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Cristina Azuma realiza projeto sobre violonistas brasileiros no exterior

Postado em Coluna Alessandro Soares em 01/12/2020

Cristina Azuma realiza projeto sobre violonistas brasileiros no exterior - Foto: Cristina Azuma e Celso Machado

(Cristina Azuma e Celso Machado, em São Paulo, 1989 / crédito: Heloisa Bortz)

Por Alessandro Soares

Foi num desses dias de setembro. Eu conversava com a grande violonista e pesquisadora Cristina Azuma pelo Zoom e detalhava a dificuldade em gerar notícias sobre músicos que há décadas moram fora do Brasil. Manter no ar o portal do Acervo do Violão Brasileiro sem patrocínio já é desafiador. Bem mais complicado é buscar currículos, levantar fotos, montar fichas de disco e elaborar perfis.

Ela então propôs escrever para o Acervo a respeito de personagens singulares como Celso Machado, Toninho Ramos e José Barrense-Dias, entre outros violonistas brasileiros nascidos entre os anos 1930 e 1950 e que trabalham na Europa e no Canadá. Residindo na França desde o começo da década de 1990, Cristina citou outros nomes de trajetórias artísticas incríveis, mas sem muita circulação no Brasil. Pois esse projeto começa a sair do papel nesta semana. A iniciativa inclui formatos variados (verbetes, entrevistas, levantamento de imagens, lives e vídeos), que serão publicados pelo Acervo.

Cristina Azuma realiza projeto sobre violonistas brasileiros no exterior - foto: Toninho Ramos

(Toninho Ramos)

O primeiro texto será publicado em dezembro e vai ser dedicado a Toninho Ramos, que é o que tem menos informações disponíveis na internet. Nascido em São Paulo em 1942, foi aluno de Geraldo Ribeiro, gravou o primeiro LP solo em 1962 e acompanhou diversos cantores, entre eles Martinho da Vila, com quem fez turnê na Europa em meados dos anos 1970.

Desde então Toninho mora na França. Segundo Cristina Azuma, ele já trabalhou como instrumentistas em boates e fez turnê pela Eurpora com grandes músicos brasileiros. Estudou composição clássica na École Normale de Paris, com Tony Hobin. “Impregnado de música brasileira, com influências da música clássica, free jazz e música atonal, ele desenvolve um estilo bem pessoal de tocar e de compor, extremamente rítmico e harmônico, com muita liberdade de improvisação”, diz.

Cristina Azuma realiza projeto sobre violonistas brasileiros no exterior - capa LP Celso Machado

Outro grande nome que será divulgado pelo Acervo por meio dos levantamentos de Cristina Azuma será Celso Machado, que mora no Canadá. Despontando no cenário musical a partir do LP Brasil, Violão (gravadora Marcus Pereira, 1978), ele também é percussionista, e compositor inspirado, tendo gravado com Azuma o CD Mistérios do Rio Lento

Logo no primeiro e fantástico LP de Cristina, gravado em 1986, já constam as peças Parazula (de Celso) e São Jorge (de Hermeto Paschoal), com arranjo para violão solo assinado também por Celso Machado.

Cristina Azuma realiza projeto sobre violonistas brasileiros no exterior - foto: José Barrense Dias

(José Barrense Dias)

O terceiro músico que será tema do projeto é o baiano José Barrence-Dias. Nascido em 1932, em Angico (BA),  ele se interessou por poesia e música muito cedo. Após a morte da mãe, que o marcou profundamente aos 15 anos, mudou-se para São Paulo. Tocava violão “de ouvido”, depois estudou solfejo e começou a ganhar dinheiro tocando na noite. Anos mais tarde, alguns amigos o convidaram para uma turnê na Itália, onde fizeram sucesso. Depois Suiça e na França.

Em 1965, instalou-se em Nyon e começou a carreira solo. O primeiro disco é de 1969. No ano seguinte, passou a trabalhar como professor de violão no Conservatório de Genebra, onde permanece por 32 anos. Naquele momento ele foi o único guitarrista canhoto da história do violão que se tornou professor de um grande conservatório de música. Barrense Dias desenvolve um estilo original, inspirado na cultura do seu país. Em 2007, publicou um livro sobre os 50 anos de carreira. E é autor do método La guitare brésilienne (Éditions Henn).

Aos poucos, Cristina Azuma pretende acrescentar mais músicos ao projeto e de gerações mais recentes, a exemplo de Dagoberto Linhares, Silvia Ocougne e Nelson Veras. São violonitas de áreas musicais bem diferentes e que dão uma pequena mostra aos leitores do Acervo sobre a produção desses brasileiros que residem em outros países.

Todo esse trabalho representa uma contribuição inestimável de Cristina para o Portal, que por falta de patrocínio institucional requer constantemente soluções muito criativas para continuar produzindo e divulgando os atores do nosso querido instrumento. Cristina tamabém reúne um raríssimo talento musical, conhecimento muito vasto e sugestões ideais para coordenar, fazer a curadoria e escrever sobre o tema.   Certamente o Acervo ganha a partir de agora uma parceira bem mais que especial.

Ajude a preservar a memória da nossa cultura e a riqueza da música brasileira. Faça aqui sua doação.