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Centenário de Paulo Vanzolini é marcado em show de Mônica Salmaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira

Postado em Coluna Alessandro Soares em 17/04/2024

Centenário de Paulo Vanzolini é marcado em show de Mônica Salmaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira - Foto: Paulo Vanzolini

(Paulo Vanzolini)

Por Alessandro Soares

“Faz parte da felicidade do homem não carregar sua vida nas costas. Eu não tenho um recorte de jornal sobre mim. Não tenho meus discos, não tenho nada. A minha música eu faço para ser sempre a música de amanhã”. Esta frase de Paulo Vanzolini (1924 - 2013) diz muito sobre seu jeito de tocar a vida. Ao mesmo tempo, gera um certo contraste com a ideia que tive em fazer um tributo ao centenário dele em forma de show. Será nesta sexta (19/04) e sábado (20), às 20h, e domingo (21), às 18h com as cantoras Mônica Salmaso e Roberta Oliveira e o compositor Eduardo Gudin, no Sesc Santana, na zona norte de São Paulo. Os ingressos já estão esgotados.

INGRESSOS ESGOTADOS

Centenário de Paulo Vanzolini é marcado em show de Mônica Salmaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira

Ao que se saiba, este é o único show até o momento que está marcando o centenário de Vanzolini, que nasceu em 25 de abril de 1924.  O elenco será acompanhado por Paulo Aragão (violão 8 cordas), Carlos Chaves (violão e cavaquinho), Guilherme Lamas (violão 7 cordas), Leandro Tigrão (flauta transversal) e as percussionistas Gisah Silva e Simone Gonçalves. Serão feitas releitura dos principais sambas e canções de Paulo Vanzolini (1924-2013), que representa um dos nomes essenciais da música brasileira e um dos cientistas mais respeitados internacionalmente. Eu assino a concepção e direção artística do projeto.

O repertório é formado de sucessos como Ronda, Volta Por Cima, Praça Clóvis, Samba Erudito, Cuitelinho e Na Boca da Noite. E também temas que marcaram a carreira de Vanzolini, como Capoeira do Arnaldo e Mente. Mas estão incluídas músicas menos lembradas (Quando eu For, Eu Vou Sem Pena, Cravo Branco, Bandeira de Guerra, Cara Limpa, entre outras).

Centenário de Paulo Vanzolini é marcado em show de Mônica Salmaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira - Foto: Mônica Salmaso

(Mônica Salmaso)

Nesse encontro de três gerações, vamos evidenciar a grande amizade e parceria de Vanzolini com Eduardo Gudin, que conviveu com ele desde o final dos anos 1960. Também a consagrada intérprete Mônica Salmaso, que já gravou em disco melodias do homenageado. E Roberta Oliveira, jovem representante do samba paulista. Os arranjos musicais, que serão inéditos, vão mesclar contrastes entre momentos de lirismo, sonoridade intimista, a linguagem do universo caipira e a força do samba rasgado.

Dinâmica de palco

A abertura do show será com Eduardo Gudin, considerado por Vanzolini um de seus melhores amigos e parceiro de sambas como Pra Tirar Você do Sangue, Condição de Vida, Longe de Casa e Mente (esta última imortalizada na voz de Clara Nunes). Entre uma música e outra, Gudin vai contar histórias e curiosidades sobre a convivência com Vanzolini nos bares paulistanos, nos saraus que fizeram juntos e nas caminhadas a pé de madrugada. Em seguida, Roberta Oliveira faz forma um duo com Gudin e depois assume o palco, mesclando sambas marcantes, como Bandeira de Guerra e Cravo Branco e sucessos, a exemplo de Ronda e Praça Clóvis.  O terceiro bloco do espetáculo será conduzido por Mônica Salmaso, que vai interpretar temas de Vanzolini já gravados por ela (Samba Erudito e Cuitelinho), além de Quando Eu For, Eu Vou Sem Pena (considerado o último samba que compôs), entre outras boas surpressas. Mônica fará duetos também com Gudin (na música Longe de Casa).

Centenário de Paulo Vanzolini é marcado em show de Mônica Salmaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira - Foto: Eduardo Gudin

(Eduardo Gudin)

É um espetáculo concebido especialmente para o centenário Vanzolini, no qual buscamos produzir memória em forma de novas releituras, num vasto repertório que dimensiona a música desse cientista sambista. Ao longo do show será exibido um vídeo-cenário criativo, formado de imagens e fotos raras de Vanzolini, intercalando com suaves texturas de gravuras, desenho de répteis, efeitos visuais discretos e cenas da boêmia paulistana dos anos 1950, que vão realçar algumas músicas.

