Elodie Bouny faz recital em Paris com repertório inteiramente autoral e estreia novas obras
Por Alessandro Soares
Numa rápida conversa com Elodie Bouny, a impressão é de que ela está compondo mais do que nunca. Há sempre histórias sobre novas ideias musicais pra contar. A violonista francesa atualmente faz doutorado em Composição, sendo das poucas mulheres no Brasil com sólido e constante trabalho de criar peças para violão. Mora no Rio de Janeiro há 11 anos, mas nesta semana deu um pulo em Paris para apresentar um concerto inteiramente formado por obras de sua autoria, exceto o arranjo que escreveu para a valsa Gotas de Ouro, de Ernesto Nazareth.
O recital de Elodie é nesta quinta-feira (28/06), às 20 horas (15h, no horário de Brasília), no Salle Festive du Centre Culturel Baschet (Saint-Michel-sur-Orge). Além do repertório para violão solo, a violonista terá convidados especiais em várias formações (duo, trio, quarteto e ensemble de 35 violões). E vai estrear três peças da nova fornada: Milonga Turca, Déjà-Vu e Sketches Hachés.
A primeira parte é reservada ao violão solo, incluindo os belos temas Anjo e Cena Brasileira (que Elodie gravou nos dois primeiros CDs do projeto Novas). Ela interpreta também La Desconfiada (do primeiro CD solo, Terra Adentro) e uma sequência de três peças ainda inéditas em gravação: Valsa (Quase) Portuguesa, Duas Almas e Abraços do Sul. A violonista fará ainda Que Lo Diga La Luna (lançada em vídeo pelo Acervo Digital do Violão Brasileiro) e Conversa das Flores (que integra o CD do Movimento Violão 2013 e cuja partitura pode ser baixada no Acervo).
No segundo momento do espetáculo, Elodie tocará em duo com o violonista Sebastien Lechanoine a peça Kenibuni (dedicada ao sobrinho Kenny Bouny e lançada no CD Terra Adentro).
Estreias
As três estreias de composições, por sua vez, terão performances a inúmeras mãos. Um trio de violões (com os professores dos conservatórios Nicolas Malarmey, Marc Labouve e Thomas Baron) vai apresentar Milonga Turca (que Elodie compôs dedicada ao amigo argentino Ricardo Moyano, que reside na Turquia). Em seguida o Paris Guitare Quartet (liderado pelo português Quito de Souza e do qual Sebastien Lechanoine faz parte) vão tocar Déjà-Vu (encomendada pelo próprio quarteto).
No final do concerto sobe ao palco um ensemble de violões (composto de 35 violonistas com idades que variam de 11 e 82 anos) para estrear a peça Sketches Hachés, que Elodie compôs sob encomenda do conservatório de Saint-Michel-sur-Orge).
De certa forma, este concerto dialoga com o início da carreira de Elodie. De 2001 até 2007 ela tocou num trio de violões chamado Trio Tiempos, junto com Sebastien Lechanoine e Raul Maldonado (reconhecido compositor argentino). O trio se desfez quando ela veio morar no Brasil. “Nesse meio tempo, Sebastien passou a integrar o ótimo Paris Guitare Quartet. Ano passado, num jantar, conheci os integrantes do quarteto e tocamos. Mostrei umas músicas minhas e eles gostaram muito. Dias depois Sebastien me pediu para escrever uma peça para o quarteto”.
Hambúrguer
Elodie recorda que, algumas semanas depois, Thomas Baron (integrante do quarteto e professor de violão no Conservatório de Saint-Michel-sur-Orge) teve a ideia de organizar um concerto só com peças de Elodie e perguntou se ela poderia compor algo mais pedagógico, mais acessível tecnicamente. “Daí nasceu a peça Sketches Hachés (jogo de palavra com Steack Hachés, hambúrguer de carne, que as crianças adoram). São 4 sketches curtos, que se juntam no último, justapondo elementos de cada sketche, com duração total de uns cinco minutos.
Para tocar esta última peça, juntaram-se alunos dos conservatórios de Sainte-Geneviève-sous-bois e Saint -Michel-sur-Orge, cidades que ficam a uns 30 quilômetros de Paris. E também se uniram ao grupo os professores e violonistas amadores da associação de violão Guitar'Essone (liderada por Quito de Souza), somando assim 35 violonistas.