Enchente na Bahia destrói oficina do luthier Jacob de Oliveira
(Casa do luthier Jacob atingida pela enchente, em Itabuna - BA)
Por Elcylene Leocádio
Jacob Washington Bispo de Oliveira tem 44 anos de idade e 30 anos dedicados à fabricação de instrumentos musicais. Aprendeu com o pai, ensinou ao filho e até hoje vive a vida construindo e restaurando cavaquinhos, violões, bandolim, banjo. Os desafios enfrentados ao longo de todos esses anos, no aprendizado do ofício delicado da lutheria, na busca de responder aos desejos, interesses de cada músico que o procura, em nada se compara com o que tem diante de si neste momento: a urgência em reconstruir sua casa e seu ateliê completamente destruídos pela força das águas que invadiram a cidade de Itabuna, no sul da Bahia, bem no final de dezembro de 2021.
Jacob falou ao Acervo sobre a graça de ter a sua família a salvo e sobre a dor de ver toda uma vida de trabalho ser arrastada em “uma ação de poucos segundos”. O rio, que fica a 150 metros de distância e bem abaixo de sua casa, jamais subiu tanto e tão rápido. Não deu tempo. As madeiras, os equipamentos, os moldes, as tarraxas, o ateliê, a casa, tudo ficou submerso. Para ele foi um “tsunami”, “algo que não dá para explicar”.
(Casa do luthier Jacob de Oliveira, em Itabuna - BA)
Sim, como todas as pessoas da região, Jacob tem pela frente um enorme desafio: refazer seu canto de trabalho, seu canto de morar, sua vida. E para isso, ele precisa não apenas de força de vontade, de fé e do empenho da família. Ele precisa do apoio de amigos e amigas, de artistas que tocam em instrumentos saídos de suas mãos, de seus pares luthiers, e de muitas outras pessoas que se importam com as demais e querem vê-las bem, sendo próximas ou não.
Conta para doações
E aqui, o Acervo se junta ao pedido do violonista Max Riccio em favor do luthier Jacob. Seu nome completo é Jacob Washington Bispo de Oliveira. Dados bancários: Bradesco. Agência 0239. Conta corrente 0515810 – 9. CPF: 006.220.785-77. (A chave PIX é o número do CPF). Quem desejar fazer outro tipo de doação deve entrar em contato com Jacob pelo telefone: (73) 9.8882-0706.
(Ateliê do luthier Jacob destruído pela enchente em Itabuna - Ba)
Max Riccio, um dos expoentes da nova geração de violonistas do Rio de Janeiro, conheceu o trabalho do Jacob através de um amigo que tem cavaquinhos e banjos de sua autoria. “Gostei bastante da estética, da configuração das madeiras, da sonoridade, da tocabilidade dos instrumentos e logo encomendei alguns violões para alunos meus, inclusive um de 3/4, pois dou aulas para crianças”.
Entre os vários instrumentos que produz, Jacob tem uma linha de violões com valor mais acessível, adequado para estudantes que precisam de instrumentos com mais qualidade que os de fábrica, mas ainda não podem ter um violão mais caro. “Depois desta tragédia, encomendei também um violão para mim”, diz Max. Certamente ele sabe que ampliar a demanda de trabalho do luthier é mais uma forma de apoio.
(Violão 7 cordas construído por Jacob)
Trajetória
Aos 14 anos Jacob começou a trabalhar com o pai na restauração e reparo de instrumentos. À diferença do pai descrito por Paulinho da Viola no samba 14 Anos, o pai de Jacob não o chamou para conversar e dizer que ele tinha que ser doutor, mas o acolheu para ensinar o seu ofício. Alguns anos depois, aos 20, o jovem se interessou pela construção de instrumentos. Juntos eles foram amadurecendo a ideia, praticando e o trabalho foi se desenvolvendo. “A gente começou na linhagem do cavaquinho e do violão. Depois nós fomos para o bandolim, banjo, violão de 7 cordas, sem muita divulgação, trabalhando de forma exclusiva, conforme o pedido do cliente”.
Após a morte do pai, Jacob chamou o filho adolescente para trabalhar com ele. “Ele estava na mesma idade que eu, quando comecei a trabalhar. E até hoje, nós estamos nessa área de construções de violões, aperfeiçoando, tomando cursos, aprendendo mais e mais e montando nosso ateliê, que é nossa base exclusiva para fabricação do instrumento”.
(Detalhe de banjo fabricado por luthier Jacob)
Jacob fala da segurança que o espaço lhe dava e conta que, ao perceberem o que estava acontecendo, começaram a salvar o material dos clientes, as peças que estavam sendo fabricadas, o que estava pronto, os equipamentos. Mas a rapidez com que as águas foram subindo, tornaram a situação muito perigosa. Algumas ferramentas pesadas foram danificadas pela lama. Nos dias seguintes, algumas pessoas de uma comunidade próxima chegaram dizendo: “olha o que a gente achou a mais de 500 metros daqui” e “nos entregaram violões completamente destruídos”, recorda.
A casa ficou submersa. À parte as perdas materiais e o abalo emocional, Jacob comemora o fato de sua família ter saído ilesa desse “tsunami”. “É isso aí, vida que segue, só agradecimento a todos”.
(luthier Jacob de Oliveira)