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Discos e partituras para marcar o aniversário de Francisco Mignone

Postado em Coluna Alessandro Soares em 06/09/2024

Por Alessandro Soares

Em setembro o Acervo sempre destaca o aniversário de nascimento do grande compositor paulista Francisco Mignone (1897-1986). Nascido no dia 3, ele é autor de algumas das melhores obras para violão, a exemplo das 12 Valsas para Violão, dos 12 Estudos para Violão, além de um Concerto para Violão e Orquestra e 5 peças para Dois Violões, que são mais conhecidos como os Manuscritos de Buenos Aires. Um aspecto bem interessante é que, de uns anos para cá, tem aumentado significativamente o lançamento de discos e partituras sobre o compositor. Alguns desses títulos estão disponíveis na Loja Violão Brasileiro.

Os 12 Estudos foram compostos por Mignone em 1970, dedicado a Carlos Barbosa Lima, que os lançou em LP, em 1978. Após um bom tempo esquecidos, os 12 Estudos de Mignone passaram a ter novas interpretações em discos como Fabio Zanon – Francisco Mignone’s 12 Etudes for Guitar, pela GuitarCoop. Além de interpretar magistralmente os 12 Estudos, Zanon também gravou mais dois temas de Mignone: Lenda Sertaneja e Canção Brasileira.

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Como o próprio Zanon afirma no texto do encarte do disco, os 12 estudos foram compostos em 1970, num momento em que Mignone retoma uma ideia de nacionalismo da década de 1920, que soava fora de moda para a geração mais jovem. "Hoje, essa fluência com que ele transita entre uma inspiração nostálgica, ingênua e/ou sentimental e um controle certeiro do desenrolar da composição faz desses estudos uma obra que reinventa o próprio gênero do estudo para violão, afigurando-se como uma resposta moderna ao conceito lisztiano de estudo transcendental".

Antes de Zanon, Flávio Apro gravou o mesmo ciclo no CD importado Flávio Apro – Doce Estudios para guitarra de Francisco Mignone. (Selo Tempus) Por sinal este disco é exclusivo da Loja Violão Brasileiro.

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Já As 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudo, que Mignone escreveu também em 1970, é dedicada a Isaías Sávio. As 12 Valsas de Mignone foi tema de mestrado por Flávio Barbeitas (1996) e de doutorado por Edelton Gloeden (em 2003). Edelton Gloeden fez a primeira audição integral das 12 Valsas de Mignone e a gravou em disco, em 2018, pelo Selo Sesc. Era grande a expectativa de esta obra ser registrada em CD. E Edelton o fez.

O Concerto para Violão e Orquestra já foi tocado por grandes concertistas e foi tema de doutorado por Maurício Orosco (2013).

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Um capítulo que também merece destaque são as partituras das As Cinco Peças Para Dois Violões (ou Manuscritos de Buenos Aires), que foram lançadas em disco por Fernando Araújo e Celso Faria (2021). No mesmo CD, Fernando Araújo e a soprano Mônica Pedrosa gravaram as Canções para Violão (2021).

As partituras das Cinco Peças Para Dois Violões foram publicadas pela editora Tipografia Musical, que também se encontra disponível na Loja Violão Brasileiro. O livro físico tem 54 páginas, incluindo um rico texto do professor e violonista Sidney Molina, fundador do Quaternaglia e crítico da Folha de SP. As partituras são em edição Urtext (pautada nos manuscritos do grande compositor).

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Filho de imigrantes italianos, Franciso Mignone começou a estudar música com o pai, o flautista Alferio Mignone, ingressando em seguida no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde teve aulas com Luigi Chiaffarelli e Agostino Cantú, tendo como um de seus amigos Mário de Andrade. Adepto não apenas da música clássica, escreveu várias músicas populares, sob o pseudônimo de Chico Bororó. Aos 15 anos de idade foi premiado num concurso interno do conservatório, diplomando-se em 1917 em flauta, piano e composição. No ano seguinte, estreou no Rio de Janeiro como solista do Concerto para Piano e Orquestra, de Grieg.

Após ganhar um bolsa de estudos para estudar em Milão, na Itália, compôs a primeira ópera, O Contratador de Diamantes. Entre 1927 e 1928 viveu na Espanha, continuando a carreira de compositor com obras como Maxixe. A amizade com o principal intelectual paulista, Mário de Andrade, resultou na mudança de concepção artística e na colaboração em projetos musicais como Festa nas Igrejas e Maracatu do Chico Rei.

Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro. Lecionou no Instituto Nacional de Música e, 15 anos depois, assumiu a direção do Teatro Municipal. Em 1950 compôs a trilha sonora para Caiçara, de Alberto Cavalcanti, clássico do cinema brasileiro. Na década seguinte, começou a compor obras atonais, voltando a compor em estilo nacionalista na década de 1970, incluindo suas principais obras para violão. Foi membro da Academia Brasileira de Música e fundador do Conservatório Brasileiro de Música.

Em 1970 foi apresentado ao violonista Carlos Barbosa Lima, pelo professor do mesmo, Isaías Sávio, e assim nasceu o interesse do compositor pelo violão. Até então, havia composto apenas Modinha, em 1956, obra dedicada à violonista argentina Monina Távora. Só a partir de 1970 é que Mignone passou a compor para violão. Antes disso, ele não despertava interesse no instrumento. Ainda bem que mudou de ideia e deu contribuição tão rica e produtiva para a literatura do instrumento.

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