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Há 100 nascia Batatinha, um dos maiores representantes do samba da Bahia

Postado em Coluna Alessandro Soares em 06/08/2024

Há 100 nascia Batatinha, um dos maiores representantes do samba da Bahia - Foto: Batatinha (Oscar da Penha)

(Batatinha [Oscar da Penha])

Por Alessandro Soares

A segunda-feira (05/08) foi marcada pelo centenário de nascimento de Oscar da Penha, o Batatinha (1924-1997), um dos grandes representantes do samba da Bahia. O contraste faz parte da iconografia do mestre. Embora tenha feito muita música para carnaval, seus temas são predominantemente melancólicos, de versos tristes e cortantes e melodias em tonalidades menores. Ele fazia puro samba, mas com elementos que dialogam com o blues, utilizando inclusive intervalos da chamada blue note em canções como Imitação. Em termos de letra, a comparação com o carioca Nelson Cavaquinho é evidente, mas com um jeito muito próprio de falar de sofrimento e tristeza, mas não de morte.

Batatinha não toca instrumentos melódicos e nem harmônicos. Mas era exímio tocador de caixa de fósforo. E não viva de música. Trabalhava como tipógrafo nos Diários Associados. E compôs muito diante de uma máquina de escrever do jornal. Depois um tempo desenvolvendo a melodia, quando ele achava que a música estava mais ou menos encaminhada, aí pegava uma caixa de fósforo, sentava-se num canto e cantava pra ele mesmo, pra burilar e não esquecer a obra. O compositor baiano também se considerava o pioneiro em introduzir música de capoeira na música popular brasileira, desde os anos 1950.

Há 100 nascia Batatinha, um dos maiores representantes do samba da Bahia - Foto: Batatinha

(Batatinha)

Por volta dos 20 anos, na década de 1940, Batatinha se apresentava cantando o repertório do sambista paulista Vassourinha (1923-1942) no Programa Campeonato do Samba, criado e apresentado por Antônio Maria, na Rádio Sociedade da Bahia. Assim o apresentador o apelidou de Batatinha.

Uma das primeiras músicas de Batatinha a ser gravada foi O Inventor do Trabalho, pela cantora Nora Ney. E também Jajá da Gamboa, esta lançada por Jamelão, em 1954. Três anos depois, o cineasta Glauber Rocha incluiu Diplomacia no curta-metragem Barravento. Mas a principal intérprete de Batatinha foi Maria Bethânia, que o gravou desde seu primeiro disco, de 1965, com Diplomacia, mas o nome da faixa no LP está como Só Eu Sei.

Apesar de compor desde jovem, Batatinha só entrou em estúdio aos 45 anos de idade, em 1969 quando lançou o compacto Batatinha e Companhia Ilimitada. Ele só conseguiu gravar graças a Paulinho da Viola, que falava da excelência de um grupo de sambistas baianos do qual Batatinha fazia parte.

Há 100 nascia Batatinha, um dos maiores representantes do samba da Bahia

Em 1971, Maria Bethânia voltou a interpretar Batatinha no disco Rosa dos Ventos, com um medley formado pelas músicas Toalha da Saudade, Imitação e Hora da Razão. No disco seguinte, em 1972, a cantora gravou ainda de Batatinha a marcha O Circo, no disco Drama.

Já em 1975, juntamente com os sambistas Panela e Riachão, Batatinha gravou o LP Samba da Bahia. Em 1976, ele lançou o LP Toalha da Saudade. Quando completou 50 anos de carreira, em 1993, lançou o disco 50 anos de Samba, no qual regravou algumas composições de sua autoria que foram sucessos com outros artistas.

Batatinha morreu em 3 de janeiro de 1997, de câncer de próstata, sem ter visto o lançamento do CD Diplomacia, produzido por Paquito e J. Velloso, no qual Batatinha canta na maioria das faixas. Mas há participações especias de Gilberto Gil, Chico Buarque, Maria Bethânia, Jussara Silveira e Caetano Veloso.

Há 100 nascia Batatinha, um dos maiores representantes do samba da Bahia

Bastidores do CD Diplomacia

A respeito do CD Diplomacia, J. Velloso como convidou Batatinha para o projeto. “Demos a ele toda liberdade para discutir com a gente como seria o trabalho. Do repertório à criação do encarte e capa, ele participou. Sugerimos a ideia do som que queríamos e ele aprovou. Nos reunimos cerca de umas cinco vezes para gravar em fita cassete os sambas que ele recordava. Seguimos uma ordem cronológica das memórias dele, para que a gente pudesse ouvir tudo que ele lembrasse, pois, como muitos artistas, Batatinha não tinha nenhuma organização com sua obra. Ele não tinha nenhum controle sobre sua obra, não registrava nada, só na memória. Fomos pedindo para ele lembrar as canções com um gravadorzinho, em casa. Acabamos gravando mais de 70 músicas.”, recorda.

Há 100 nascia Batatinha, um dos maiores representantes do samba da Bahia - Foto: J. Velloso e Batatinha

(J. Velloso e Batatinha)

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