Baden Powell, afro-sambas e jazz na música brasileira, na visão de quatro pesquisadores
Neste mês de agosto em que celebramos o aniversário de nascimento de Baden Powell (1937-2000), recomendamos a leitura de quatro ótimos estudos acadêmicos que constam na Biblioteca do Acervo Digital do Violão Brasileiro, cada uma com abordagens bem diferentes: Baden Powell e o jazz na música brasileira, realizado por Marcelo Brazil; O Violão de Baden Powell, de Nelson Fernando Caiado; O violão acompanhador: os arranjos do disco Afro-Sambas de Paulo Bellinati e Mônica Salmaso, escrito por Samuel da Silva, e Baden Powell à Vontade: arranjos de violão solo, de Gustavo de Medeiros.
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Na dissertação Baden Powell e o jazz na música brasileira, o autor Marcelo Brazil foca a obra instrumental de Baden, que incorporou em suas músicas tanto a tradição da música popular quanto as inovações do jazz. A primeira metade da década de 1960 retrata essa diversidade, revelando dois movimentos musicais distintos ocorrendo simultaneamente: a bossa nova, que privilegiou as canções e as interpretações contidas, e o samba-jazz, que explorou o virtuosismo dos executantes no uso da linguagem instrumental. Baden Powell assimilou essas informações e partiu para a Europa, onde criou uma forma de expressão pessoal que marcou toda a sua obra.
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Já O Violão de Baden Powell, de Nelson Fernando Caiado, analisa possíveis razões ao aparente fato de existirem poucas composições no gênero samba que tenham sido concebidas essencialmente como música instrumental. A pesquisa busca também exemplos de compositores e intérpretes que tenham sambas com essa característica específica. Neste contexto, o compositor e violonista Baden Powell deve ser uma das principais exceções.
No caso da pesquisa O violão acompanhador: os arranjos do disco Afro-Sambas de Paulo Bellinati e Mônica Salmaso, Samuel da Silva aborda a trajetória histórica e musical do violão acompanhador no âmbito da música popular brasileira com vista a elaborar um estudo de caso do disco Afro-sambas do violonista Paulo Bellinati em parceria com a cantora Mônica Salmaso. Samuel ressalta o trânsito e a presença ativa do violão por diversas classes sociais, assim como os executantes que se dedicaram ao instrumento desde os primeiros registros fonográficos. Além disso, a pesquisa em fontes discográficas retrata características do acompanhamento realizado por intérpretes representativos do cancioneiro popular ao longo do século XX.
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Para a análise dos arranjos das canções Labareda, Consolação e Canto de Xangô (todas de Baden Powell e Vinícius de Moraes), Samuel da Silva adotou a metodologia proposta pelo musicólogo Phillip Tagg (1982 e 1999). O perfil dos arranjos relevou que o disco pode ser considerado fruto de uma mediação cultural entre as duas tradições principais do instrumento, a do violão solista e de acompanhador.
Em Baden Powell à Vontade: arranjos de violão solo, Gustavo de Medeiros trabalha os recursos técnicos utilizados no LP Baden Powell À Vontade (Elenco, 1963) e elabora novos arranjos para violão solo fazendo uso prático desses mesmos recursos. O pesquisador analisa transcrições de 3 faixas integrais e em trechos das outras 7 faixas, com a proposta de de identificar quais os recursos mais recorrentes, como ocorrem as interações entre essas técnicas, quais as suas possibilidades variativas - frequentemente de inclinação rítmica - e de que maneira ocorre a exposição de elementos contrastantes.
Gustavo procura também relacionar os recursos com a concepção, a estética e a trajetória de Baden Powell partindo de sua biografia e estudos musicológicos já realizados sobre o intérprete.