaral, nascida no Mato Grosso do Sul, foi, além de uma competente instrumentista, uma entusiasta da obra de outras mulheres que também se aventuraram pelos acordes do violão. Morta em 2017, aos 27 anos, Mayara era formada pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e lecionava música na rede municipal de ensino da capital do estado natal. Em 2017, a instrumentista concluiu um mestrado na Universidade Federal de Goiás (UFG), em que investigou a obra de mulheres compositoras da década de 1970. Este post é uma homenagem do Acervo não apenas à Mayara e seu legado, mas também a outras mulheres que brindam o universo dos sons com seus talentos.
Na dissertação de mestrado A mulher compositora e o violão da década de 1970: Vertentes analíticas e contextualização histórico-estilística, orientada por Eduardo Meirinhos e apresentada em Goiânia em março de 2017, a instrumentista sul-matogrossense analisou a obra das brasileiras:
- Lina Pires de Campos (São Paulo-SP / 1918-2003)
- Adelaide Pereira da Silva, (Rio Claro-SP / 1928)
- Eunice Katunda (Rio de Janeiro-RJ / 1915-1990)
- Esther Scliar (Porto Alegre-RS / 1926-1978)
- Maria Helena da Costa (Rio de Janeiro-RJ /1939)
Mayara escreveu na dissertação que um dos objetivos da produção era contribuir para o repertório violonístico nacional, dando visibilidade a obras pouco conhecidas e tocadas, e evidenciar a participação da mulher no cenário da composição musical brasileira. “Ela me procurou para pedir partituras e fazer uma entrevista para a sua dissertação na UFG. Eu fiquei feliz em saber que um dos meus vídeos do Youtube a havia inspirado em sua temática sobre compositoras mulheres”, conta o violonista Gilson Antunes, que fez parte da banca de defesa do trabalho acadêmico de Mayara. “A defesa foi brilhante e o trabalho extremamente bem escrito, conciso e de grande importância para o meio musical brasileiro. É de se destacar, também, o recital antes da defesa, no qual ela interpretou obras de extrema dificuldade do repertório brasileiro”, avalia Antunes.
Mayara foi assassinada de forma trágica em julho de 2017, em Campo Grande, vítima de feminicídio. Para o amigo Gilson Antunes, o violão brasileiro perdeu um de seus grandes talentos, além de uma pesquisadora promissora.
Depoimentos
“Ela era aquele talento deslumbrante, aquela sonoridade que saia quase sozinha. Quando era minha aluna de graduação, ela tinha aquelas dificuldades que se desatam como que em um passe de mágica. Sempre foi um sonho ser professor dela. Ela também tinha um tipo de expressão musical muito especial, direta. Ela era muito direta tocando. E o som dela era meio líquido, fluía. É um talento que foi ceifado cedo, mas que floresceu muito. Fez muita diferença e é muita pessoa de quem eu guardo muita saudade.”
Marcelo Fernandes, professor de Mayara
“Eu conheci a Mayara há vários anos, creio que durante um dos eventos de violão que eu organizei no Estado de São Paulo. Desde o início ela se mostrou uma jovem de extremo talento e perseverança e era certamente uma das grandes promessas da nova geração do violão brasileiro. Em uma das últimas edições do Festival Leo Brouwer, em São Paulo, a Mayara foi uma das poucas pessoas escolhidas para tocar em Masterclass com esse grande músico cubano, considerado o maior compositor vivo para violão. Em 2015 ela também fez uma Masterclass comigo em Campo Grande-MS, tocando de forma correta, bem preparada e aberta a novas propostas técnico-interpretativas. Eu apenas guardo excelentes lembranças da Mayara. Ela foi uma grande amiga, sempre alegre e cheia de vida, com imenso talento e seriedade. Que essas características ajudem sempre a inspirar e conduzir novos violonistas, dos quais a Mayara certamente era um dos maiores destaques.”
Gilson Antunes, professor e violonista