Choros paulistanos para violão do início do século 20 são analisados por Flavia Prando
(Flávia Prando)
Por Alessandro Soares
A pesquisadora e violonista Flávia Prando segue firme revelando novidades quanto à impressionante quantidade de obras inéditas e biografias de compositores que ela vem descobrindo. No campo da luteria também. Pois nesta quarta-feira (09/10), às 15h30, ela realiza o workshop musicado Os choros paulistanos para violão, no Auditório Zequinha de Abreu – EMESP Tom Jobim (Largo General Osório, 147, Luz), no centro de São Paulo.
No encontro, Flavia vai abordar aspectos menos conhecidos desse período rico e diversificado da história paulistana, no contexto do início da fonografia (início do século XX), do surgimento da radiofonia na cidade (1924), indo até a década de 1930.
Além da palestra, ela vai tocar três a quatro peças de compositores pioneiros, a exemplo de João dos Santos (1886-1950), Laroza Sobrinho (1905-1960) e Aimoré (1908-1979). São personagens e obras que ela descobriu em sua vasta pesquisa, dentro de um repertório recuperado através de gravações e partituras manuscritas e impressas, que formam a série de livros de partitura e o álbum digital Violões na Velha São Paulo.
O workshop integra o projeto Contos e Cantos do Violão em São Paulo, realizado pelo Acervo Violão Brasileiro e contemplado pelo Edital ProAc edital 45/2023.
No evento desta quarta (09/10), Flavia vai destacar diferenças e peculiaridades entre o choro produzido em São Paulo e o choro carioca, que era considerado modelo. “Depois, a partir dos anos 1920 e 1930, com o sucesso das emissoras de rádio, o choro do Rio passa a influenciar os paulistas também. Mas no começo do século 20 o gênero do choro em São Paulo tem formato mais curto, de duas partes. Enquanto na então Capital Federal os temas tinham três partes e a coisa toda”, compara.
Prando exemplifica isso citando grandes compositores paulistas, que nem Garoto (1915-1955), Aimoré e Antônio Rago (1916-2008). “Os choros criados por eles são de duas partes, inclusive a maioria dos temas compostos por Armando Neves (1902-1976), exceto talvez nas parcerias com João Pernambuco (1883-1947). João é essa figura que influencia muitos compositores, em várias partes do Brasil”.
Há também outras características que diferenciam esse tipo de música instrumental na terra da garoa e em terras fluminenses, segundo Flávia Pranto. “Além de serem mais curtas, as músicas produzidas em São Paulo são na forma ABA, ao invés da forma rondó. E há predominância da tonalidade menor. “É um choro mais nostálgico, que tem a ver com as tradições mais rurais e também com essa grande influência italiana, que incorporou as modinhas, os tanguinhos e da serenata, das coisas plangentes. Esse aspecto é até citado pelo cavaquinista e pesquisador carioca Henrique Cazes”. Flavia lembra ainda o quanto os italianos foram os primeiros membros das rodas de choro em São Paulo, ao contrário do Rio.
Entre outras particularidades, Flavia destaca ainda que o choro paulistano tem instrumentação diferente, com a presença de violino e acordeon, incorporados aos conjuntos de choro. “Isso interfere para que o choro de São Paulo seja menos sincopado que o choro carioca. Essas são algumas diferenciações observadas não apenas por mim, mas também por outros pesquisadores.
Tais distinções começam a mudar um pouco a partir dos anos 1940, com a consolidação da indústria fonográfica e da chamada Era de Ouro do rádio, em a música brasileira como um todo passa ter forte influência da música produzida no Rio, que sediava as principais gravadoras e as emissoras de rádio mais potentes. “Depois disso, os choros vão ficar um tanto homogêneos. Mas ainda guarda alguma coisa de temática paulistana”.