As cordas brasileiras no 39º Festival Internacional de Música de Londrina
(André Siqueira. Créditos: Íris Zanetti)
Por André Siqueira
A ideia de uma identidade nacional a partir dos instrumentos de cordas dedilhadas me parece fascinante. Violões, viola caipira, bandolim, cavaquinho e guitarra elétrica vieram de outras paragens e se reinventaram tecnicamente a partir de nossa música e de nossas tradições. São revolucionárias as soluções dos músicos brasileiros ao vencerem barreiras das formas tradicionais de execução e alcançarem nuances rítmico-harmônica-tímbricas que nossa música exige.
Atualmente o Brasil tem músicos com uma marca e um nível de execução-criação nesses instrumentos que salta aos olhos (para não falar dos construtores-artesãos). E essa marca está muito bem representada no 39º Festival Internacional de Música de Londrina. Com uma demanda cada vez maior de alunos e público, os cursos, workshops e shows do festival atraem cada vez mais a produção híbrida e entre fronteiras de nossa música, que neste ano terá uma parcela importante das cordas dedilhadas.
(Camilo Carrara)
Nesta edição, por exemplo, teremos Camilo Carrara, que ministrará o curso de violão que traz em sua alcunha a essência de nossa música atual: Erudito/Popular. E mais um show memorável com Marco Pereira e Paulo Belinatti tocando seus “Xodós”, além de ministrarem um workshop de arranjo para violões. Dois dos maiores nomes do violão brasileiro, Marco e Bellinati são responsáveis pela criação de um caminho. Ou seja, se hoje fazemos nossa música no violão é porque eles abriram esse espaço.
O Iroko Trio também estará presente com a talentosíssima Elodie Bouny, que coloca seu refinado violão junto ao violino de Carla Rincón e a sanfona de Marcelo Caldi em um espetáculo que promete ser belíssimo. Teremos ainda o violeiro João Paulo Amaral ministrando o curso de viola caipira e o grande talento da guitarra brasileira, Nelson Faria ministrando o curso de guitarra elétrica e prática de MPB.
O grupo Água de Moringa, que há muitos anos é uma grande referência na linguagem do Choro, vem realizar o show de lançamento de seu disco de 30 anos de carreira, trazendo como representantes de nossas amadas cordas: Josimar Carneiro (violão de 7), Luiz Flávio Alcofra (violão de 6), Jayme Vignoli (cavaquinho) e Marcílio Lopes (bandolim), além de Rui Alvim (clarinete) e André Boxexa (percussão).
Na minha opinião, não seria possível (diante do cenário atual de ataque à cultura em nosso país) ter uma programação mais feliz para os amantes desses maravilhosos instrumentos e da música brasileira. Isso reflete um movimento, relacionado ao violão, no qual temos militado há alguns anos aqui em nossa cidade.
(Água de Moringa)
O programa radiofônico “Cordas brasileiras”, veiculado entre 2008 e 2010 na rádio da Universidade Estadual de Londrina, trouxe ao público inúmeros trabalhos que por aqui não chegavam pelos meios tradicionais e agora o projeto de extensão, de mesmo nome, me dá muitas alegrias como coordenador, trazendo a possibilidade de expandir o território do violão em nossa terra vermelha, colocando-o em um território híbrido entre diferentes linguagens, abordagens e perspectivas.
Ao convidar nomes como Conrado Paulino, Carlos Walter e mais recentemente, Tabajara Belo para compartilharem sua música, seus conhecimentos e sua trajetória com os alunos do curso de licenciatura em música da UEL, estamos fortalecendo uma cena e apontando possiblidades para os nossos alunos que em muitos casos não tem a possibilidade de um contato presencial com músicos desse métier, por estarmos localizados fora do eixo das grandes capitais.
Eu sempre pensei o instrumento como um meio de chegar às filigranas da Dona Música e tenho visto novos talentos desabrocharem carregando a visão ampla do violão como um importante meio para se expressarem criativamente.
Como disse no início, o violão no Brasil carrega mais que uma técnica, carrega um sentido, um sentimento de nação e um manancial infindável de possiblidades criativas e criadoras. Além da programação oficial do 39º FIML teremos ainda uma programação paralela ocorrendo no circuito gastronômico da cidade, com destaque para o Brasiliano Bar & Cozinha do chef Marcelo Camargo, também violonista, que tem aberto um importante espaço na cidade para a música instrumental brasileira.
Friso que, além dos nomes citados, existe jovens e talentosos instrumentistas trabalhando para que - através de suas cordas dedilhadas - a música brasileira alcance cada vez mais público em nossa cidade.
Agradeço imensamente ao Alessandro Soares (do Acervo Digital do Violão Brasileiro), pela excelente provocação, e ao luthier Nilson De Mari, que além de apoiar vários desses eventos me apoia com sua arte de luthier.
Viva a música brasileira!