Perfil de Paulo Vanzolini

Paulo Vanzolini não era chegado a gravações em disco e preferia que seus sambas fossem cantados de boca em boca, de bar em bar, sem passar pelos discos. “Samba é que nem osso. Tá na rua, vai na boca de qualquer cachorro”, dizia.

Um dos zoólogos mais respeitados do mundo, que por 50 anos foi diretor de Zoologia da Universidade de São Paulo (De 1963 a 1993), Vanzolini cantava desafinado e, segundo o amigo e violonista Paulinho Nogueira, era como “um cavalo numa missa em latim. Não entendia nada de música”. E como ele criou melodias tão belas? Já seu lado intelectual e a paixão pelos versos o tornou um cronista social ímpar, a ponto de inventar a frase “dar a volta por cima”, que depois se tornou provérbio, expressão popular. Um poeta da vida noturna, dos pequenos botecos, dos prostíbulos. Vanzolini não se sentia compositor. Ele se sentia gente da noite, daqueles que carregam o bar nas costas. E era muito bem quisto pela irmandade da noite.

Centenário de Paulo Vanzolini é marcado em show de Mônica Salmaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira - Foto: Roberta Oliveira

(Roberta Oliveira)

Em meados da década de 1940, Vanzolini serviu na cavalaria do exército patrulhando a zona boêmia de São Paulo. Anos depois transformou essa experiência no livro de poemas “Tempos de Cabo”, que há muito tempo está esgotado, mas seus fãs declamam os versos.

O primeiro sucesso de Vanzolini foi “Ronda”, lançado por Inezita Barroso. Em seguida veio “Volta Por Cima”, em 1962, gravado pelo cantor Noite Ilustrada. Depois foi a vez de Luiz Carlos Paraná lançar outras melodias do amigo zoólogo. Em 1967, saiu o antológico LP “Onze Sambas e Um Capoeira”, com vários artistas. Em 1974, Toquinho fez o disco “Boca da Noite”, em que apresenta três parcerias ao lado de Vanzolini (“Noite Longa”, “No Fim Não Se Perde Nada” e o tema que dá nome ao disco). No mesmo ano, Carmen Costa e Paulo Marquez gravaram o LP “A Música de Paulo Vanzolini”.

(Paulo Aragão)

Dali em diante, o mestre seguiu colecionando parceiros, embora parecia não precisar deles, segundo Gudin. É que a maioria de seus sucessos ele fez sozinho. Ainda nos anos 1970, Vanzolini recolheu um tema folclórico chamado Cuitelinho, que depois foi lançado por Nara Leão. Ele teve acesso a essa música pelo amigo Antoninho Chandon, no rio Paraná, que por sua vez aprendera de um pescador chamado Nhô Augustão. Só havia os dois primeiros versos. “Eu sempre achei que faltava mais um e fiz o terceiro”, afirmou. 

Em 2002, a música de Paulo Vanzolini foi contemplada com a caixa de quatro CDs Acerto de Contas, reunindo 52 canções com vários intérpretes. Até o fim da vida, o zoólogo e compositor foi sempre um pensador, boêmio e autor de divertidas frases. “Eu fiz ‘Volta por Cima’ como se faz um samba. E foi interpretado aí como se fosse uma espécie de psicoterapia. Então eu recebo cartas de pessoas me falando que essa música mudou a vida delas. Isso é pavoroso pra mim. Eu não sou psiquiatra. Sou zoólogo e sambista e negócio de ‘Volta Por Cima’ não foi feito pra tratar ninguém.”

Serviço:

Show Paulo Vanzolini 100 Anos – Sacode a Poeira

Local: Sesc Santana (Av. Luiz Dumont Villares, 579 - Santana, São Paulo)

Dias de show: 19, 20 e 21 de abril

Cantores: Mônica Samaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira

Músicos acompanhantes: Paulo Aragão, Carlos Chaves (violões e cavaco), Gisah Preta e Simone (percussão), Leandro Tigrão (flauta transversal), Guilherme Lamas (violão 7 cordas)

Direção artística, curadoria e pesquisa: Alessandro Soares

Coordenação de produção: Elcylene Leocádio

Produção executiva: Igor Fearn

OBS: Os ingressos estão esgotados para os três dias de show

Centenário de Paulo Vanzolini é marcado em show de Mônica Salmaso, Eduardo Gudin e Roberta Oliveira - Foto: Carlos Chaves

(Carlos Chaves)

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