A música de Ian Guest para violão é tema de disco, pesquisa e vídeo
(Marcio Luiz 7 Cordas, Ian Guest e Carlos Walter)
Por Fábio Carrilho
O crescente interesse de violonistas brasileiros pelas composições de Ian Guest é um fenômeno inconteste. O músico e professor húngaro radicado no Brasil desde 1957, além de ser uma grande referência no ensino nas áreas de harmonia, arranjo e musicalização pelo método Kodály, tem em seu catálogo mais de 200 composições, as quais vêm recebendo tratamentos violonísticos por artistas diversos. Dentre os trabalhos mais recentes voltados à obra do "professor dos professores" está o EP Ian Guest e o Violão, de Marcio Luiz 7 Cordas, que interpretou quatro arranjos solo de obras do compositor que transitam, principalmente, pelo universo do choro, tendo como convidado o violonista Carlos Walter em uma das faixas, totalizando assim cinco músicas.
O EP Ian Guest e o Violão é resultado da pesquisa de mestrado de Marcio pela Universidade Federal de São João del-Rei, cuja defesa ocorreu ontem (03/03). "Na minha dissertação apresento arranjos das músicas Serra da Mantiqueira, Choro da Gaivota e 'É Bom Chegar à Mariana para violão de 7 cordas solista. Passo pela biografia do compositor e depois analiso os arranjos. Acho que as músicas que me escolheram, fui puxado por elas. Lago Puelo foi o primeiro arranjo que fiz e os outros três foram choros bem representativos de seu estilo que escolhi a partir do songbook produzido pelo Almir Chediak", revela Márcio, que nasceu em Carmo de Minas e atualmente mora em São João del-Rei.
(Marcio Luiz 7 Cordas)
Além do registro fonográfico e da defesa de mestrado, será lançado um curta-metragem homônimo pelo canal do Acervo Violão Brasileiro no Youtube, com estreia prevista para meados de março. Além disso, em breve o Acervo vai realizar uma live dedicada a Ian Guest, com a participação do próprio compositor, junto com Marcio Luiz 7 Cordas, e do violonista, pesquisador e arranjador Luciano Lima, autor do livro Ian Guest: música para violão, publicado pela editora do Acervo e à venda com exclusividade na Loja Violão Brasileiro.
Amizade
A relação de grande proximidade com Ian Guest, residente desde 2014 na vizinha Tiradentes, remonta à época em que Márcio Luiz foi seu aluno na Bituca, escola de música popular a qual o professor ajudou a fundar e que está localizada em Barbacena, cidade também integrante da região do Campo das Vertentes. "Eu o conheci em 2010 em São João del-Rei no festival Inverno Cultural. Veio dar um curso de Harmonia e me encantei pela sua obra. Em 2013, entrei na Bituca e no ano seguinte o Ian se mudou para Tiradentes. Desde então temos uma convivência bem intensa, de ele vir aqui em casa e eu ir à casa dele, sempre olhando atentamente meus arranjos, minhas músicas, no intuito de uma supervisão", revela Marcio Luiz.
OUÇA O EP NAS PLATAFORMAS DIGITAIS. CLIQUE
Entre os frutos desta parceria duradoura, podem ser contabilizados os violões gravados no único álbum autoral até o momento de Ian Guest, "Aventuras de lápis e borracha: música popular camerística", lançado no ano passado. "É um disco no qual que ele fez todos os arranjos e todas as composições. Gravei os violões e este disco entrou como trilha sonora do filme O Imperfeccionista, longa também do Marcello Nicolato, que conta a trajetória de Ian", relembra.
Estilo das composições
Sobre o estilo composicional dos choros escolhidos, Marcio destaca em Choro para Gavota a brincadeira com a dança francesa gavota. "É totalmente híbrido, em que se mistura a gavota com o choro, tal qual Villa-Lobos fez com sua Gavota-Choro da Suíte Popular Brasileira", comenta. Para o violonista, a música, que parece ecoar temas populares, foi a mais complexa de se arranjar. "Em alguns momentos usei técnicas de harmonização em bloco, em outros destaquei a linha do baixo. Esta música possui essa característica modulatória, com as sessões tendo geralmente mais de um tom", analisa.
O EP foi gravado em São João del-Rei no estúdio El Nino, de Leonardo Avelar, enquanto os registros em vídeo são da produtora Macaca Filmes. "No curta, tem eu e o Carlos Walter tocando as músicas do EP e comentando cada uma delas. Todo esse trabalho foi feito a partir do apoio do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São João del-Rei", destaca o músico, que tocou um violão de tampo de pinho produzido pelo luthier Irineu Cardoso Maia. "Sem dúvida, penso editar esses arranjos em partitura. Três estarão na minha dissertação, mas pretendo lançar um livreto com todos", antecipa.