Cavaquinistas de várias gerações e estilos fazem shows e oficinas em festival no Rio
(Luciana Rabello)
Por Alessandro Soares e Geovany Hércules
A partir de agora a linha do tempo do cavaquinho no Brasil está sendo traçada de maneira mais evidente, mais ampla, diversificada e sistematizada. E será preenchida também com as datas desta sexta-feira (22/09) até domingo (24), quando ocorre a segunda edição do Festival Memória do Cavaquinho Brasileiro, idealizado por Pedro Cantalice, Carlos Chaves e Cícera Vieira. Grandes nomes do instrumento, como Luciana Rabello e Jayme Vignoli, e os jovens talentos Lucas Arantes e Messias Britto formam na programação.
A série de workshops e recitais nos três dias de evento será realizada no Centro da Música Carioca Artur da Távola (Rua Conde de Bonfim, 824, Tijuca, no Rio de Janeiro). O valor dos ingressos varia de R$ 50 a R$ 20. Criado com o objetivo de agregar e divulgar a pluralidade artística referente a prática do cavaquinho solista no Brasil, o Festival abrange as mais variadas influências sonoras, de várias regiões do país.
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A agenda será aberta nesta sexta-feira (22), às 16h, com o workshop “Vivências com o Cavaquinho” do músico e professor baiano Messias Britto, considerado um dos mais destacados solistas de cavaquinho de sua geração. Britto abordará nesse encontro assuntos como técnicas de solo, improvisação e polifonia ao cavaquinho.
Às 19h da mesma sexta, é a vez da homenagem a José de Alcântara Siqueira, o Mestre Siqueira, cavaquinhista da Velha Guarda da Mangueira. Ele gravou o primeiro disco Entre Nós em 2013, quando já tinha 75 anos. Em 2017, veio o segundo CD, 80 anos e, no ano passado, Mestre Siqueira produziu cinco músicas no EP Encantado (2022).
(Messias Britto)
Logo após a homenagem, às 19h10, o Festival segue com o show de Lucas Arantes, com repertório formado por compositores cavaquinistas e músicas autorais. Referência no estudo do cavaquinho centro e solo, Lucas apresenta músicas de mestres como Mané do Cavaco, Jonas e Luciana Rabelo. Acompanhado por Clarice Magalhães no pandeiro, Guido Tornaghi no violão, Gabriel Veras no violão 7 cordas e Lucas Dal Laqua no cavaquinho, o show abordará diversos ritmos dentro do Choro.
No sábado (23), às 15h, Lucas Arantes vai apresentar o workshop “O Cavaquinho de acompanhamento”, sobre referências dos importantes centristas de cavaquinho com gravações, exemplos práticos e reflexões sobre o fazer musical ao cavaquinho. Às 17, Messias Brito comanda o show com seu cavaquinho de 5 cordas homenageando Waldir Azevedo e passeando por obras autorais e clássicos de Pixinguinha, Garoto, Paulinho da Viola e Jacob do bandolim. Britto será acompanhado por Maurício Massunaga (violão) e Thiago Kobe (percussão).
(Mestre Siqueira)
Luciana e Jayme
E no domingo (24), às 11h, as grandes referências do Choro, Luciana Rabello e Jayne Vignoli, farão um showzão de encerramento. Figura essencial para a evolução do choro e para o papel que o gênero ocupa hoje mundialmente, Luciana tem trajetória artística muito singular, desde quando, aos 14 anos, formou com o irmão violonista Raphael Rabello e outros amigos o grupo Os Carioquinhas, em 1975. O LP deles veio em dois anos depois. Já em 1979, o conjunto deu origem à lendária Camerata Carioca.
Nas incríveis parcerias empreendedoras com Maurício Carrillho, em 2000 Luciana criou a Acari Records, considerada primeira gravadora de choro e a Escola Portátil de Música. Em 2015, ela fundou com seus colegas a Casa do Choro, que abriga o maior acervo de choro do mundo. Luciana Rabello tem dois discos autorias, Luciana Rabello (2000), como solista de cavaquinho e Candeia Branca (2014), como compositora. Ao longo da carreira ela já participou de centenas de gravações cavaquinista. Então ver um show de Luciana é uma forma de conferir toda essa história.
