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Documentário sobre Leo Brouwer estreia no Festival É Tudo Verdade neste domingo (04/10)

Postado em Lançamentos em 03/10/2020

Documentário sobre Leo Brouwer estreia no Festival É Tudo Verdade neste domingo (04/10)

(De esquerda a direita: Pablo Ascanio (assistente de câmera), Lisandra López Fabé (roteirista e diretora), Leo Brouwer, Velia Días de Villalvilla (som direto e pós-produção de som), Alejandro Alonso (diretor de fotografia), Katherine T. Gavilán (diretora, produtora e co-roteirista de montagem) - Crédito: produção do filme “Brouwer. El Origen de la Sombra”

Por Fernando Llanos*

(Especial para o Acervo Violão Brasileiro)

Uma síntese da vida e da filosofia (não enquanto estética, mas de visão do mundo) do compositor cubano Leo Brouwer é o que apresenta o documentário Brouwer: a origem da sombra (Brouwer: el origen de la sombra, 2019), dirigido por Katherine Gavilan e Lisandra López. O longa será exibido neste domingo (04/10), na plataforma Looke, às 13h, no Festival É Tudo Verdade.  Esta première é importante por ser a estreia fora de Cuba, segundo me revelou Katherine Gavilan, pois a pandemia e as restrições geradas pelo combate ao COVID-19 remanejaram os planos do filme para outros festivais.

As diretoras realizaram uma celebração em vida de Brouwer, um artista tão importante e transcendental para aquilo que podemos considerar como um segundo renascimento do violão (o primeiro, sem dúvida, com Segovia na Europa ocidental e com Villa-Lobos e Agustín Barrios na América Latina), enquanto instrumento solista e de concerto de expandidas potencialidades.

Documentário sobre Leo Brouwer estreia no Festival É Tudo Verdade neste domingo (04/10)

Longe do estilo dos filmes biográficos ou “biopics”, esta imersão no universo sinestésico do Brouwer é um convite ao silêncio e à escuta atenta, como passivos ouvintes deste que pode ser considerado um testamento em vida, como quem revisita sua obra e a explica - às vezes de forma didática e outras tantas enigmaticamente – com a tranquilidade e parcimônia de quem dita em vida as suas próprias memórias.

No longa, transparece – mesmo entre sombras, ou apesar delas - a gramática musical que o fez característico, arquetípico, poderíamos arriscar em dizer: uma arte que resume como fruto de uma “complexidade de linguagem e uma simplicidade na escrita”, como Brouwer me contou quando o entrevistei em 2019.

A figura poética da sombra evoca El arpa y la sombra, título do romance do escritor cubano Alejo Carpentier (1904-1980) e que Brouwer usara também como nome de uma das suas peças para violão solo em 2005. Aliás, não é a primeira vez que o músico demonstra abertamente a sua admiração pelo literato, como ele já demonstrou no livro Gajes del oficio, de Brouwer, lançado em 2007 pelas editoras RiL editores e Vicio secreto.

TRAILER_BROUWER from Producciones Moebius on Vimeo.

No filme, a sombra parece cumprir dois papeis: primeiramente, pelo uso da contraluz, do visual fortemente contrastado e da edição simples, que são elementos que - em boa parte – são responsáveis por criar uma atmosfera "brouweriana" (na visão – em diálogo – das diretoras do documentário). Por outro lado, pela trilha musical, que se vale da vasta produção do músico para diversos formatos (camerístico, corais, orquestrais, violonístico, etc.)

O ritmo do longa é conduzido pelo seu único protagonista: Leo Brouwer. Esta é uma das características mais logradas do documentário, pois se trata de um esforço de uma equipe muito compacta de produção (cinco pessoas em total) e um músico que é quase uma lenda viva e, como tal, apresenta muitas arestas para abordá-lo. O corte final do filme é uma delas e, contudo, a cada vez que se assiste, é possível tirar outras leituras, compreender as várias sombras do compositor-protagonista.

 

*Fernando Llanos é violonista, professor e doutor em Musicologia. Professor na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, lecionou nos cursos de Licenciatura em Música (FACCAMP/SP) e Cinema e Audiovisual (São Judas – UNIMONTE). É autor do livro Félix Casaverde, guitarra negra (Ed. UPC, Peru) e do disco Por guitarra negra (Tratore, 2017) com temas autorais afro-andinos e arranjos do Hermeto Pascoal.

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