Festival de mulheres compositoras tem inscrições abertas até esta quinta (13/10)
(Violonista e compositora mexicana Anastasia Sonaranda)
Por Alessandro Soares e Geovany Hércules
Se os homens violonistas compositores enfrentam muita dificuldade em difundir suas peças, num mercado fonográfico tão fragmentado e pouco atento à música instrumental, dá pra imaginar o quanto é muito mais difícil o desafio das mulheres que escrevem para o instrumento em serem ouvidas e reconhecidas. De uns dois anos para cá, porém, a Associação Internacional de Violonistas Compositoras (AIVIC) têm realizado eventos para registrar, agrupar e tornar mais acessíveis as obras de mulheres compositoras em diversos países. E o resultado impressiona, tanto pela riqueza artística, quanto pela variedade de estilos e o relevante volume de músicas.
A mais recente empreitada da AIVIC, um coletivo que reúne cerca de 30 musicistas da América Latina e da Europa, é o I Festival Internacional AIVIC, que está com inscrições abertas até esta quinta-feira (13/10). Para participar, basta gravar um vídeo interpretando uma peça de livre escolha composta por uma mulher com duração de até oito minutos e enviá-la junto com o formulário preenchido com as informações técnicas da obra gravada.
INSCREVA-SE PREENCHENDO O FORMULÁRIO CLICANDO AQUI
A peça será veiculada no Concerto de interpretação Obras de Mulheres Compositoras para Violão, integrando a programação do Festival, que vai ocorrer entre 11 e 13 de novembro de 2022 pelo canal de Youtube AIVIC Guitar.
Com inscrições gratuitas e abrangendo solistas profissionais, mas também estudantes e pessoas que tocam por hobby, o festival é composto por três modalidades: a primeira é de obras novas dedicadas a Mayara Amaral e compostas por integrantes do coletivo AIVIC. A segunda é de obras para violão de temática livre também das integrantes do coletivo.
E a terceira modalidade é a interpretação de obras de mulheres compositoras para violão. É esta última que está com as inscrições abertas. Violonistas em geral podem participar do evento: mulheres, homens, todos os gêneros e experiências.
Detalhe: a obra instrumental pode ser para violão solo ou conjunto de violões (duos, trios, quartetos, cameratas, etc) ou até formações camerísticas com outros instrumentos (a exemplo de violão e piano, violão e flauta ou cordas). Mas precisa ter sido criada por uma mulher compositora de qualquer período histórico, estilo musical ou nacionalidade. Não é necessário enviar partitura.
Playlists e partituras
Para facilitar o acesso a diversas peças de mulheres compositoras, a AIVIC criou uma playlist no Spotify com 36 peças de autoras como as brasileiras Rê Montanari e Laura Campanér, a mexicana Anastasia Sonaranda, a chilena Ximena Matamoros, a peruana Virginia Yep, as argentinas Gabriela Battistini e Andrea Zurita e a francesa radicada em Portugal Elodie Bouny. Também está disponível para consulta outra playlist, esta de vídeos, no canal AIVIC Guitar do Youtube. São peças com partituras, muitas deles acessíveis gratuitamente. Para tirar dúvidas e solicitar as partituras, é preciso escrever para festivalaivic@gmail.com
Aqui vão algumas dicas na hora da gravação: mantenha a câmera fixa, use o plano americano como enquadramento (meio corpo) para que seu rosto, mãos e instrumento fiquem visíveis na hora da execução da música. Escolha um local bem iluminado e capte bem o áudio. Lembrando que a duração do vídeo é de aproximadamente 8 minutos. Outras informações mais técnicas sobre formato e resolução do vídeo podem ser encontradas no formulário de inscrição.
(Thaís Nascimento)
De acordo com uma das coordenadoras da AIVIC, a violonista, pesquisadora e compositora gaúcha Thais Nascimento em entrevista ao Acervo, não há critério de competição: “Não é uma seleção, não é um concurso. Todos e todas podem participar desde que seja uma obra de compositora”. Ainda segundo Nascimento, apesar de o festival funcionar como janela para as integrantes da AIVIC, ele também visa a pluralidade: “A proposta é abranger intérpretes de diversos estilos e níveis”. Reforçando que entusiastas do violão que não exercem a profissão de violonistas ou compositores também podem se inscrever.
A homenageada desse ano é a violonista, professora e pesquisadora Mayara Amaral (1989-2017), pioneira no levantamento de obras de compositoras no Brasil. A dissertação de mestrado dela foi a primeira sobre essa temática a ser publicada no país. Não por acaso, Thais Nascimento escreve que Amaral tem sido fonte de inspiração e referência desde a fundação do coletivo. Infelizmente, Amaral foi vítima de feminicídio aos 27 anos. Em sua memória, integrantes do coletivo AIVIC irão executar músicas para violão solo que foram compostas em sua homenagem.
(Mayara Amaral)
Formado no final de em 2020, em plena pandemia, pela chilena Ximena Matamoros (violonista e compositora) e as brasileiras Thaís Nascimento e Laura Campanér (violonista e compositora), a AIVIC tem como objetivo dar visibilidade aos trabalhos de mulheres compositoras, divulgando obras e carreiras das integrantes, para desta forma aumentar o protagonismo da mulher na música.
Desigualdade
Estruturado em diversos setores da sociedade, a desigualdade de gênero também se manifesta na música. Segundo o release de divulgação do festival, instrumentistas, produtoras, intérpretes e principalmente compositoras são bem menos reconhecidas. Dados recentes da UBC (União Brasileira de Compositores) no Brasil apontam que o maior volume dos recebimentos de direitos autorais por composições ainda vai para homens.
(Laura Campanér)
“Carreiras de sucesso de homens instrumentistas, cantores e compositores, frutos de uma cultura arraigada na qual as mulheres são vistas mais como musas do que protagonistas, confirmam a disparidade de oportunidades no mercado musical e as barreiras que a mulher tem que ultrapassar para expressar sua intelectualidade, seu talento e sua arte”, destaca o texto.
Nesse sentido, o Festival Internacional AIVIC celebra esses dois anos de muita luta por protagonismo, representatividade e espaço da mulher compositora na música brasileira.
Apesar de a maioria de suas integrantes ser da América Latina, como México, Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, Peru, Cuba e Paraguai, a AIVIC também reúne violonistas de países europeus, como Portugal, França e Holanda. Dentre os nomes que formam o coletivo, podemos citar: Thaís Nascimento, Laura Campanér e Andrea Perrone (Brasil), Anastasia Sonaranda, Nadia Borislova e Laura Chávez-Blanco (México), Gabriela Battistini, Andrea Zurita, Carolina Velázquez e Ana Larrubia (Argentina), Ximena Matamoros (Chile), Elodie Bouny (Portugal), Ariadna Cuellar (Cuba) e Virginia Yep (Perú).
Serviço:
FESTIVAL INTERNACIONAL AIVIC - 1ª. Edição
De 11 a 13 de novembro de 2022
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO - até esta quinta-feira (13/10):
PLAYLIST AIVIC NO SPOTIFY - OBRAS COM PARTITURAS
PLAYLIST AIVIC NO YOUTUBE - OBRAS COM PARTITURAS
Solicitação de partituras e dúvidas: festivalaivic@gmail.com