(Jayme Vignoli)
Outro espetáculo especial é o do cavaquinista, compositor e produtor Jayme Vignoli, que também tem muita história pra contar. Na profissão desde os 17 anos, iniciada em 1984, ele já participou de inúmeros grupos musicais, como a Orquestra de Cordas Brasileiras e o Água de Moringa, ambos vencedores de prêmios Sharp nos anos 1990. Jayme também atua no grupo Caldereta Carioca. Já rodou o mundo em turnês, além de ter feito direção musical e composto trilhas sonoras de diversos projetos.
Primeira edição
Segundo Carlos Chaves em depoimento ao Acervo Violão, a ideia do Festival Brasileiro surgiu quando quis fazer show de lançamento de seus dois últimos discos, Cavaquinho Só e Acalantos de Um Cavaquinho (ambos de 2021). Ao invés de fazer apenas um recital, ele pensou, junto com Rubens (do Centro da Música Carioca Artur da Távola), em criar um festival sobre o instrumento. Chaves então convidou Pedro Cantalice, que topou na hora e, assim, nasceu a primeira edição, em setembro de 2022, com os cavaquinhistas Abel Luis, Mestre Siqueira, Ronaldinho do Cavaco, Pablo Araújo, Léo Benon e Henrique Cazes, numa sequência de quatro domingos pela manhã.
(Carlos Chaves)
Esta segunda edição está concentrada num único final de semana, conciliando workshops e shows. “O Festival nasceu dessa vontade de divulgar o cavaquinho como instrumento solista, não só tocando sozinho, mas tocando em grupo também. E com isso mostrar a multiplicidade e possibilidade do que ele pode fazer, tirar ele da margem, onde uma vez o violão também se encontrou”.
Memória do cavaquinho
Em entrevista ao Acervo Violão, Pedro Cantalice revela que a proposta do festival foi pensada em 2019, junto com o projeto Memória do Cavaquinho Brasileiro, que ele coordena por meio de um canal no YouTube, na qual publica gravações raras de cavaquinhistas de todo o Brasil. Com o passar do tempo, a empreitada foi ganhando mais parceros. “Eu gosto muito de resgatar, mas acho que a memória a gente tá fazendo agora também, reunindo os músicos que estão atuando em várias partes do Brasil”.
(Pedro Cantalice)
Pedro Cantalice é o primeiro bacharel de cavaquinho do país, formado em 2018. De lá pra cá, ele vem convivendo com mestres cavaquinistas, ouvindo suas histórias, tomando nota de personagens importantes, mas atualmente esquecidos. Aos poucos, Pedro foi colecionando muitos arquivos digitais e os publicando periodicamente no Youtube. “Formamos um público de seguidores e apareceram familiares de músicos que tocavam cavaquinho. Depois passei a ser convidado a dar palestras, a ser consultado para pesquisas. E um pedido que muitas pessoas têm feito também são partituras. Eu e outros músicos que gostam do canal já fizemos transcrições”.
Tudo isso está desagando na criação de um site, que será lançado em novembro. É o Banco de Partituras Memória do Cavaquinho Brasileiro. “Nosso foco inicial são as partituras. Mas aos poucos vamos diversificar os compositores, novos e antigos e abrigar um acervo com tudo relacionado ao cavaquinho. Esse trabalho é inspirado no Acervo do Violão Brasileiro e no Instituto Piano Brasileiro’, afirma. Assim, a linha do tempo do cavaquinho vai ficando cada vez mais rechonchuda.
(Lucas Arantes)
Serviço
Festival Memória do Cavaquinho Brasileiro
Local: Centro da Música Carioca Artur da Távola. Rua Conde de Bonfim, 824. Tijuca, Rio de Janeiro.
Datas: 22 a 24 de setembro
Ingressos no link: https://linktr.ee/memoriadocavaquinho
Programação:
Sexta-feira, 22 de setembro
16h - Workshop com Messias Britto;
19h - Homenagem ao Mestre Siqueira
19h10 - Show com Lucas Arantes.
Sábado, 23 de setembro
15h - Workshop com Lucas Arantes;
17h - Show com Messias Britto.
Domingo, 24 de setembro
11h – Show com Luciana Rabello e Jayme Vignoli.